sexta-feira, novembro 22, 2024
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Elogio à leitura

A idade da maturidade aproxima-se inexoravelmente. Dizem que o homem, aos quarenta anos, passa por um período de profundo exame interior e, a partir dos resultados desse exame, busca novos desafios vitais, sintetizado pela máxima “a vida começa aos quarenta”. Na última semana, meu filho mais velho perguntou-me: “pai, o que você fez até hoje que resume o que você é?”. Respondi imediatamente: “Ler. E vou continuar me resumindo lendo”.

Hoje, para a geração twitter-tablet-smartphone, ler parece um exercício extraordinário, entediante e digno de sugar os miolos do cérebro. Não me estranha. Na minha juventude, para meus pais, a televisão, além de concorrente da leitura, era uma espécie de “a casa do capeta”. Olhando em perspectiva, comento com meus pais que eu tinha razão: naquela época, o máximo que a televisão conseguiu foi deixar uma boa pessoa alienada, a julgar pelos amigos daquele período com os quais ainda mantenho contato. Justamente porque eles não tinham o hábito da leitura para fazer o contraponto aos enlatados made in USA que entupiam a grade de programação dos canais.

Nunca é demais refletir sobre o lugar do livro e da leitura no mundo atual. Atualmente, mais que no passado, onde a televisão reinava sozinha, é indispensável que se proporcione, desde a aprendizagem mais elementar, uma verdadeira educação do gosto pela leitura, à luz da ativa valorização do rico patrimônio literário universal.

Por intermédio do livro, todos aprendemos a ler e a contar, a escrever e a pensar; pelo livro, aprendemos a conhecer os grandes pensadores e os escritores clássicos; pelo livro, aprendemos a conhecer os grandes textos sagrados; pelo livro, aprendemos as lições da história e os avanços da ciência; pelo livro, aprendemos os perenes valores que sempre regeram as sociedades em todos os tempos; pelo livro, aprendemos a sonhar outros mundos; pelo livro, aprendemos a rir, a chorar, a rezar e a amar; pelo livro aprendemos descobrir o que nos cerca; pelo livro, enriquecemos nossa linguagem, alimentamos uma fome de imaginário e educamos nossas emoções; no fundo, pelo livro, descobrimo-nos a nós próprios.

O livro e a leitura são instrumentos essenciais de exercício de inteligência, comunicação e informação. Afinal, o livro e a leitura moldaram definitivamente a nossa memória e identidade individuais e coletivas, bem como a nossa visão do mundo.Aliás, nunca repetimos a leitura de um mesmo livro, porque sempre somos diferentes no ato concreto da leitura. Gosto muito de uma definição de livro de Romano Guardini: um pequeno objeto irrepetível e cheio de mundo.

Em minha profissão, ler é muito importante para uma melhor expressão oral e escrita, comunicação, capacidade argumentativa e, de certo modo, maior expectativa de vida, afinal, como dizia Popper, convém que as opiniões enfrentem-se para que as pessoas não tenham que se enfrentar… Um homem lido é um homem mais maduro e mais livre, porque sabe ter uma posição crítica diante da realidade da vida. É por isso que, no passado, governos ditatoriais, regimes totalitários e fundamentalismos religiosos sempre buscaram queimar livros: como dizia um poeta alemão do começo do século XIX, uma sociedade que começa queimando livros acaba por exterminar pessoas. Dito e feito.

Ler, definitivamente, é uma necessidade existencial do espírito humano. Solitária, íntima e silenciosa: uma solidão, uma intimidade e um silêncio vibrantes, porque animados pela vida da palavra.Sem dúvida, nos dias atuais, se, para muitos, ler ou não ler é uma tremenda questão, para mim, é a melhor solução. Não a solução final, porque ainda me resta saber se o paraíso celestial será algum tipo de biblioteca com uma eternidade para devorá-la. Com respeito à divergência, é o que penso.

André Gonçalves Fernandes é juiz de direito, mestre em filosofia e história da educação, pesquisador, professor do IICS-CEU Escola de Direito, membro da Comissão Especial de Ensino Jurídico da OAB/SP e coordenador do IFE CAMPINAS([email protected]).

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