Em estado de greve, a Santa Casa de Misericórdia de Mogi Mirim espera receber R$ 1 milhão da Prefeitura, valor que representa parte da dívida referente ao atraso da folha de pagamento dos mais de 100 médicos plantonistas que atuam em 20 especialidades dentro do hospital. A dívida total chega a R$ 1,6 milhão. Estão atrasadas as folhas referentes ao mês de julho, que venceu na primeira semana de agosto, e a de agosto, com vencimento no dia 5 de setembro.
Após o corpo clínico da Santa Casa se reunir em caráter de urgência, na noite de quinta-feira, um acordo entre as partes foi formalizado, na tarde de sexta-feira, no Gabinete do Prefeito, com a participação do provedor do hospital, Josué Lolli, e representantes da diretoria, das secretárias municipais de Finanças e Saúde, Elisanita Aparecida de Moraes e Beatriz Gualda, do prefeito Gustavo Stupp (PDT) e do presidente da Câmara Municipal, João Antônio Pires Gonçalves, o João Carteiro (SD).
Segundo Lolli, o valor de R$ 300 mil será quitado na próxima semana, conforme a secretária de Saúde havia adiantado na reunião de quinta. Também ficou acertado que a Câmara irá antecipar a devolução de R$ 700 mil, parte do orçamento remanescente de duodécimos, ao Executivo, que deverá repassar o valor à Santa Casa. O projeto de lei, autorizando a restituição da verba, será feito pelo presidente do Legislativo na manhã de segunda. A proposta deve seguir para votação na noite do mesmo dia, durante os trabalhos da sessão.
De acordo com João Carteiro, após todos os trâmites, o hospital recebe o dinheiro até dia 27 de setembro. Contudo, o restante da dívida, pouco mais de R$ 500 mil, será negociada entre a Administração Municipal e a Santa Casa, na próxima segunda-feira. A Prefeitura também deve quitar o pagamento de R$ 62 mil, sendo R$ 27 e R$ 35 mil, respectivamente, de convênios e procedimentos de cirurgias eletivas que estão atrasados.
Paralisação
A greve será deflagrada caso a diretoria do hospital não pague o restante dos salários até o próximo dia 20. A informação é do sindicato da categoria, o Sinsaúde de Campinas e Região. Em sua página oficial, o sindicato relata que, nos meses de julho e agosto, os trabalhadores receberam os salários fracionados, em três ou quatro parcelas, além disso, a entrega do tíquete-cesta também foi retardada.
“Como a administração pagou 60% dos salários no dia 6 e prometeu depositar o restante, isto é, os 40%, até o dia 20 de setembro, será feita uma assembleia para avaliar se vão manter a posição de paralisação ou não”, disse Isilda Grassi Cola Choqueta, diretora do Posto de Atendimento do Sinsaúde, em Mogi Guaçu.
Reunião
Na noite de quinta, os ânimos ficaram exaltados durante a reunião realizada no Salão Nobre do hospital. Isso porque, além dos atrasos, a Prefeitura, até então, não havia sinalizado um acordo com os plantonistas. O provedor da Santa Casa criticou a atenção que vem sendo dada à Santa Casa pelo Poder Público, uma vez que a instituição cumpre o papel de um hospital municipal, o que a cidade ainda não dispõe.
Conforme explicou Lolli, por exemplo, 80% dos atendimentos, que deveriam ser feitos nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), são realizados pelo hospital, que também dá assistência a cerca de 400 gestantes por mês. “Nesse final de governo, fomos jogados de lado”, afirmou o provedor.
Ainda de acordo com o provedor, a Prefeitura quebrou o acordo de fazer os pagamentos, sem prestar justificativas ou dar previsões do acerto. “O hospital tem cumprido a parte dele. 100% dos serviços estão prestados. Por enquanto, os médicos estão fazendo o trabalho deles. Até quando? Não sei”, avisou Lolli.
Outro lado
Em declaração ao jornal O POPULAR, o prefeito Gustavo Stupp (PDT) disse que reunirá esforços para não deixar estremecer a relação com o hospital. “Desafio qualquer futuro prefeito a conseguir investir mais do que eu investi na Santa Casa”, provocou. Stupp argumentou que administra a Prefeitura diante de uma crise sem precedentes no Brasil.
Ele também destacou que tem feito diversos cortes no Governo Municipal e que os atrasos são resultados de um efeito em cadeia da própria crise. “O país está quebrado, os repasses estaduais e federais não vêm ou vêm bem menos. Não tem nada a ver com irresponsabilidade nossa. A gente tem realizado cortes constantes para manter os compromissos do município em dia”, alegou.
O Chefe do Executivo ainda reforçou que os convênios com a Santa Casa são melhores hoje do que nos anos anteriores ao seu governo. “Com muito mais serviços para a população”, destacou.