De volta ao Boteco, o ex-volante Ezequiel relembra e aborda a importância da histórica conquista de 1990, quando o Corinthians ganhou o seu primeiro Brasileiro, e recorda brincadeiras do elenco.
Boteco – Qual a dimensão do título de 90, que modificou a história do Corinthians? Pode ser comparado à Libertadores?
Ezequiel – Acho que foi melhor que a Libertadores, melhor do que todos os títulos que o Corinthians ganhou até hoje. Porque até então fazia 23 anos que o Corinthians nunca foi campeão de nada e de repente nós chegamos lá, com um time humilde, que não tinha grandes craques e conseguimos conquistar esse título, com muita adversidade. Nos doamos, nos dois jogos da final então… Nas oitavas e tal, a gente empatava fora e ganhava em casa, todo jogo foi assim. Na final, Ganhamos os dois de 1 a 0 contra o São Paulo.
Boteco – São Paulo era o favorito?
Ezequiel – Com certeza, Raí, Muller, um monte de gente chegando, um clássico com quase 100 mil pessoas no Morumbi, é complicado.
Boteco – E a importância do Neto, como vocês encaram quando se comenta que ele levou o time nas costas?
Ezequiel – 50% Neto, 50% nós que fizemos o resto. O Neto em campo fazia prevalecer os resultados com os gols. Falta longe para caramba, ele vai fazer e chegava e fazia os gols. A maioria das vitórias das oitavas até o final quem fez as jogadas foi o Neto. Então devemos muito ao Neto por nos ter ajudado para caramba e o grupo também que foi muito consciente de ajudá-lo e nos ajudar também.
Boteco – Fora de campo, havia muita festa, saiam muito?
Ezequiel – Festa não tinham muitas, não. Mas toda terça-feira, na concentração, nos treinávamos e fazia um churrasco no Tamboréu, nosso cantinho era lá. Daí eu saía, ia para Campinas, viajava todo dia. Minha esposa tava grávida, gravidez de risco, ia para lá todo dia.
Boteco – Mas isso direto? Não chegou a morar em São Paulo?
Ezequiel – Morei quatro anos no Tatuapé.
Boteco – Os churrascos eram para lavar a roupa suja?
Ezequiel – Também, mas para ficar desinibido, conversava muitas coisas, brincava muito porque nossa vida é muito pegada, viajava direto, não tinha como fazer muita coisa.
Boteco – Muitas histórias na concentração?
Ezequiel – Concentração era meio complicado, a minha principalmente, eu era muito brincalhão, meio louco e o pessoal me amarrava nos treinos, na trave, porque eu brincava com todo mundo. “Vamos pegar o Ezequiel hoje porque ele tá muito folgado”. Aí me deixava amarrado. Aí chegou um dia, eu cheguei meio, não tava legal para treinar. Falei: “não vou treinar hoje, não”.
Boteco – Estava meio de ressaca?
Ezequiel – Não, eu tava legal, mas não tava com saco para treinar. Aí eu mesmo me amarrei na rede, falei: “aí Seo Nelsinho, pessoal me amarrou aqui, não dá para treinar”. Ele falou: “você é folgado, hein, não quer treinar?”. Aí eu falei: “hoje não tá legal”. E outra vez o pessoal na concentração me amarrou, me colocou no elevador, apertaram todos os andares, eu subia e descia. Essas coisas aconteciam comigo. Nós fazíamos também com Wilson goleiro, Ronaldo. Todo mundo amarrava.
Boteco – Neto também?
Ezequiel – O primeiro era o Neto, folgado para caramba.
Boteco – Ezequiel volta no último capítulo de suas histórias no Boteco para recordar um jogo inesquecível contra o Sapão, lembrar a chegada de Leto, Válber e Rivaldo ao Corinthians e esclarecer a lenda do hi-fi na concentração.