Volta e meia, fico de saco cheio da minha cara. Enjoei de olhar minha cara no espelho. Corto o cabelo, não muda muito, passo maquiagem, sempre igual, e por aí vai. Gente do céu, faz cerca de 30 anos que me olho no espelho, isso me causa um tremendo enjoo. Vocês já passaram por isso? E pensar que quantos anos ainda vou me olhar nos espelhos por aí! Isso não significa que não gosto de mim e que vou cortar minha cabeça amanhã, virar uma Lud sem cabeça – “folcloricamente” dizendo, mas que cansa um pouco, ah, isso cansa! Queria mudar coisas além de o cabelo, mas como? Não tenho como fazer uma plástica nos lábios ou olhos hoje, e nem faria isso também… Sorte dos homens que têm barba, encheu o saco: raspa a barba. Enjoou, deixa crescer. Dá uma repaginada, pelo menos.
Comecei a rir muito sobre esse tema porque eu li na internet um comentário de uma menina que dizia que aos 13 anos não suportava mais sua cara por conta do enjoo, então ficava imaginando como seria aos 30. Estão vendo, gente, não está fácil para ninguém.
Só sei que vou parar de me olhar no espelho por esses dias. Vou dar aquela respirada e começar a apreciar outras coisas, sei lá, a cara dos outros, por exemplo. Assim como também sinto que é necessário respirar quando as situações passam a nos dar coceira, literalmente dizendo, ou aquele aperto no peito. Quando começamos a sentir umas picuinhas internas, é hora de repensar os caminhos, de deitar na cama, comer brigadeiro e só ver filmes ou programas legais.
Bom, por outro lado, lendo sobre esses assuntos, existe outra abordagem, que é referente à sociedade descartável. Enjoamos do emprego, das nossas roupas, dos nossos relacionamentos, assim como enjoamos em ver, por dez minutos, um determinado canal. Nossa sociedade está tão rápida, que talvez isso que nos cause essa sensação, de insatisfação com tudo que permanece por muito tempo. Tempos difíceis esse.
Realmente, fico preocupada quanto ao futuro. Se a minha geração já sente esse desejo pela mudança de forma rápida, vocês imaginam como estaremos no futuro. Fico me perguntando como serão os textos, as aulas, os filmes, as formas de contratação e até como as plásticas podem se intensificar justamente por conta de as pessoas enjoarem de seus formatos. Com toda certeza, vamos ter muitas mudanças (ou elas serão intensificadas) e eu, que já estarei em outra fase, ficarei abismada, dizendo: onde vamos parar desse jeito? No meu tempo, não era assim. Ah, era sim!
Ludmila Fontoura é jornalista formada pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas, a Puc-Campinas, além de Historiadora e pós-graduada em História Social pelas Faculdades Integradas Maria Imaculada de Mogi Guaçu, as Fimi.
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