A temporada de caça à vaga olímpica está aberta. Os candidatos são de todo o planeta. Independente da condição ou da modalidade, o sonho é estar no seleto grupo de atletas classificados para os Jogos Olímpicos de Tóquio. A capital japonesa receberá a 32ª edição da versão moderna das Olimpíadas e um mogimiriano está com foco total nas passagens ainda em aberto na conexão Brasil-Japão.
Conrado Coradi Lino é o principal representante da equipe Free Play/Sejel nesta batalha. Com as provas dos 200 e 400 medley como principais especialidades, ele vive este ciclo olímpico com intensidade desde o final do anterior, em 2016. No ano passado, muitos testes foram feitos para encontrar o treinamento ideal rumo à seletiva nacional.
De acordo com boletim divulgado pela Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA), a única seleção olímpica para 2020 será realizada no Troféu Maria Lenk. O Campeonato Brasileiro Absoluto de Inverno está marcado para ocorrer entre 20 e 25 de abril, no Parque Aquático Maria Lenk, no Rio de Janeiro.
E lá estará Conrado, brigando ‘baliza a baliza’ com os principais nomes da natação brasileira pelas duas vagas buscadas em cada prova. Após um período até incomum de descanso, consequência do insano ano de 2019, ele volta às atividades focado em colocar Mogi Mirim no mapa da natação mundial. Confira ao lado a entrevista com Conrado.
O POPULAR: Como você avalia este ano de 2019, projetando 2020. Como foram as outras vésperas de ano olímpico?
Conrado Lino: Apesar de eu ter participado de 2012 da seletiva olímpica, não considero como um ciclo olímpico, porque eu nem pensava nisso e nem almejava. Em 2016 sim, foi o meu primeiro ciclo olímpico. Eu comecei um pouco mais tarde do que todo mundo e em 2016 posso dizer que foi mais de conhecimento, de ver o que está acontecendo, o que é esta tal de Olimpíada. É bem interessante porque, parando para olhar para trás, eu nem sabia o que estava acontecendo com a minha vida e agora estou em um ciclo olímpico de verdade. O que difere de 2019 dos outros anos é que foi um ano de muito teste. A gente tirou o ano para fazer análises. Testamos Maria Lenk, polimento diferente, o Finkel e um outro tipo de treinamento e no Paulista um outro tipo de treinamento. Porque a gente precisava fechar o ano para 2020 e definir qual a melhor estratégia para estar nadando e 2019 foi um ano de puro teste. E não só pra gente, mas para muitos outros nadadores.
O POPULAR: O que de diferente você fez neste final de ano e neste começo de ano, sobretudo, em relação a anos não olímpicos?
Conrado Lino: Como 2019 foi um ano de muito teste, não teve tempo de descanso. A gente só testou coisa, testou coisa, testou coisa para fechar o ano para 2020, qual treinamento seria o melhor. Como tiramos 2019 para testar e pensamos muito mais do que fica pensando, este é o primeiro ano que estou descansando três semanas. Aliás, muita gente fez isso. Até não tivemos o Campeonato Open no final do ano para exatamente antecipar estas férias, porque o próximo ciclo de treinamentos será muito intenso. Comi um pouco mais fora do habitual, não deixando de fazer exercício, claro, porque precisa manter o corpo. Fiz uma musculação, uma corrida, joguei algum esporte coletivo, mas nada específico para natação. Só para manter o corpo saudável. Vai ser diferente, bem diferente e agora estou descansado e querendo ‘comer’ água.
O POPULAR: O que você faz daqui para frente? Como será a preparação em termo de treino, aspecto físico e competição antes da Seletiva?
Conrado Lino: Teremos muita água. Muito treino forte na água e muito teste de passagem, teste do que vai fazer nas provas. Um pouco de musculação fora da água para ganho de força, mas sem ganho de hipertrofia, sem ficar marombado, porque precisa estar sempre fininho, porque a piscina pede isso. E muito trabalho de prevenção de lesão, com o Tiago Cardoso na fisioterapia, com a Júlia Passarelli no pilates, que ajuda a preparar o nosso corpo para nadar. Alimentação com a Marta Rochele, algo que o pessoal normalmente anda desencanado, mas, para nós, a recuperação é na alimentação que a gente faz. É gasolina que a gente coloca no corpo. Ainda tem algumas coisas ainda sendo estudadas e é isso, acreditar no trabalho e fazer tudo para dar certo.
O POPULAR: Você já projeta algo do ciclo 2020/2024?
Conrado Lino: Claro que tem um plano de 2024, com certeza. O plano A é agora, 2020 e se rolar tudo certo, em 2024 estamos aí de novo. Hoje em dia a medicina evoluiu muito e cada vez mais os nadadores têm uma carreira mais longa. Em 2016 mesmo, a gente teve um campeão mais velho de uma Olimpíada. Tem o (Bruno) Fratus que já tem 30, o João Gomes Júnior que tem 32, o Felipe França, Guilherme Guido, tudo trintão. Tem o próprio Nicholas Santos que tem 39 anos e é o cara mais velho a bater um recorde mundial. A natação permite hoje uma longevidade e claro que quero usufruir disso. Quero estar na água até o limite.
O POPULAR: E burocraticamente como funciona a questão da seleção dos nadadores brasileiros para a Olimpíada?
Conrado Lino: Funciona assim, o primeiro critério para estar na Olimpíada é ter o que chamam de índice olímpico A, no caso do Brasil. Porque o índice olímpico A é o mais forte e permite dois atletas por prova. O índice olímpico B é mais fraco, mas permite só um por prova. A CBDA fez opção pelo A para poder colocar dois por prova. E este índice é tipo um ‘Top 16’ do mundo. É o mais forte. O primeiro critério é esse, ter índice olímpico. O segundo critério é ficar entre os dois melhores do país, porque só tem duas vagas. Se você for o melhor do país em todas as provas e faz vários índices olímpicos em todas as provas durante o ano, mas na seletiva olímpica, você faz o índice, porém, fica em terceiro, você está fora da Olimpíada. Você tem que estar entre os dois e com o índice olímpico. Se uma pessoa só tem o índice, só uma vai. Se três têm índice, são os dois melhores tempos que vão. É assim que é classificado e só vale a seletiva, que este ano será uma só. Não teremos duas como normalmente é, para que as pessoas mais capacitadas perto da Olimpíada representem o Brasil lá em Tóquio.