Reunir os amigos aos finais de semana para tomar uma cerveja, jogar um futebol e se divertir com uma música agradável. A receita é adotada em inúmeros cantos do país, mas manter um grupo reunido por décadas de forma organizada é privilégio de poucos em Mogi Mirim. Entre os grupos de maior destaque na cidade está o Esporte Clube Olímpico, que prepara uma festa de comemoração aos 37 anos de história.
Fundado em 1981 por Luiz Gonzaga Martinelli Júnior, o Banana, o Olímpico nasceu como Café Coppo, com o nome escolhido como forma de reconhecimento ao patrocinador. Após cerca de cinco anos, com a saída da distribuidora de café da condição de patrocinador, o time ganhou o nome de Olímpico.
A escolha foi uma homenagem a outro clube, o Olímpico Futebol Clube, que disputava o Campeonato Amador na década de 50 e era um adversário do Mogi Mirim, na época em que o Sapo disputava competições amadoras. As cores oficiais do atual time são azul, branco e vermelho. Mas já foram usadas nos uniformes cores laranja, bordeaux e verde. O Café Coppo usava azul e branco, enquanto o antigo Olímpico, branco e vermelho.
O Olímpico FC tinha nomes como Bira Martinelli, Maina, Toninho Diamantino e o goleiro Guga, pai de Guguinha.
Eram espécies de ídolos de fundadores do EC Olímpico e havia até interligações. Bira, tio do fundador Banana, foi técnico do primeiro quadro do Olímpico.
Diferente do antigo, o Esporte Clube Olímpico prefere não disputar campeonatos para evitar confusões. O DNA é festivo e, apenas duas vezes, o time disputou uma Copa Veterano, chegando a ser vice. Porém, houve problemas entre jogadores, comprovando que ficar afastado das competições é a melhor opção.
A prática do Olímpico é disputar amistosos contra adversários de diferentes cidades como Campinas, Socorro, Serra Negra, Águas de Lindóia e Monte Sião, com jogos em Mogi e outros municípios. As idades dos jogadores são variadas, mescladas, de 18 a 55 anos, aproximadamente. Hoje, os amistosos são aos sábados e domingos. A preferência é por amistosos contra times de outras cidades, para evitar que rivalidades pessoais de Mogi reflitam nos jogos. O maior rival é a Família Unida, de Campinas. Há ainda rivalidades com Estudiantes, de Limeira, o Cobras, de Campinas, onde já jogou Jorge Mendonça, ex-Palmeiras, e o Paulista e o Taguaçu, de Mogi Guaçu.
Embora busque montar times fortes diante da qualificação dos adversários, o foco é o lazer. “É um momento que você deixa de lado um monte de preocupação, do trabalho, e passa um momento alegre”, frisa o economista Adelcio Luiz Bruno, de 76 anos, atuante desde a fundação e o mais antigo entre os atuais integrantes ativos.
“Além de praticar o esporte, você convive com amigos, tem o social”, frisa o advogado Luiz Carlos Martini Patelli, o Guguinha, de 51, atual presidente e há 25 anos no grupo. “A gente vai lá para espairecer”, destaca o empresário José Coutinho de Souza, o Fura, de 58 anos.
Afinidades e união nas dificuldades: os segredos
Os segredos para 37 anos consecutivos em atividade do Olímpico são apontados como paixão, afinidade de ideias, comprometimento e união nas horas delicadas. “O time está em pé, mas já esteve quase à beira de parar. É uma luta”, ressalta Fura.
Em momentos delicados da história, os líderes se uniram e não deixaram o Olímpico morrer, como na época da sede na Cachoeirinha. “Chegamos a um momento de realmente desanimar, iam nove jogadores”, recorda Palito.
Em alguns casos é necessário sacrifício financeiro, com união de aportes. As sedes do Olímpico são alugadas. Há cerca de um ano e meio, o clube manda suas partidas na Pedreira Santo Antonio. Na fundação, os amistosos ocorriam na antiga chácara do Irmãos Davoli, onde hoje funciona a Bufallo Grill. Depois, a sede foi para a Piteiras I, Mogi Guaçu e Cachoeirinha, onde ficou por mais de 10 anos. Posteriormente, funcionou no Horto Florestal, antes de chegar à Associação dos Amigos do Banco do Brasil (AABB), onde ficou uma década, até sair por divergências com a associação. Já houve o sonho de ter um local próprio, mas é considerado inviável.
Para manter o grupo coeso, o Olímpico busca eliminar pessoas sem comprometimento. Há casos de punição por indisciplina, até com carta de exclusão. Embora não tenha CNPJ, o Olímpico tem um estatuto, formulado em 1996.
Desde o início, o Olímpico tem no mínimo dois quadros e estima-se que mais de 120 atletas já atuaram no clube.
Hoje são cerca de 70. Aos sábados, há 2 jogos na sequência, contra adversários que também têm 2 quadros. Um terceiro time, montado, há cerca de 10 anos para resgatar atletas que estavam parados, joga no domingo de manhã.
Cada time tem uma comissão. Os que pararam de jogar, como Adélcio, Palito e Fura, contribuem na escalação e organização. Uma mulher de Campinas é remunerada para montar o calendário de times da região. Fura é o responsável pela agenda do Olímpico, ainda feita com papel e caneta. Em dezembro, já há o calendário de jogos do ano seguinte, com espaços livres estratégicos. O WhatsApp, hoje, ajuda no agendamento e confirmação de atletas.
Nomes
Grandes nomes do futebol amador e profissional já passaram pelo Olímpico. Atualmente há nomes como Gigio, Neneca e Kanu. Outros foram Adilson, Valmir, Dadi, Wagninho e Du Cavalo. Robinho, do Cruzeiro, Willian Magrão, ex-Grêmio, José Carlos Serrão, ex-São Paulo, e Ederson, Oscarzinho e Leto, ex-Mogi Mirim, já atuaram no Olímpico, assim como Cleber e César Sampaio, ex-Palmeiras.
Engana Samba era atração no antigo Bar do Carlinhos
Entre as décadas de 80 e 90, jogadores saíam dos jogos e iam se encontrar no histórico e extinto Bar do Carlinhos, antigamente localizado ao lado do Posto do Ary. Os atletas aproveitavam para fazer uma roda de samba. O time acabou conhecido como equipe do Centro, dos atletas que curtiam samba. Até hoje, há adeptos do ritmo. “A turma não via a hora da gente chegar no bar”, lembra Palito.
A festa era mais completa quando o adversário era o SPC (Samba, Pagode e Cerveja), de Campinas. “Eles traziam as mulatas, dançavam tudo aí”, lembra Adélcio. “Foi uma época de ouro. Modéstia à parte, fomos precursores de um monte de grupo de samba que rolou. O apelido nosso de brincadeira era o Engana Samba”, lembra o aposentado Edson Luiz Bendassolli, o Palito, de 55 anos.
Mensalidade, patrocínios e eventos: fontes de receita
A principal fonte de receita do Olímpico é a mensalidade dos jogadores, que varia entre R$ 30 a R$ 40 de acordo com o quadro. Há gastos com uniformes, aluguel do campo, bola e remédios. Outras receitas vêm de patrocínios e eventos. Os patrocínios ainda servem para realizar festas, uniformes de jogo, agasalhos e roupas sociais.
Na memória, estão eventos históricos. Em 1997, um baile no Clube Mogiano reuniu 800 pessoas de diferentes cidades, entre atletas e familiares, com homenagem a veteranos do Olímpico. Amizades pelo Estado são cultivadas graças ao time e contribuem até em negócios.
Desta forma, os encontros transcendem o futebol, ajudando a preencher a alma e a vida dos integrantes.