sexta-feira, novembro 22, 2024
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Especial: Filipe Manara e o passaporte carimbado para o Japão

Estamos nos primeiros dias de um ano importante para o esporte mundial. Em 2020, tem Jogos Olímpicos de Verão. O principal evento esportivo acontecerá desta vez em Tóquio, a capital do Japão. Esta será a segunda vez que o ‘País do Sol Nascente’ receberá a competição. A primeira foi em 1964. Quase 60 anos depois, os melhores esportistas do planeta se reunirão mais uma vez em Tóquio.

A agenda prevê a disputa da Olimpíada de 24 de julho a 9 de agosto. Já entre 25 de agosto e 6 de setembro será a vez da cidade nipônica receber os Jogos Paralímpicos. Na nossa primeira edição de 2020, trazemos um material especial sobre estes campeonatos tão importantes. Afinal, um mogimiriano já está garantido na Paralimpíada. Outro, segue na batalha por uma vaga nos Jogos Olímpicos. Luiz Filipe Guarnieri Manara e Conrado Coradi Lino, são as nossas bandeiras para 2020.

Manara tem passaporte carimbado para o Japão. Conquistou a vaga ao ser medalhista de ouro nos Jogos Parapanamericanos de Lima, no ano passado. A credencial foi confirmada com a presença em outras competições internacionais. Ele vive um ciclo diferente daquele em 2016. Passou por uma fase longe do tênis de mesa, mas voltou com tudo, conquistando não apenas o título citado no Peru, como outros feitos importantes.

Esta será a sua segunda Paralimpíada. No Rio de Janeiro, há quase quatro anos, foi eliminado na primeira fase da categoria individual masculino, classe 8. Ele integrou o Grupo F, ao lado de Andras Csonka, da Hungria, e Linus Karlsson, da Suécia. A competição foi formada por 18 mesatenistas divididos em seis grupos de três atletas.

No Japão, sabe que chegará novamente como azarão. O que pouco importa. Em primeiro lugar está, mais uma vez, na elite mundial da sua modalidade. E mantém o treinamento focado em melhorar o desempenho, esperando, quem sabe, surpreender e até mesmo trazer uma inédita medalha paralímpica para a sua cidade.

O POPULAR: Como será a sua preparação de janeiro até a estreia em Tóquio?
FILIPE MANARA: Estou para voltar na semana que vem para Piracicaba. Certo é que dia 22 ou 23 viajo para o Chile, jogo um torneio lá nos dias 24, 25 e 26. Viajei para a Costa Rica na semana passada. Estes dois torneios preparatórios são a credencial definitiva para Tóquio, independente do título em Lima tinha que jogar, uma questão de número de torneios para poder jogar, mas, já serve também um pouco de preparação. A principio continuo a preparação em Piracicaba, não sei se terá outros internacionais, mas terá outros nacionais. Mas, treinando com meu técnico tentando fazer algo diferente para chegar no nível mais alto possível na paralimpíada e tentar surpreender. Tentar mudar algumas características de jogo, porque lá eu corro por fora, é muito difícil pensar em medalha, mas vou pensando em surpreender.

O POPULAR: Quais os principais aprendizados que levará de 2016 para 2020?
FILIPE MANARA: Acho que o principal aprendizado é saber que a paralimpiada e os jogos olímpicos em geral são eventos diferentes dos outros, em que pode acontecer estas surpresas e tudo mais, porque é um evento a parte. Tanto pela estrutura que tem o evento, como no geral do evento mesmo. Acho que a questão é mais esta. Mas tem outras coisas também como saber lidar com toda esta questão que os jogos paralímpicos traz, mas acho que é mais este. Isto influencia no seguinte, agora em Tóquio eu sei que chego correndo por fora, chego no terceiro grupo de ranqueados da minha classe e sou o mais azarão do grupo, mas, sei que dá para surpreender. Então, a gente trabalha com a cabeça mais firme sabendo que isso pode acontecer. Lógico que, ao mesmo tempo, depende muito do sorteio que acontece dois, três dias antes. Dependendo como for, você pega um grupo muito complicado, por exemplo, com um chinês e um ucraniano top do mundo, porque os chineses caíram um pouco no ranking por não disputarem tantas competições, fica muito mais difícil a campanha. A gente tem que contar um pouco com a sorte e estar muito bem preparado.

O POPULAR: Qual a sua expectativa pessoal de desempenho e como analisa os potenciais adversários?
FILIPE MANARA: Eu acho que mudei muito minha característica até mesmo para o Parapan de Lima, no sentido de que eu tenho que buscar muito desempenho. Como a gente vai para uma competição buscando resultado, por mais que em Lima eu soubesse que o meu caminho era para uma medalha de ouro e disputar outra Paralimpíada, eu foquei muito no desempenho e em cada jogo ir melhorando. Acho que na Paralimpíada também será assim. Por exemplo, se você perguntar para mim sobre a Rio 2016, no individual eu não ganhei nenhum jogo e a gente ficou nas quartas por equipe, mas meu desempenho no jogo, principalmente contra o sueco, foi muito bom, foi um 3 a 2 disputadíssimo. Eu abri 2 a 0 e se ganho mais um set, fecha até 3 a 1, eu tinha passado no grupo e teria um cruzamento nas oitavas contra um cara que eu tinha ganhado a última partida. Então, acho que o desempenho foi muito bom e saí muito feliz da Paralimpíada em 2016. E é isso o que eu espero que aconteça novamente em Tóquio ter um desempenho bom e é isso que eu estou buscando, jogar o meu melhor. E tenho que saber também que, na Paralimpíada, estará o grupo mais seleto do seleto, não tem um jogo mais ou menos, é tudo pedreira.

O POPULAR: Quais as principais competições que antecedem a Paralimpíada, quais irá participar e como elas podem influenciar na disputa em Tóquio?
FILIPE MANARA: Isso depende muito do que a confederação vai querer. Por enquanto está tendo uma distinção do que estão fazendo. Porque a gente se classificou, mas não faz mais parte da seleção permanente. Não sei se vão colocar a gente no grupo que vai nas mesmas competições dos outros. Surgiram uns rumores de que voltaria a fazer parte da seleção permanente, mas são rumores apenas. E depende também da questão financeira, se vale a pena voltar a São Paulo para treinar. Lógico que lá a estrutura é melhor, apesar de eu treinar com um técnico muito bom, talvez o melhor do Brasil, você tem lá uma estrutura muito boa, com uma equipe multidisciplinar, coisa que não consigo ter hoje, seria um diferencial. Mas, vai depender muito da questão financeira, do que vão propor e de quais campeonatos vamos disputar. Na verdade, eu nem acho que está muito cedo para saber sobre isso, era uma coisa que deveria ter virado o ano com todos cientes, mas a gente sabe como funcionam as coisas no Brasil.

O POPULAR: Como será para você representar Mogi Mirim em uma competição tão grande como esta, mas, desta vez, longe do país? Acha que terá alguma sensação diferente da que disputou no Rio?
FILIPE MANARA: Olha, acho que a situação diferente começa a partir do momento em que a língua é diferente. E a gente não está falando de uma língua um pouco diferente, mas muito. De uma cultura muito diferente e isso até me animou muito para buscar esta vaga. Toda esta sensação vai ser diferente. Os meus pais e meu irmão devem ir e o apoio familiar lá na hora será bacana. Mas, eu brinco até sobre 2016 que, na primeira partida, eu entrei no ginásio para jogar e eu fui o primeiro brasileiro a jogar, no dia 8 de setembro de 2016, às 9h40 e eu entrei e estava todo mundo gritando o meu nome. Isso é óbvio que não vai acontecer lá. A torcida não estará toda do meu lado.

O POPULAR: Como vê a relação do Japão com a sua modalidade?
FILIPE MANARA: É um país apaixonadíssimo pelo tênis de mesa, uma das principais potências. Olha os ingressos para a Paralimpíada, a procura está sendo tão alta quanto a da Olimpíada e isto em várias modalidades. Tipo vai ser sempre com ginásio lotado, mas será uma sensação muito bacana, é muito gostoso jogar uma competição assim, com toda a estrutura que ela envolve.

O POPULAR: E em relação ao orgulho de representar Mogi Mirim mais uma vez nos Jogos?
FILIPE MANARA: Vai ser um orgulho representar Mogi Mirim. Eu comecei aqui, é a minha cidade do coração. Infelizmente, acho que a recíproca, não por parte das pessoas, não é tão verdadeira. Falta um pouco de reconhecimento por parte da cidade e nem é na questão financeira, isso a gente já até desistiu. Mas acho que de usar um pouco isso. Não faço questão da bajulação, mas acho que seria importante usar o fato de ter um atleta que vai para a segunda paralimpíada, um evento deste porte. Assim como tem o Conrado correndo atrás, com bons resultados. Acho que a gente tem muito orgulho de representar a cidade, mas ela poderia ver isso melhor. Tanto em beneficio próprio, como da gente, já que nos ajudaria a conseguir patrocínio e tudo mais. A gente sempre fala e nunca acontece nada. Mas, o meu orgulho de representar Mogi Mirim sempre será imenso e sempre faço questão de divulgar. É uma pena que Piracicaba, tudo bem que é uma cidade que represento há seis anos, tem um reconhecimento infinitamente maior do que Mogi Mirim tem por mim. Mas, vamos que vamos.

FOTO: Rodolfo Vilela/rededoesporte.gov.br

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