Na semana passada, entre quinta e sexta-feira, foi realizado nas Faculdades Integradas Maria Imaculada (Fimi), que fica em Mogi Guaçu, um ciclo de palestras com o tema Memória e Resistência com foco na Ditadura Militar no Brasil. As palestras fizeram parte da oitava semana de História, licenciatura oferecida pela Faculdade, e foram feitas pelo documentarista, jornalista e militante, Alípio Freire, pelo professor doutor Paulo Ribeiro Cunha, que escreve sobre o período e faz parte da Comissão Nacional da Verdade, instituída em maio de 2012 a fim de apurar as violações dos Direitos Humanos ocorridas durante e Ditadura, e pela jornalista e biógrafa, Janes Rocha. As palestras tiveram entrada gratuita.
A primeira noite contou com a participação de Alípio Freire. A presença do jornalista, documentarista e militante atraiu muitas pessoas para o espaço. Essa foi a segunda vez que Freire, que faz palestras em diversas cidades do Brasil, marcou presença na faculdade para passar um pouco de sua experiência para os estudantes e comunidade.
Freire falou, entre vários tópicos, sobre as frentes de resistência. Citou que não foi apenas o movimento estudantil que reagiu à ditadura, mas que outras frentes também se expressaram. Abordou também a questão da exploração da classe trabalhadora, que desde sempre, segundo ele, é pensada como algo a ser massacrado. “Esse período não foi excepcional para a classe trabalhadora e o povo. Os europeus mesmo vieram para cá porque sabiam que tinha terra, não existe acaso e coincidência”, destacou.
Na segunda noite, dividiram o espaço o professor doutor Paulo Ribeiro Cunha e a jornalista e biógrafa Janes Rocha. Cunha tratou sobre os militares à esquerda durante o período ditatorial e também aproveitou para explanar sobre a Comissão Nacional da Verdade, em que atua.
“Estamos falando de militares que foram à luta, que sofreram sérias consequências. Centenas deles foram presos, torturados, expulsos das Forças Armadas. Há muitos militares que se recusaram a assinar documentos, a invadir faculdades e que foram solidários aos presos políticos. Tem que ser esclarecida essa visão para não nos posicionarmos com preconceito. Precisamos separar o joio do trigo”, declarou o professor que na ocasião lançou a obra Militares e Militantes.
Janes trabalhou mais na linha cultural e trouxe ao conhecimento do público informações sobre a vida do compositor e cantor Taiguara, que por conta da Ditadura Militar teve diversos de seus trabalhos censurados até chegar ao ponto de desistir da música. Durante o evento Janes aproveitou, portanto, para lançar seu livro-reportagem chamado Os Outubros de Taiguara, que trata sobre o período.
“A censura era organizada com departamentos para fazer leituras das músicas, das peças de teatro, roteiros de cinema. Todos os artistas tinham que submeter suas obras. Das 140 músicas que Taiguara submeteu ao departamento ele teve 48 vetadas”, disse Janes.
Falando em música, na ocasião os cantores Armando e Rita Morelli também passaram pelo auditório das Fimi na sexta-feira, já que as palestras da noite foram intercaladas com canções clássicas da época da ditadura militar e obras do Taiguara.
“A memória não é apenas para fazer forfé, é para nos indicar o presente e o futuro e fazer uma revisão da nossa própria história”, finalizou Freire.