Nasceria o Rock in Rio e o Aeroporto Internacional de Guarulhos. A Ditadura Militar chegaria ao final e Tancredo Neves seria eleito presidente do Brasil. Mas faleceria antes de assumir. Ayrton Senna conquistaria a primeira pole e a primeira vitória na Fórmula 1. A final do Brasileirão seria entre Coritiba e Bangu. Fatos esperados e outros nem tanto. Muitos celebrados. Assim foi 1985!
Por aqui, em Mogi Mirim, a grande festa ficaria para o final. Foi o ano da fundação da Banda Lyra Mojimiriana e da venda do prédio do antigo Cine Rex ao Banespa. Um ano em que Luiz de Amoedo Campos Neto chegava à metade de seu último mandato como prefeito.
Porém, sem dúvida alguma, foi o ano da consagração de um já octagenário Mogi Mirim Esporte Clube. A celebração em grande estilo começou a ganhar forma a partir de 1982, ano em que o Sapo foi alçado à Segunda Divisão. Foi a primeira temporada de Wilson Fernandes de Barros na presidência do clube, posto que assumira em outubro de 1981, sucedendo outra figura importante na história, Tonicão Guerreiro.
Vieram campanhas memoráveis, mas sem que o acesso se consolidasse. Não que o próprio Wilson fizesse força, já que sabia que, mesmo que o acesso viesse, seria difícil jogar a elite por falta de estrutura no estádio, ainda chamado de Vail Chaves.
Batemos na trave em 1982, chegando a ir à Capital em um quadrangular com Araçatuba, Bragantino e Taquaritinga. Em 1984, o esquadrão ganhava corpo, sobretudo, com a chegada de Chicão, uma estrela que já ganhara títulos por vários grandes clubes, como o São Paulo e que defendeu a Seleção Brasileira em Copa do Mundo.
Na campanha de 1985, 36 partidas e apenas uma derrota, como registra o ex-volante Henrique. “Todo jogo que ganhava ou empatava o (João) Magoga (técnico do time), dava carne para a boleirada. Toda segunda fazia o churrasco onde é o hoje o (edifício) Manhattan, tinha uma casa que morava o Donizete e se fazia ali o churrasco e outras coisas. Só perdemos dois jogos, o nosso grupo era muito unido”.
Os churrascos eram o prenúncio de que muita festa rolaria para aquele elenco e a cidade como um todo. Foi um ano tão especial que até um “monarca” pisou no gramado mogimiriano. No dia 7 de maio de 1985, dias após a estreia na Segundona, o jornal “A Comarca” noticiava em sua capa. “Falcão, o Rei de Roma, treina hoje no Vail Chaves”. O ex-volante estava em recuperação de cirurgia e depois jogaria no São Paulo. Antes, vestiu a camisa do Mogi Mirim e transmitiu energias positivas.
Elas foram consolidadas durante o curso de 36 rodadas. De jogos em casa, fora e em campo neutro. Sempre com o carinho dos apoiadores. “Naquela época a torcida ia muito nos prestigiar. Todos os bairros tinha sua torcida organizada, isso nos ajudava muito”, relembra o lateral-direito Ederson.
Em família
Entre os torcedores, duas crianças que viveram bem de perto aquela emoção. Os irmãos Danilo e Marquinhos, filhos de Wilson de Barros, acompanhavam o pai no máximo possível de jogos. Em muitos deles, aparecem, inclusive, como mascotes do time, nas fotos posadas. “Eu tinha 5 anos de idade, eu não lembro muito assim, era muito pequeno. Lembro de ir nos jogos, que ia com meu pai na Caravan, sempre pegava a esposa do Fernando, que era o goleiro, a Teca, ela ia junto”.
Já Danilo era um pouco mais velho, tinha perto de 10 anos. Se recorda que o vestiário era atrás do gol e era uma festa, campo lotado sempre. “O que me marcou mais foi que o Chicão coordenava tudo, era o presidente dentro de campo, dava tudo certo. Meu pai era novo, eles tinham dois anos de diferença de idade, meu pai mais velho e estava começando como presidente e ele já mais experiente no futebol, ajudava muito”, relembrou.
Decisões
Além disso, a própria torcida o marcou. “Acho que a final aqui contra o Rio Branco. Tinha gente assistindo do muro de propaganda”. A decisão citada foi da segunda fase, que garantiu o time no quadrangular. Na fase final, disputada com jogos no Morumbi, Palestra Itália e Pacaembu, o torcedor também marcou presença.
O jornalista Geraldo Vicente Bertanha, um dos fundadores de O POPULAR, tinha apenas cinco anos de jornadas esportivas com o Sapão e trabalhava à época na Rádio Alvorada, atual Transertaneja. Cobriu as partidas, os bastidores e, claro, os festejos. “A Viação Santa Cruz era parceira e colocava ônibus todos os jogos. Na fase final, saiam de 10 a 20 ônibus todo jogo, mesmo em meio de semana. O time foi campeão, tinha que festejar. O time chegou de São Paulo, veio direto para a Praça Rui Barbosa e tinha uma multidão. As empresas participavam mais, tinha mais torcida, mais apelo do que de uns tempos para cá”, recorda.
Muito chopp
Entre os torcedores que estiveram nos jogos na Capital está o advogado Hélcio Luiz Adorno, o Luizinho, que posteriormente viria a ser dirigente da agremiação. Em 1985, porém, viveu aquela conquista como um fã. “Levava meus filhos, que eram pequenos e vibramos muito quando foi campeão.
Naquele dia, chegamos antes da delegação. Aí teve desfile com Corpo de Bombeiros e a Kaiser estava aqui, ela deu chopp à vontade para o pessoal na praça. A gente ia no caminhão, pegava a caneca e tomava. Foi fantástico. Foi muito bom”, rememorou.
Se foi fantástico para quem apenas torcia, imagina para quem se sacrificou dentro de campo. O goleiro Fernando tem várias ótimas memórias de 1985. Mas uma tem lugar especial. “Uma lembrança que marcou foi no quadrangular final. Foram vários ônibus de torcedores do Mogi, que deram um grande incentivo pra nós jogadores. E a festa foi inesquecível. Um mar de gente esperando o ônibus do Mogi chegar”.
Um dos heróis daquele sábado, o atacante Miltinho, confessou que não esperava tanta gente nas ruas, ainda mais pelo horário que a delegação chegou. A festa marcou e olha que ele havia acabado de se destacar na decisão.
“Contra o Taubaté eu tive a minha maior alegria no futebol. Entrando no segundo tempo, tive a felicidade de fazer o segundo gol, que terminou com a vitória do Sapão por 2 a 0. Depois foi só ir pra galera comemorar. Chegando em Mogi, eu particularmente não esperava tanta gente nas ruas. Chegamos de madrugada e todos os torcedores e cidadãos de Mogi estavam nas ruas. Foi simplesmente maravilhoso”.
Uma festa que, para muitos, jamais será repetida. Não apenas pela situação caótica e desanimadora pela qual o Sapão da Mogiana se encontra após 35 anos daqueles feitos. Do acesso inédito e do título confirmado naquele 14 de dezembro de 1985, após o 2 a 0 diante do Taubaté.
É que aquele ano foi realmente marcante. O clube teve inúmeras glórias antes e depois. Mas, para o futebol profissional do Mogi, nenhum passo foi tão significativo quanto chegar à elite do futebol estadual. Ali, o vermelho que desde outubro de 1903 já marcava a agremiação, passou a ser uma cor lembrada em nível nacional como a ostentada pela Força do Interior. Mais uma vez, repetimos. Obrigado, heróis de 1985.
PALAVRAS DE QUEM VIVEU
As memórias de pessoas que acompanharam de perto o título paulista de 1985