sábado, novembro 23, 2024

Esse fulaninho

Quando eu e o Alisson completamos um ano de namoro, ficamos noivos. Noivar, na teoria, é para quem está a um passo do casamento. Para quem está na estrada, mas já consegue ver a chegada. Era o nosso caso? Depende!

Para a nossa vontade de estar junto, com certeza era. Já para qualquer pessoa que tivesse um mínimo de noção sobre a realidade de um casamento, não. Veja, ele tinha acabado de se mudar sozinho para o interior, estava recomeçando a vida profissional e por conta disso não tinha estabilidade financeira nenhuma. Na outra ponta estava eu, cursando a faculdade custeada pelos pais, ganhando uma merreca que queimava tudo em roupas, sapatos e outras delícias.

Um ano depois a vida deu uma forcinha. O pai do Alisson teve um infarto e morreu, e, 15 dias depois descobrimos a gravidez da Gabi. Foi então que, embora machucados, decidimos que era a hora, mesmo as coisas só tendo piorado em relação ao dinheiro.

Mas qual o objetivo em dividir isso aqui? O ponto é, como nós, enquanto pais, às vezes só temos como aliados o tempo e a esperança. Pegando o gancho, é só a galera dar sinal que está se envolvendo um pouco mais a fundo com alguém que inerentemente analisamos a ficha do fulaninho e as possibilidades de futuro daquela relação. E, é claro, que dada a complexidade da nossa visão, as chances sempre são muito mais catastróficas que boas e, na maioria dos casos, resta apenas rezar rs.

O Plínio, meu padrasto, não queria que nos casássemos. Ele ama o Alisson e os dois dividem uma relação linda, linda, linda. Desde sempre! A questão não é pessoal, na maioria das vezes não.

Estava evidente que, pela experiência que ele próprio já vivera, sabia que casar é muito pouco sobre estar junto e muito mais em como fazer as inúmeras decisões que a vida nos obriga a tomar diariamente.

Isto também era verdade, tanto tinha razão que, nos quatro primeiros anos, pensávamos em nos separar diariamente e só não o fizemos pois o pouco de dinheiro que ganhávamos não era suficiente para sustentar duas casas.
Hoje, 20 anos depois, tenho certeza que a forma como nos relacionamos, a maneira que educamos nossos filhos e vivemos a vida é motivo de orgulho para nossos pais. Mas nem de perto, lá atrás, éramos os companheiros que sonharam para seus filhos se casarem, muito menos o começo que gostariam.

É claro que vemos a vida anos luz à frente da impulsividade de quem está começando e tem todos os sentimentos tão intensos. Mas é pequeno demais achar que isso, embora importante, seja a única possibilidade ou a possibilidade real. Pode não ser irresponsabilidade, pode ser apenas que a lente deles ainda não esteja tão riscada quanto a nossa.

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