Campeão brasileiro pelo Corinthians em 90, o ex-volante Ezequiel recorda a chegada ao Timão e conta um curioso ritual em partidas decisivas.
Boteco – Muitas curiosidades na chegada ao Corinthians?
Ezequiel – Curiosidade foi que eu nem sabia que estava sendo contratado pelo Corinthians. Porque a gente tinha sido campeão pelo Ituano, o acesso da Segunda Divisão para a Primeira. “Você vai ter que viajar amanhã já?”. “Viajar para onde?” Eu não sabia. “Para fazer teste no Corinthians”. “Teste? Eu fui campeão no Ituano, fazer teste?”. “Não, brincadeira, já tá contratado pelo Corinthians”. Foi uma grande surpresa, coisa muito gostosa.
Boteco – Você já era corintiano?
Ezequiel – Desde pequeno. Foi uma coisa que veio de pai para filho. Meu pai era corintiano rasgado. Tem uma história que eu gosto de frisar. Um pouco antes de meu pai falecer, eu sentado no colo, com 16, 17 anos, eu já jogava na Ponte Preta. Meu pai me disse que um dia eu ia jogar no Corinthians. Graças a Deus, eu fiz o pedido do meu pai. Meu pai faleceu em 81, eu tava começando profissionalmente na Ponte Preta, não chegou a ver, mas tenho certeza que tudo que ele pediu eu realizei, pude fazer um trabalho muito bom em todo time que passei, é gratificante. Fui abençoado.
Boteco – Você provocava os meias que marcava?
Ezequiel – Nunca, quem provocava era eles, porque eu não deixava ninguém em paz. Até hoje muitos falam. Qual foi o melhor marcador seu? Ezequiel, porque eu não saia do pé.
Boteco – Marcação individual?
Ezequiel – Individual, eu era formiguinha, foi uma coisa que marcou muito. Hoje não tem isso no futebol, hoje marca por setor. Marcando setor você perde uma jogada ali, vai fazer o quê? Vai sobrar na zaga. Mudou muito o futebol, os volantes hoje estão mais atacando do que defendendo, então fica difícil. É diferente. A gente era doutrinado mesmo, carregador de pedra e fazíamos mesmo. Hoje tem marcador que marca só um pouquinho, depois sai do lado, não marca mais, não fica até o fim na jogada, vai sobrar na zaga.
Boteco – Quem você lembra de marcação complicada?
Ezequiel – Peguei muito Raí, Edmundo, Romário, Ronaldo.
Boteco – Como era com Romário?
Ezequiel – Difícil, ô Baixinho sem vergonha, muito esperto.
Boteco – E o Edmundo?
Ezequiel – Ele fica esperando você fazer, ele não vem em cima de você, ele espera você agir em cima dele. Tinha que ter muita cautela pra marcar o Edmundo, era complicado.
Boteco – Quais jogadores te provocavam?
Ezequiel – O Edmundo era um, provocador. E depois ele vinha marcar, vinha roubar a bola de maneira mais agressiva. A gente sabia jogar, tudo amigo, procurava fazer o melhor.
Boteco – Antes de um jogo importante você tinha algum ritual, alguma superstição?
Ezequiel – Assim, deu o início do jogo, a primeira bola tem que passar no meu pé. Se passar no meu pé, aí eu ia bem. A bola tem que passar no meu pé a primeira vez. Quando não passava, ia para a frente, aí vai ser uma porcaria hoje. Eu tentava correr para ver se dava uma melhorada.
Boteco – E você pedia para os jogadores passarem para você primeiro?
Ezequiel – Eles sabiam: “passa no neguinho, senão hoje vai ser uma m…”. Para tirar aquele peso. Nosso jogo era aquela muvuca, torcida gritando, pessoal gritando meu nome. Você tinha que fazer por onde para jogar, tentar ajudar os companheiros, tinha um peso nas costas muito grande.
Boteco – Ezequiel volta para relembrar a histórica conquista do Brasileiro em 1990 e brincadeiras do elenco.