Sabem aquele ditado do “todo mundo vê as pingas que eu bebo, mas ninguém vê os tombos que eu levo”? Pois é, ele não só se encaixa para muita gente, como carrega algumas forças. A primeira, a da bebida. O que para muitos afortunados é só diversão, em muitas famílias é o portal para a tormenta.
Pois é, muita gente vê as brincadeiras e piadas do empresário Sidney Coser, reconhecido por sua atuação profissional e, sempre lembrado, por seu perfil descontraído. O que ninguém (ou pouquíssima gente) viu foram seus tombos. Foram muitos. E eles lapidaram não só a figura de um pai de muitos filhos como também possibilitou, por linhas tortas, a aproximação, como filho, de seu pai.
“Eu tenho restrições para falar do meu pai. Saí de casa com 13 anos e meio. Quando ele exagerava na bebida, ficava violento, fora de si e minha mãe sofria muito”. Sidney deixou Mogi Mirim e partiu para Joinville. Na cidade catarinense chegou a dormir três noites no banheiro da rodoviária. Arrumou emprego, amadureceu e voltou para a sua Mogi Mirim com quase 18 anos.
Aos poucos, a vida foi lhe presenteando com filhos. Os de sangue e os de coração, como gosta de dizer. “Procurei fazer o que ele não fazia e não fazer o que ele fazia, principalmente quando quando bebia”. Hoje, se considera um pai participativo e se orgulha de dizer que jamais precisou levantar a voz. “Sempre fiz tudo de maneira calma e transparente, orientando”. Para ele, o segredo para se criar um bom adulto é que a criança tenha, desde sempre, o espelho da harmonia entre pai e mãe.
“Meus filhos nunca ouviram grosseria entre eu e minha esposa. Em 36 anos de relacionamento, jamais dormimos de mal. E se cometem erro, nada de punição. Ninguém comete erro por querer. Aí está a compreensão para nortear, elogiando em público e explicando a sós”, frisou. Aos 63 anos, Sidney já fez de tudo um pouco. Foi garçom, engraxate e trabalhou na roça. “O que eu vendi de bosta de cavalo nas casas você não imagina”, brincou. Hoje é lembrado como proprietário da Bom Pão e pela passagem como presidente da Associação Comercial e Industrial de Mogi Mirim (Acimm).
Mas, nada se compara à missão de criar um filho. De seu sangue vieram Letícia, Renan, Marília e Isabele. Mas há os que também podem chamá-lo de pai com o mesmo orgulho, casos de Rodolfo, Franscisco, William e Leonardo. “Ser chamado de pai por um filho que não foi gerado por você é incrivelmente generoso. Este reconhecimento não há dinheiro que pague. A responsabilidade de ser pai do coração dobra por saber que, ali, não é o seu sangue, mas, o destino de sua orientação e formação não pode ter erros, pois, seus destinos, estão em minhas mãos”.
E eles convivem com a incrível habilidade do pai para transformar tudo em piada. Não, este não é um problema. O bom humor é a marca de quem não carrega mágoas. O sofrimento da infância com as falhas do pai não impediram um final doce para um relacionamento que sempre deveria ter este sabor.
“Em que pese meu pai tivesse sido um homem muito bruto, quando sóbrio, ele me passou decência, seriedade. E isso eu não posso deixar de falar. Foi um homem muito trabalhador”. Anos mais tarde, o pai sofreu um derrame e ele, o filho que saiu para o mundo, foi quem, entre outros tantos cuidados, limpou até suas fezes.
Foi seu parceirão. “Eu tinha um sítio em Jacutinga e levava ele lá, bebia só nós dois, até cair. Ele virou meu amigo de chorar no ombro e acabou falecendo sendo o meu melhor amigo”. Por vias tortas, as pingas, que agora muitos sabem, levou o então menino a tombos que moldaram o adulto de hoje. O Sid do bem é o Sidney dos muitos filhos. Que amou se reunir com o pai de lembranças não tão doces em um sítio.
Que reúne suas doçuras no final de semana para travessuras em uma casa que parece um campo de futebol de tantos filhos. E, se há fermento perfeito, que este esteja em cada herdeiro deste pai de muitos filhos. Sejam aqueles que podem lhe chamar assim ou aqueles que são meros herdeiros do convívio com esta figura ímpar. De pingas e tombos. De piadas que todos vêem e de seriedades que só vê quem precisa.