Há alguns anos nossas férias em família são sempre entre o Natal e o Ano Novo. Em razão da pandemia, fazia três anos que não viajávamos só nós quatro. Ultimamente cada um tem ido para um lado, eles com os amigos e eu e o Alisson de moto.
Confesso que fiquei ansiosa de como seria. Parece bobagem né, mas embora sejamos eternamente interligados, conforme eles crescem e se tornam independentes, vamos construindo rotinas espaçadas. Cada um vai tendo seu próprio jeito de ver e fazer as coisas. Sem falar, é claro, na questão tempo e sono.
Agora tem coisas que vai ano e vem ano são como são. Dizem que temos que colocar nossos talentos em serviço do mundo, sendo assim, quem quiser ficar mal hospedado é só falar comigo. Jesus amado, eu tenho a manha de escolher lugar ruim, sigo me superando rsrsrs. E claro, isso sempre acaba em rostos desanimados e tretas, até que nos conformamos e vida que segue.
A maior mudança da última vez para esta é que agora somos quatro adultos. Se por um lado os gastos cresceram, por outro está sobrando tempo e estou bem patroa. Agora dividimos quem prepara os lanches, quem monta a geladeira de bebidas, quem vai lavando a louça do café enquanto o outro se prepara.
E a lista só cresce. Como temos a Gabi recém-habilitada, pudemos passar a vez do volante, o que permite aquela cerveja gelada para abrir o apetite ou aquela caipirinha de frente para o mar. Sim, é bom demais ir dividindo responsabilidades, poder sair um pouco do controle, da preocupação absoluta para que todos fiquem bem.
Mas, não são só flores. Confesso que, por vezes, me pego em conflito. Bobeou eu estou lá revisitando aquelas crianças, estou lá querendo aquela vida de antes. E veja, não é infelicidade, de jeito nenhum. Curto demais ir (re) conhecendo-os em cada fase nova. É que tenho a impressão que nós que nascemos para fazer bolo no meio da tarde e andar freneticamente com o carro cheio de gente para a partida de futebol ou ensaio de jazz levamos algum tempo para acostumar com o vazio de uma vida descompromissada.
A lição da história é que a vida acontece nas entrelinhas. Ela não espera, não nos espera. Não há ensaio, já é tudo oficial, tudo valendo. Por isso o caminho da viagem é tão importante quanto o destino, porque não há rascunho.
Por isso, se você é daqueles que está cheio de planos por ser início de ano, se puder te dar um conselho é, “só vai”. Se entre suas metas está praticar atividade física, por exemplo, acredite em mim, terá que ser quase no susto. Não espere ter um horário bem definido, uma roupa alinhada e zero imprevisto.
Deixe uma troca sempre pronta e aproveita aquele momento do dia que está meio que sobrando. Tipo sair do trabalho e ir direto antes de enfrentar o fogão ou acordar meia hora mais cedo e dar aquela corridinha enquanto o mundo dorme. O relógio não para.