Mogi Mirim é uma cidade abastada de terra fértil, de espírito empreendedor e de simpatia. O substantivo feminino que marca a principal alcunha da cidade tem, entre seus muitos significados, a “capacidade de dar atenção aos sentimentos de uma outra pessoa”.
E quando falamos sobre entidades assistenciais, hoje definidas como Organizações da Sociedade Civil (OSC’s), costumamos pensar somente no apoio físico que é dado, com o suporte de saúde, e em sua condição social, com a acomodação dos assistidos em seus espaços. Mas é necessária uma visão humana, de simpatia e empatia com o próximo, para que os resultados surtam o efeito desejado e o Instituto Coronel João Leite alcançou os 100 anos de cuidado e respeito com os mogimirianos.
Esta marca especial contou com registros nos últimos meses, com direito a celebrações mensais, com atividades culturais que movimentaram a instituição e seus assistidos. No dia 11 de agosto, a idade centenária foi atingida com a lembrança pela fundação do “Asilo”, cujas atividades começaram cinco anos depois, em 16 de abril de 1928. Inclusive, para começarmos este registro histórico, nada melhor do que retornar ao passado.
João Leite
Se hoje comemoramos os 100 anos deste importante instituto, é porque o Coronel João Leite do Canto tornou um sonho possível. Nascido em 19 de fevereiro de 1849, era filho de Ignácio Leite do Canto e Anna Eufrosina de Toledo, proprietários da Fazenda Santo Ignácio, em Ressaca, atual Santo Antônio de Posse (SP). Casou-se duas vezes, com Elisa de Toledo Lima, falecida em 1920, e com Mariana Machado Mello, sendo que, com ambas, não teve filhos.
Na vida pública, foi nomeado por diferentes presidentes da Província de São Paulo (cargo corresponde aos atuais governadores do Estado) como subdelegado, suplente do juiz municipal e de órfãos desta Comarca, membro da Intendência Municipal e Delegado de Polícia. Foi ainda tesoureiro da Santa Casa de Misericórida de Mogi Mirim e Procurador Geral e membro de associações beneficentes, religiosas, recreativas e instrutivas da cidade, além de vereador e vice-presidente da Câmara Municipal.
Aos 74 anos, faleceu em 10 de maio de 1923, deixando parte da sua fortuna às igrejas e entidades como a Santa Casa, além do instituto que, meses depois, seria fundado e, posteriormente, inaugurado com o seu nome. A antiga Travessa do Carmo, onde residiu, em casa na esquina com a Praça Floriano Peixoto (Jardim Velho) também ganhou o seu nome e um monumento histórico foi erguido em novembro de 1924 graças aos esforços de familiares e mogimirianos em geral.
O Instituto
No testamento do Coronel João Leite constava o desejo da construção de um prédio, em terreno próprio, no numeral 610 da Rua Marciliano, no Centro. O edifício deveria ser amplo e adequado para gerar comodidade a pessoas idosas que ali seriam abrigadas. Toda a constituição do imóvel que se tornaria um instituto com o nome do seu benemérito respeitou a vontade do mesmo, com a fundação em agosto de 1923 e a inauguração, através de doação de 500 contos de réis para a construção e 300 contos de réis para o patrimônio, em abril de 1928.
A primeira Mesa Administrativa foi formada em 19 de maio de 1924. Na ocasião, Ignácio Baptista de Almeida Leite, dono da casa (no número 90 da Rua José Bonifácio) em que houve a reunião, foi eleito o primeiro provedor, com Antônio Tavares Leite como primeiro-tesoureiro e Francisco Cardona como secretário.
Ederaldo do Prado Queiroz Teles, Marcílio Malta Cardoso, Amador Jorge Siqueira Franco e Cônego Oscar Sampaio Peixoto foram eleitos membros efetivos da mesa, com Emília Gomes de Oliveira, Guilhermina Januária dos Santos, João Antunes Lima, Sebastião de Souza Campos, Luiz e Pedro Zago como suplentes, além de Rosendo Rodrigues do Prado como tabelião e Enrico Bueno como escrevente.
Nestas décadas, entre 1932 e 2012, houve o importante trabalho das Irmãs Missionárias do Jesus Crucificado. O que começou com as primeiras sete irmãs, que assumiram o trabalho de zelar pelo instituto e cuidar dos idosos, terminou diante da idade avançada das irmãs da congregação e a falta de irmãs mais jovens para assumirem o trabalho.
Enfim, muitos foram os mogimirianos e cidadãos de outras origens que doaram, tempo ou dinheiro, para manter vivo o legado do Coronel João Leite. O prédio, com sua fachada imponente e suas instalações que respeitam o bem-estar dos idosos, conforme era desejo do benemérito, passou por reformas ao longo das décadas, como as registradas em 1948, 1964, de 1973 a 1974, de 1998 a 2004, de 2005 a 2011, de 2013 a 2016 e a mais recente, entre 2022 e 2023. Mudanças que surgiram sempre com o intuito de melhorar esta rica história de solidariedade e amor àqueles que alcançaram a melhor das idades.