De volta ao Boteco, o ex-zagueiro Fábio Luciano recorda uma viagem com a torcida da Ponte Preta e revela como contornava a revolta de torcedores organizadores no Corinthians e Flamengo.
Boteco – Como foi viajar junto com a torcida da Ponte?
Fábio – Quando eu estava começando a jogar, eu luxei o cotovelo e a Ponte estava jogando para subir no Paulista. Era um jogo em Rio Preto. E a gente sempre escuta falar que o torcedor viaja e não tem dinheiro para nada, não tem dinheiro para comer, tomar refrigerante, tira dinheiro de casa. E eu sempre fui meio maluco, também fui torcedor.
Boteco – Você foi de organizada?
Fábio – Não fui da organizada, mas eu ia muito no jogo da Ponte e ficava no meio ali. Fiquei uma época na Serponte, depois na Jovem porque tinha alguns amigos.
Boteco – Então o pessoal já te conhecia na viagem?
Fábio – Ah, sim, quando eu comecei a jogar na Ponte até me cobravam mais porque eu já era do meio deles. Aí resolvi viajar com eles, não tava jogando. Falei, vamos ver se os caras realmente passam isso, deixa eu viver essa experiência. Aí fui de ônibus com eles, vi que realmente eles passam fome, eu dou muito valor. Foi incrível, o pessoal me tratou super bem, mas eu consegui ver que é dificuldade mesmo, os caras fazendo vaquinha pro cara comer um lanche, o cara não ter dinheiro para comprar uma Coca de R$ 1, o pessoal ajuda. Isso me ajudou muito a ser capitão, sempre respeitei muito torcedor. Quando eu era capitão do Corinthians e a torcida ia cobrar, eu era o primeiro que queria escutar. Porque muita gente, o pessoal vai cobrar e os caras falam: “manda embora, enfia porrada nesses caras”. Eu também acho que não estão no direito deles, acho que a forma de cobrar é ir no estádio, vaiar, no jogo. Não concordo de ir lá durante a semana tumultuando e querer confusão. Mas eu entendia e era o primeiro cara que queria conversar. “Vocês estão aqui por algum motivo, vocês não estão aqui de graça”. A gente como tem muito tempo na bola você sabe quando o cara está lá de graça, quando é algum interesse político, próximo de uma eleição. Mas quando o time não estava legal eu era o primeiro a escutar. “Vamos reunir”. Os caras iam lá para quebrar tudo. “Não vamos quebrar, não, vamos conversar primeiro”.
Boteco – Você fazia essa junção de torcida e elenco?
Fábio – Não era junção, eu escutava sozinho. Um exemplo. Tinha 200 caras da torcida ali, pega uns 5 caras que lideram, sempre tem as lideranças, não são 200 que mandam. Eu tomava a frente, bota a liderança e vamos falar. Resolvia, a gente conseguia resolver de um jeito que não precisava quebrar tudo. Eu no Flamengo tive um episódio que o pessoal foi tumultuar, teve o dia que jogaram uma bomba na Gávea, mas isso fugiu da gente porque foi um negócio inesperado, mas depois que aconteceu, que eu chamei os caras para conversar… Porque ia ser um negócio monstruoso, a ideia dos caras era ir no aeroporto, bater em jogador, a gente ia jogar em Goiânia, eles queriam ir no aeroporto de lá para pegar a gente, se não conseguisse pegar no Rio. E em uma conversa a gente conseguiu resolver tudo, conseguimos colocar um pano quente e gente viajou tranquilo. Depois não tive mais nenhum problema. Eu falei: “eu conheço um pouco de vocês, também fui torcedor, também fui de organizada, sei como funciona, quando quiser falar, vamos tentar primeiro conversar, depois vocês partem para outro lado, aí foi super tranquilo”.
Boteco – Fábio retorna para relembrar a surpreendente estreia no Mundial de Clubes de 2000 pelo Corinthians e contar como foi considerado louco na chegada ao Flamengo!