Final de 1978, acontecia a transição da presidência brasileira entre o General Ernesto Gaisel para João Baptista Figueiredo. Mesmo com o período militar imponente em nossa nação, o jovem poeta Renato Russo, que na época fazia parte da banda Aborto Elétrico, compunha em Brasília a música “Que país é esse”. Há um trecho da música que diz: “Vamos ficar ricos, vamos faturar um milhão, quando vendermos todas as almas dos nossos índios em um leilão”. Nesse trocadilho de palavras, podemos afirmar que o deboche de enriquecimento do Brasil só se dará quando comercializarmos o seu último elemento puro da terra, os índios.
Usei a analogia acima para nos remetermos à nossa atual conjuntura, pois essa semana tivemos a notícia da desestatização da Eletrobrás, maior empresa dos setores de geração, transmissão e distribuição de energia de nosso país. Muitos disseram que estávamos vendendo o Brasil privatizando nossas empresas, entretanto não vejo dessa forma, pelo contrário, vejo como uma boa estratégia para resolvermos partes de nossos problemas.
Para melhor entendermos, vamos aos números que falam por si só. Nos últimos 15 anos, a Eletrobrás deu ao todo um prejuízo de R$ 250 bilhões aos cofres públicos. Agora vem a pergunta: como pode um país do nosso tamanho, que consome energia de cabo a rabo em todos os estados brasileiros, uma empresa como a Eletrobrás, líder em produção, transmissão e distribuição de energia, dar prejuízo??
A reposta é bem simples: pode sim, pode porque é estatal, pode porque tem ingerência, pode porque tem corrupção, pode porque tem incompetência, pode porque tem roubalheira. Simplesmente as estatais brasileiras são fatiadas pela classe feudo-política, verdadeiras quadrilhas que sugam o que deveria ser o orgulho do povo brasileiro.
Há ainda o temor de boa parte da população de que a conta de energia irá aumentar com a privatização. Tenho a esperança de que isso não acontecerá e diante dos fatos posso dizer que irá diminuir os valores, pois vai acabar com o fatiamento, a incompetência e a corrupção política nas estatais, assim não teremos prejuízo e isso pode ser revertido ao consumidor brasileiro na forma de contas com valores menores.
Fato é que o mercado financeiro ficou eufórico com a notícia das privatizações, o principal índice da Bolsa Brasileira passou dos 70 Mil pontos. Para se ter uma ideia do que esse valor significa, é um valor para lá de positivo, desde 2011 não tivemos um valor tão alto do índice e uma notícia tão boa que fez o mercado financeiro vibrar e injetar bilhões na economia brasileira.
Portanto, não estamos vendendo o Brasil, caros leitores, nem tão pouco oferecendo nossos ativos para a iniciativa privada se beneficiar futuramente disso e, sim, estamos colocando nosso sistema no eixo, pois do jeito que está não dá para continuar.
Por Felipe Vidolin – Pós-Graduado em Engenharia de Telecomunicações e investidor.