Uma das maiores figuras da história do Mogi Mirim Esporte Clube vive um momento delicado de saúde. O treinador Oswaldo Alvarez, o Vadão, está internado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo. A entrada foi dada na semana passada e, desde então, ele está hospitalizado na UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) devido a complicações de um câncer no fígado. A assessoria de imprensa do hospital, apesar de confirmar a informação, não deu mais detalhes.
Nascido em 21 de agosto de 1956, Vadão trata da doença desde o início deste ano, quando o câncer foi descoberto já em estado avançado. Em Campinas, o técnico chegou a passar por sessões de quimioterapia e apresentou evolução. Porém, nos últimos dias, o quadro se agravou e ele passou a ser tratado na Capital.
A família do treinador tratava a doença sob sigilo absoluto e pediu a ajuda da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), que respeitou o desejo e vem dando suporte para Vadão, que teve como trabalho mais recente exatamente o comando da Seleção Brasileira de futebol feminino.
No Sapão
Oswaldo Alvarez está entre os maiores técnicos do Sapão da Mogiana, mas, sem dúvida, é o mais emblemático. Foi ele o responsável pela formação do Carrossel Caipira, a formação mais icônica do clube em 116 anos. Natural de Monte Azul Paulista, formou-se em Educação Física pela Faculdade Fundação Karnic Bazarian, em Itapetininga.
Atuou por dez anos como jogador profissional em clubes como Paulista de Jundiaí, Velo Clube e Noroeste. Migrou então para a preparação física, tendo exercido tal função em outro célebre time do Mogi Mirim EC. Em 1985, ele integrava a comissão técnica comandada por João Magoga e que conquistou o acesso inédito para a elite do futebol paulista.
Em 1991, com a saída do técnico Pedro Rocha, Vadão assumiu o time por algumas rodadas a pedido do então presidente, Wilson Fernandes de Barros. Retornou ao seu posto de preparador físico com a chegada de Geraldo Duarte, que permaneceu pouco tempo no clube. Com a saída de Duarte, o elenco pediu a volta de Vadão ao comando. A insistência do presidente e de dois grandes amigos – o jornalista Brasil de Oliveira e o dirigente Henrique Stort – fizeram o jovem preparador aceitar o cargo.
No ano seguinte, levou o clube às principais manchetes com a criação do ‘Carrossel Caipira’, marcado por reunir figuras como Leto, Válber e Rivaldo. Inspirado no futebol holandês, o Alvarez inovou a forma de utilizar o sistema tático 3-5-2 e entrou para a história do futebol brasileiro. Com um jogo veloz e a versatilidade dos jogadores, que mudavam de posição durante a partida, o time de Mogi Mirim incomodou muitos adversários considerados grandes e ficou gravado na memória dos amantes da bola.
Dirigiu o Sapo de janeiro de 1992 a dezembro de 1994. No ano seguinte, passou por Guarani e Araçatuba antes de ser campeão da Série C do Brasileiro pelo XV de Piracicaba. Voltou ao Mogi, de maio de 1996 a setembro de 1997. No Sapão, foi campeão da Copa 90 Anos da FPF e do Grupo 2 da Primeira Divisão do Paulistão, ambos em 1992. No ano seguinte, venceu o Torneio Ricardo Teixeira e levou o Mogi ao vice-campeonato do Torneio João Havelange.
Passagens
Após a sua última passagem pelo Estádio Vail Chaves, Vadão voltou a passar pelo Guarani e dirigiu ainda a Matonense, antes de chegar ao Athletico-PR, em 1999. Com sucesso no Furacão, em que venceu o Paranaense e o Torneio Seletivo para a Taça Libertadores, treinou o Corinthians, em 2000 e o São Paulo, em 2001 – onde revelou Kaká para o futebol profissional e foi campeão do Torneio Rio-São Paulo.
Em Campinas, tem trajetória de respeito em Guarani e Ponte Preta e é conhecido como o “Senhor dos Dérbis” e “Mister Dérbi”, já que nunca perdeu um clássico campineiro. A invencibilidade é de nove jogos, com cinco vitórias (quatro pelo Guarani e uma pela Ponte) e quatro empates (três pela Ponte e um pelo Guarani).
O técnico ainda atuou em Bahia, Tokyo Verdy-JAP, Vitória, Goiás, São Caetano, Portuguesa, Sport e Criciúma. Em abril de 2014 assumiu a Seleção Brasileira de futebol feminino, onde atuou até outubro de 2016 e depois retornou, em setembro de 2017 até julho de 2019, quando fechou seu mais recente trabalho como treinador. Pelo Brasil, ganhou a Copa América de 2014, o Torneio Internacional de Futebol Feminino de 2014 e 2015, a medalha de Ouro no Pan Americano de 2015.
Mais do que um técnico de currículo importante no futebol nacional e de trajetória ímpar em um centenário clube como o Mogi Mirim Esporte Clube, Vadão é um grande pai de família e colecionador de bons amigos. Neste momento difícil, a redação de O POPULAR deseja pronta recuperação e que Vadão saia vitorioso em seu jogo mais importante, a luta pela vida. Força, Vadão.
Foto: Naomi Baker/FIFA/Getty Images