Bicampeã mundial de salto com vara, a ex-atleta Fabiana Murer recorda o curioso episódio do sumiço de uma de suas varas nas Olimpíadas de 2008, em Pequim, na China.
Boteco – Qual você considera ter sido sua história mais marcante na carreira?
Fabiana – Olha, acho que o grande marco da minha carreira… Um deles foi quando eu bati pela primeira vez o recorde sul-americano, que era de uma argentina, então, era uma marca que eu queria bater muito, uma atleta que eu queria bater, já tinha competido com ela. E a partir daí, foi um degrau que eu subi na carreira, porque a partir daquele resultado, consegui entrar nas competições internacionais, justamente na Europa, onde está o principal circuito mundial de competições. E lógico, ser campeã mundial em pista aberta foi outro marco bem legal da minha carreira, porque é a única medalha de ouro que o Brasil tem em campeonato mundial em pista aberta.
Boteco – O desaparecimento da vara foi algo que te frustrou? O que aconteceu, na verdade?
Fabiana – É, foi na Olimpíada, de Pequim, em 2008, era minha primeira Olimpíada. Era um grande sonho meu, eu fiz ginástica artística, antes, desde os 7 anos, e, mesmo na ginástica, já tinha esse sonho de estar em uma Olimpíada. Entrei no atletismo, novamente, vendo uma possibilidade de chegar na Olimpíada e cheguei. Em 2008, na minha primeira Olimpíada, muito animada, bem, com condições de disputar medalha. E passei pela qualificação bem tranquilo. Quando cheguei na final, fiz o 1º salto, superbem. Quando fui trocar de vara, as varas têm flexibilidades diferentes. Quando fui fazer essa troca de vara, para pegar uma mais forte, para saltar mais alto, essa vara não tava lá. E aí comecei a procurar, falava para eles irem procurar no depósito do estádio, porque eu achava que estava lá. E aí meu técnico teve que sair correndo, foi até o depósito, falou: “Olha, sua vara não tá lá, tem que estar na pista”. Aí eu procurei no meio das varas de todas as meninas, não estava na pista. E aí o que eu descobri depois, no final… Quando a gente carrega as varas, a gente carrega dentro de um tubo para elas ficarem protegidas. E nas Olimpíadas, fizeram um carrinho com alguns casulos para guardar as varas. Então, eles tiraram as varas de dentro desse tubo e colocaram nesse casulo. E na hora da troca, uma das minhas varas se misturou com a vara das meninas que não tinham se classificado para a final e voltou para a Vila Olímpica. E acabou a competição, fui para a Vila, pensando: o que aconteceu com essa vara, onde foi parar? Esqueci em algum lugar, não, usei ela na qualificação, depois eu guardei, tinha certeza que eu tinha guardado. E aí andando pela Vila, passei pelo depósito e vi minha vara. Um chinês com a vara na mão, tirando foto, que acho que a organização pediu pra ele ver se tava lá. E ele achou uma vara, tirou foto para mandar para organização. E eu descobri o que tinha acontecido, que essa vara tinha voltado para Vila. Então, achei no mesmo dia, mas muito depois do que eu precisava.
Boteco – Você tinha alguma superstição, algum ritual antes das provas ou no dia anterior?
Fabiana – Não, não, não tinha nenhuma superstição, porque eu nunca tive, sempre procurei não ter, porque se eu tivesse algum problema… às vezes é um amuleto. Se eu esquecesse o amuleto, o psicológico já ia ser afetado. Então, eu preferia não ter nenhum amuleto… Lógico que eu tinha o meu ritual de aquecimento, como eu tinha que fazer o aquecimento, mas nada muita frescura, não (risos).
Boteco – Fabiana volta para abordar curiosidades sobre as dificuldades para transportar as varas em viagens aéreas.