No primeiro capítulo de seu bate-papo no Boteco, o ex-volante Amaral, ex-Corinthians e Palmeiras, aborda a desunião bem sucedida em grandes clubes formados por estrelas de temperamento forte.
Boteco – Você jogou em várias equipes com estrelas em que havia desunião, como o Corinthians, de Marcelinho, Rincón e Edílson, o Palmeiras, de 1993 e 1994, e o Vasco, de Edmundo e Romário. A maioria foi campeã. Isso mostra que a conversa de que é preciso união para o time ter sucesso não corresponde à realidade?
Amaral – É… Nosso time do Palmeiras em 1993 e 94, tinha 3 grupos. O da frente era Sampaio, Evair, Mazinho, Zinho, Antônio Carlos. Depois tinha o grupo do meio: Roberto Carlos, Edmundo, Edílson, Jean Carlo, Maurício, Velloso, Sérgio. E o terceiro que não fazia nada que era eu, Flávio Conceição, Paulo Isidoro.
Boteco – Você estava no grupo que se dava bem com os dois?
Amaral – A gente se dava bem com os dois, mas sempre tinham esses dois que brigavam. Dentro de campo todo mundo honrava a camisa.
Boteco – A turma do Zinho e Sampaio era a mais cerebral?
Amaral – Era mais elite, às vezes até escalava, opinava como o time tinha que jogar, mas no campo o time tinha uma união espetacular. Até no próprio Corinthians que tinha o Marcelinho, que às vezes se batia com o Rincón, mas dentro de campo era uma grande união.
Boteco – Para um time desunido ser unido dentro de campo e render, depende muito do técnico, como, por exemplo, o Luxemburgo que comandou Palmeiras e Corinthians vitoriosos?
Amaral – Depende bastante do treinador. Luxemburgo tinha o grupo na mão. Às vezes até algumas coisas que ele falava, o grupo não fazia, fazia diferente, mas quando o time ganhava o mérito era do treinador, porque dentro de campo às vezes, você se torna o treinador, porque está mais perto para falar: “pega aqui, pega aqui”. Às vezes o treinador faz uma tática e não tá dando, então você tenta posicionar o jogador de uma forma e aí o treinador encaixa naquilo que você faz no campo.
Boteco – Aí acabava gostando ou às vezes ficava bravo?
Amaral – Mudamos, mas a gente ganhou. Acaba gostando. Quando perde, a culpa é do treinador, quando ganha, o mérito é dele.
Boteco – No Vasco, como foi a época com Romário e Edmundo brigados? Ficava naquela de eu vou passar a bola para quem?
Amaral – Tinha sim. Uma vez eu passei a bola para o Edmundo, o Romário me xingou. Aí passei pro Romário, o Edmundo me xingou. E quando eu chutei no gol, os dois me xingaram. Aí falei: “pô, então é melhor sair do jogo”. Mas os caras me respeitavam bastante, tinha aquela divisão porque o Edmundo era o capitão e o Romário chegou e já assumiu a faixa de capitão, mas dentro de campo os dois eram bastante unidos.
Boteco – Qual era a principal diferença de um para o outro na convivência, no dia a dia?
Amaral – O Edmundo era mais dado, o Romário às vezes ficava meio fechado no lugar dele. Foram pessoas que eu tive o privilégio de ter jogado, uns dos melhores atacantes do Brasil.
Boteco – É verdade a história da cirurgia no olho?
Amaral – O Luxemburgo falou para mim da cirurgia, que eu ia acertar mais passes, aí operei, o olho ficou aberto três semanas, depois o olho caiu de novo. Aí eu falei pra ele: “que médico é esse, pô?” (risos). Teve isso aí também.
Boteco – Amaral volta para abordar curiosidades do Corinthians de 1998/99 e de como se divertia nas festas.