Olhares atentos a televisão e ao tablet. Nas telas, só dá ele: o futebol. É assim que inicia a noite na casa de uma família argentina que vive há quatro anos em Mogi Mirim e que, assim como os brasileiros, também tem o futebol como uma paixão. Também, pudera, o casal Guilhermo Nardi e Anabella Gomez Nardi tem muitos motivos para gostar do jogo entre as quatro linhas. Os dois nasceram em Rosário, conhecida como a Capital do Futebol, assim como Lionel Messi e Ángel Di Maria, principais estrelas da seleção argentina.
O empresário e a professora de espanhol conhecem desde cedo o fanatismo pelo esporte e também a rivalidade inerente aos torcedores. Ela, torcedora do Rosario Central e ele, do Newell´s Old Boys. “O futebol influencia muito na cidade. Temos dois times e a rivalidade é grande. Não é igual em São Paulo, que tem vários times. Quando tem um jogo, a cidade para uma semana antes. O fanatismo é muito grande”, conta Guilhermo.
Segundo ele, que desde cedo frequenta estádios de futebol para acompanhar os jogos do seu time, o esporte na Argentina e no Brasil tem grandes diferenças. “Qualquer jogo não tem menos de 40 mil pessoas. Você pode até não querer assistir ao jogo e se virar para a arquibancada, mas você, mesmo assim, vai assistir um espetáculo à parte”, disse, entusiasmado. E é assim que promete ser a Copa do Mundo neste ano no Brasil: um espetáculo para o esporte.
Será a primeira Copa para a família Nardi. Junto com os filhos do casal, Manuel, de dois anos e Agostín, de sete, todos assistirão de perto uma partida da seleção argentina. Será dia 21 de julho, em Belo Horizonte, em um jogo contra o Irã. Guilhermo revelou que sempre quis acompanhar de perto um mundial, e que agora é a hora, por ser no Brasil. “Com a minha família será mais especial ainda”.
Embora carreguem o amor ao país de origem, os argentinos revelam que ficarão divididos, torcendo também pelo Brasil. “É engraçado, todos perguntam pra quem a gente vai torcer. Gosto do Brasil e quero que ganhe todos os jogos, mas se jogar contra a Argentina… Vai perder, não tem jeito”, disse Anabella. “Não quero que o Brasil perca, mas é impossível torcer contra a Argentina”, completou o marido. As brincadeiras são inevitáveis, porém, nunca desrespeitosas. “Os amigos dele já tiraram sarro que vamos perder a Copa”, acrescentou a mãe, se referindo ao filho Agostín.
Despreocupados
Ronald Steinmetz, nascido em Toledo, Ohio, nos Estados Unidos, sabe que as chances da seleção do seu país chegar às finais do mundial são praticamente remotas, já que o país não tem tanta tradição no futebol. “A seleção dos Estados Unidos não é muito boa, então… Vou torcer para o Brasil mesmo. Acho que a seleção ganha a Copa, mas a Espanha também é muito forte”, pontuou ele. O americano, apesar de gostar mais de futebol americano, diz que assiste futebol pela TV e já consegue identificar as diferenças do esporte entre os países. “A diferença é que lá tem mais pessoas assistindo no estádio e é tratado como uma coisa mais séria”.
A inglesa Carlie Hale, nascida em Manchester, concorda. “Aqui no Brasil, o esporte é mais comemoração. Lá todo mundo fica mais quieto quando vão ver os jogos e aqui é mais festa”, disse. Embora a Inglaterra tenha uma boa seleção para o mundial deste ano, Carlie prefere torcer para a Itália ou para o Brasil. Ao dizer que irá “torcer para quem ganhar”, aos risos, ela confessa não acompanhar muito o esporte, mas é praticamente impossível não se contagiar com o clima do maior evento esportivo do mundo.
Estrangeiros demonstram preocupação
Os estrangeiros esboçam preocupação com relação a realização de um evento desse porte em um país com tantas deficiências. “O que chega até a Argentina é o pior possível. Muita gente também está com medo dos protestos e estão criticando, mas agora, o jeito é apoiar”, opinou Anabella.
“Creio que a América Latina como um todo não está pronta para receber um evento desses. Mas procuramos amenizar nossos amigos sobre essa situação”, acrescentou Guilhermo.
“O Brasil não está preparado. Acho um país muito perigoso”, opinou Carlie. “Os estrangeiros não entendem como países pobres recebem Olimpíadas e Copa do Mundo. Conheço pessoas que trabalham como pilotos (de avião) e eles dizem que até mesmo as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro não estão preparados para receber ainda mais pessoas”, completou Ronald.
Mesmo assim, a expectativa é boa e a professora argentina não poupa elogios ao país que recebeu sua família, e que pelo menos por enquanto, não tem planos de deixar. “Mesmo com tudo isso, o pessoal de fora vai sair feliz daqui. Os brasileiros são atenciosos e solidários. Acho que os estrangeiros vão levar uma boa imagem. Os brasileiros gostam de receber, de agradar”, concluiu.