No último capítulo de suas histórias no Boteco, o ex-volante corintiano Ezequiel recorda um jogo marcante contra o Mogi Mirim, a chegada de Rivaldo, Válber e Leto ao Corinthians e explica a lenda do hi-fi na concentração.
Boteco – Lembra de alguma partida marcante contra o Mogi?
Ezequiel – Lembro que uma vez à noite foi 3 a 1 para nós, chovendo, em 94. Eu voltando de cirurgia no joelho. Peguei aquele zagueirão grandão, Marcão, e dei uma travada com ele perto da linha de fundo, ele deu um carrinho e eu entrei também, nós dois de carrinho, eu ainda peguei, roubei a bola dele. Aí todo mundo do banco levantou: “pô, ele machucou de novo”. Aí eu voltei pro jogo. O Joaquim Grava (médico) falou: “agora você está bom, vai jogar o resto da vida”.
Boteco – Mesmo voltando de cirurgia, você deu o carrinho, você esqueceu?
Ezequiel – Nada, eu não quis nem saber, é a minha vida. Quando é dentro de campo, minha vida é futebol. Jogo pro meu time, pros meus amigos, minha família, por mim mesmo. Foi uma glória, se fosse outra pessoa não sei não se chegaria a dar um carrinho daquele. Marcão era forte. Maravilha, estou recuperado. Hoje a cirurgia é três furinhos, a minha foi corte. Minha cirurgia que eu fiz era para ficar um ano e meio parado. Eu voltei com cinco meses.
Boteco – De tanto se dedicar?
Ezequiel – A cirurgia foi bem feita, meu corpo reagiu bem e eu fiz todo esforço, todos os fatores ajudaram um pouco.
Boteco – Como foi a chegada do Leto, Válber e Rivaldo no Corinthians?
Ezequiel – Carrossel Americano? (risos) Leto, Rivaldo, Válber, são pessoas que a gente adora.
Boteco – Lembra de algo divertido da chegada deles?
Ezequiel – Chegaram de mula, não tem como. Vieram lá da Paraíba, pessoal falava: “pô, que Carrossel é esse? Que trio é esse?”. Leto é uma pessoa que a gente gosta para caramba, são pessoas que ajudaram muito o Corinthians. Leto ficou um pouco menos, Válber e Rivaldo ajudaram muito, tanto o Corinthians, depois também contra o Corinthians, mostraram porque veio, tem que dar valor, valorizar, porque às vezes vem lá do mato e não sabe o que vai fazer.
Boteco – Quando eles chegaram, entre vocês nos treinamentos, vocês achavam que o Rivaldo era o melhor? Dava para saber que ele seria quem faria mais sucesso?
Ezequiel – O melhor era o Válber, chegou e levou os outros dois. A verdade era o Válber. E o Leto e o Rivaldo eram meros coadjuvantes. E de repente o Rivaldo começou a jogar, o Leto começou a jogar e o Válber começou a ficar para trás. Todos bons e quem vingou foi o Rivaldo, mérito pra ele, pessoa muito boa.
Boteco – É verdade a história que você colocava hi-fi no copo e o Joaquim Grava quis tomar para ver e você não deixou?
Ezequiel – Tem no livro do Vampeta essa história, mas não é verdade. Nunca ia na concentração tomar hi-fi, Fanta com vodca. Não tem jeito. E toda concentração o pessoal queria saber, o próprio Joaquim Grava. Porque eu não ficava muito com o pessoal na hora de almoçar. Eu ficava mais de sacar, pensando o que eu ia fazer no jogo, então ficava de boa. O pessoal vinha: “esse cara só pede Fanta, Fanta, Fanta. Vamos ver o que tem no copo dele”. Ficou esse negócio: “Ele tá tomando pinga com baguio”. Mas era tudo mentira.
Boteco – Você gostava muito de Fanta mesmo?
Ezequiel – Muito, até hoje tomo. Coca queira ou não tem um pouco de tóxico. Fanta e cerveja, melhor coisa que tem na vida.
Boteco – Valeu, Ezequiel!