No terceiro capítulo de suas histórias, a ex-atleta Fabiana Murer comenta curiosidades das duas conquistas de Mundiais de salto com vara e fala do sabor de uma vitória especial.
Boteco – Qual a situação mais curiosa que você passou nas conquistas dos dois Mundiais?
Fabiana – O Mundial que eu fui campeã em 2011, em Daegu (Coreia do Sul), o Mundial de Pista Aberta, a segunda vez que eu ganhei medalha de ouro… foi um ano muito difícil para mim. Eu tava meio mal. Eu ia bem nas competições, mas eu não tinha muita vontade de saltar. Eu cheguei em um momento que a gente chama de overtraining. Treinei demais e estava muito cansada, de pensar, só de pensar em saltar. E aí, fui fazendo os treinos, descansando. O ano não foi muito bom, mas cheguei no Mundial, parece que eu me transformei, eu era outra pessoa, outra atleta, parecia que eu tinha me preparado aquele ano só para aquela competição. Porque nas outras competições, eu não tinha muita vontade, mas chegou no Mundial, eu tinha muita vontade de ganhar. E foi um momento que eu mesmo me assustei. Eu estava fazendo um aquecimento antes de entrar… Tem uma pista de aquecimento e a pista principal de competição. Eu tava na pista de aquecimento e falei: acho que eu não tô muito bem, mas vamos ver o que dá. Quando pisei na pista, comecei a fazer o salto de aquecimento, eu era outra pessoa, tudo começou a se encaixar, acontecer da melhor forma possível, tudo foi dando certo, e aí até eu ser campeã mundial.
Boteco – O psicológico influencia também nessa hora ou, na verdade, neste tipo de esporte, é mais o treinamento mesmo?
Fabiana – O psicológico influencia muito no salto de vara. Se você olhar o sarrafo e falar “tá muito alto”, com certeza, não vai passar. Então, tem que acreditar que vai passar. Lógico, o salto com vara é uma prova muito técnica. Então, tem que ter essa concentração para fazer bem a técnica. Não pode ter medo da vara. Porque se tiver medo, “ah, essa vara é muito forte, é uma vara que eu preciso colocar mais energia”, também vai ser difícil. Tem que ter um pensamento positivo na hora da prova, pensar que vai conseguir. Era umas coisas que eu sempre repetia para mim: “Sou capaz, é possível”. Eu imaginava o salto antes de fazer para eu passar essa energia positiva, pensar positivo, pensar que não é tão complicado assim e que eu conseguiria fazer o salto. Então, o psicológico é importante.
Boteco – Nesses Mundiais, houve alguma adversária que você admirava muito, tinha até como referência e sentiu a sensação de, além de ter sido ouro, ter superado ela?
Fabiana – A Yelena Isinbayeva, né, recordista mundial. É uma atleta que eu falava: “Nossa, vou ser sempre segunda, nunca vou ganhar dela, o que que eu tô fazendo aqui?”. Teve momentos que eu tava pensando nisso. Vou ser sempre segunda? Não, quero ganhar um dia. E aí, em Doha (Qatar), quando eu fui campeã mundial em pista coberta, ela tava lá na prova, mas lá no fundo, eu acreditava que era possível eu superar ela, mas eu sabia que era muito difícil. E aí ela acabou não indo… Ela saltou, mas não foi muito bem. Aí eu falei: “Agora, eu tenho que ganhar. Já que ela não ganhou, eu que tenho que ganhar”. E aí eu fui saltando e ganhei, tinha até uma outra russa na prova também muito boa e eu ganhei dessa outra russa também, mas é um gostinho diferente, sim. Quando você ganha de uma recordista mundial é bem especial.
Boteco – Fabiana volta, no último capítulo de seu bate-papo, para abordar curiosidades e frustrações em Olimpíadas.