Os registros do passado no futebol não são precisos. Há controvérsia em ligas profissionais de alto nível. Imagina no Amador. A cultura brasileira de não preservar a história como se deve é o fator principal. Quando falamos do futebol amador de Mogi Mirim, há um item a se respeitar. Há anos é divulgada uma lista com os finalistas (campeões e vice-campeões) da Primeira Divisão.
Há anos em que não constam os vice-campeões. Em outros anos, não houve disputa. Ou algum problema levou o torneio a não ser concluído. Asteriscos que precisam ter as histórias melhores contadas. Uma missão para a nossa imprensa e historiadores. Nesta primeira coluna, vamos viajar no tempo e ir até muitas décadas atrás.
Segundo os dados atuais, o primeiro campeonato municipal de futebol amador realizado em Mogi Mirim ocorreu em 1952. O futebol mogimiriano já contava com inúmeras agremiações de futebol. Muitas até extintas, como a antiga Associação Mogyana de Esportes Athleticos, a popular ‘AMEA’. O próprio Mogi Mirim Esporte Clube, que por anos teve as atividades estritamente ligadas ao amadorismo, nasceu em 1903 e é um dos mais antigos registros esportivos da cidade.
Atual tetracampeã e finalista em 2019, a Associação Atlética Tucurense foi fundada em 1919. A Veterana passou por várias nomenclaturas oficiais até chegar à de hoje. Em 1952, era chamada de Tucura Futebol Clube. E disputou aquele campeonato. Nomeado como ‘Taça Cidade de Mogi Mirim’, a competição reuniu seis agremiações.
Além da Veterana também estiveram na luta pela taça outro clube que sobreviveu aos anos. O Mirante Futebol Clube. Também jogaram o torneio o Garotos de Ouro, que anos depois seria chamado de Esporte Clube Olímpico (ECO) e que, no fim da década de 1950, chegou a representar a cidade, ao lado do Mogi Mirim, no antigo Campeonato Amador do Estado, organizado pela Federação Paulista e que reunia dezenas de agremiações de todo o estado.
O Instituto de Menores também se fez presente na peleja. Assim como o Inglesinha Futebol Clube, agremiação ligada à cervejaria Mogyanna, produtora da cerveja Inglesinha que, por anos, foi uma das mais consumidas em todo o Brasil. Porém, o grande campeão foi o Estrela Paulista, time do bairro do Aterrado e que contava com figuras de alta estirpe em seu elenco, como o avante Izidoro Zavarize e o goleiro Simão.
A competição foi realizada em turno e returno, com cada equipe disputando 10 jogos até o encerramento. Não houve mata-mata e o campeonato seguiu sem a definição até a última rodada do returno. No dia 14 de dezembro, quatro times entraram em campo. Como era comum na época, contava-se a pontuação por ‘pontos perdidos’, assinalados na tabela dos jornais como ‘p.p’. O Estrela Paulista tinha 5 p.p. O Tucura 7 p.p.
A taça poderia ficar com o time alvinegro da Zona Norte em caso de vitória. Forçaria um jogo extra para definir o campeão. O palco da decisão foi o estádio Vail Chaves, a casa do Mogi Mirim Esporte Clube e principal praça esportiva do futebol amador da cidade durante décadas. Na preliminar, sem anseios maiores, o Garotos de Ouro venceram o Instituto por 3 a 1. Por volta das 17h, entraram em campo Estrela e Tucura.
Com o empate a seu favor, o quadro aterradense procurava controlar o jogo. Os tucurenses avançavam, mas paravam na defesa do Estrela. Na etapa final, o Estrela propôs mais o jogo e aos 14 minutos mexeu no placar. Peço a licença aqui para usar as palavras de Orlando Bronzatto, o Pintaca, autor da redação, para descrever o tento.
“Izidoro desce com o couro, endereça ao seu companheiro Iato, este para Ananias na direita, na lateral da grande área. Ananias suspende a meia altura, e da meia-lua, Izidoro numa impressionante virada, atira como a pelota vem, e marca o único tento da partida”. A Tucurense se perdeu. O Estrela cresceu e Izidoro quase marcou novamente, mas parou na trave. Porém, a história estava escrita e a taça ficou com o time do Aterrado.
Lucas Luís Valério
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Graduado em comunicação social pela Universidade Paulista (Unip) em 2009.
