Afinal, Luiz Filipe Guarnieri Manara é um legítimo mogimiriano. Iniciou a vida no tênis de mesa por aqui e depois alçou voos mais altos. Graças ao título de campeão, na Classe 8, nos Jogos Parapanamericanos de 2019, em Lima, no Peru, garantiu vaga na Paralimpíada de Tóquio. E ele já está por lá há uns dias.
Saiu do Brasil em 5 de agosto e deve ficar na “Terra do Sol Nascente” até o início de setembro. Terá pela frente a competição individual, na Classe 8, com previsão de primeiro jogo para terça-feira, 24, entre 23h e 23h40 aqui no Brasil (será entre 11h e 11h40 do dia 25 no Japão). O torneio segue até o dia 30 e o evento por equipes, até 3 de setembro.
Manara não consta entre os favoritos. Tanto que chega ao Japão no chamado “Pote 3” para o sorteio das chaves, que deve ocorrer dois ou três dias antes da estreia. Assim, tem boas chances de pegar um dos quatro cabeças-de-chave e já projeta alguns dos nomes do “Pote 2”. Tudo tranquilo. Se preparou muito bem para a segunda Paralimpíada. Isso mesmo, em 2016, graças ao título no Parapan de 2015, em Toronto, no Canadá, se credenciou para representar o país no maior torneio de sua modalidade. E repetirá a dose daqui a alguns dias.
E não está só pronto. Está motivado! “Lógico que quando chega uma competição dessa magnitude e você passa a receber mais mensagens, inclusive de crianças, adolescentes, falando que se inspiram em você, isso é muito legal”. Nada que não faça Manara ver toda esta empolgação e apoio com passageiros. Aliás, esta citação é apenas uma aspa para a entrevista completa que fizemos com o mogimiriano. Confira abaixo:
Quais as sensações diferentes que sentiu nesta segunda experiência de véspera de Paralimpíada em comparação com a estreia, em 2016?
Eu acho que sensação diferente é a questão de todo o protocolo que a pandemia do Covid-19 impôs para todos os atletas desde que a gente chegou aqui no Japão. Ainda teve a questão de parte do grupo ficar isolado e a gente está isolado até hoje. A gente brinca aqui que uma parte não veio para oJapão ainda, porque os treinos são em horários separados, eles só ficam dentro do quarto a gente não tem contato . Então, acho que muitas dessas sensações, assim, é por conta da pandemia. Mas, assim, eu me sinto mais calmo, um pouco mais. Não está dando, ainda, pelo menos não deu aquela ansiedade pré-competição. É lógico que quando você chega na Vila Paralímpica, daí já bate uma sensação, um sentimento mais firme de que chegou mesmo a hora dos jogos, mas eu achei que eu fosse ter mais essa sensação por ser em um país diferente, por saber que você está viajando para isso, porque na Rio 2016 eu fiz acrementação em São Paulo, mas eu estava perto de casa, eu estava no ambiente que eu treinava sempre e tudo mais. Então, é esperar pra ver como que eu vou reagir a isso, mas eu estou mais seguro nesse sentido, mas, ao mesmo tempo, preocupado, com o receio, por conta do ocorrido e tudo mais que pode tirar qualquer atleta da competição, algo que é muito complicado né? E a gente se protege, obviamente, mas é difícil de lidar. Espero passar aí esses jogos sem sofrer com essa questão e tenho fé que vai dar tudo certo nesse sentido.
Como chega o Luiz Filipe Guarnieri Manara, enquanto atleta, pessoa e agente transformador através do esporte, em 2021, em relação ao Luiz Filipe Guarnieri Manara de 2016?
Eu acho que até por uma questão natural eu chego mais maduro. E não chego mais preparado, nem tecnicamente e nem fisicamente até por conta da questão da pandemia. Mas, eu acho que é uma questão de todos os atletas , todos passaram por isso. Eu tive que brigar pra ter uma condição um pouquinho melhor pra treinar e sempre falando, ó tem uma paralimpíada pra disputar e sempre tinha que escutar, a gente não sabe nem se vai ter ou não, aquela coisa. Mas, eu tinha a confiança e até foram poucos os momentos que se passaram pela minha cabeça de que os jogos não iriam ocorrer. Mas eh é isso né? Eu não chego com aquela cobrança que eu tinha antes, não chego buscando resultado pros outros, mas sim pra mim e para aqueles que torcem por mim. Então acho que eu estou mais leve nesse sentido. É como agente transformador no esporte eu acho que é um negócio complicado. Eu sempre achei muito difícil ter essa visão da minha importância para o esporte e, ao mesmo tempo, tanto por mim quanto pelos locais que eu jogo, talvez nunca tive uma imagem tão explorada. E aqui eu faço um mea culpa. Então, eu não sei realmente qual é a minha importância. Lógico que, quando chega uma competição dessa magnitude, você passa a receber mais mensagens, inclusive de crianças, adolescentes, falando que se inspiram em você, isso é muito legal, mas eu ainda acho que é algo que, no Brasil a gente vive isso como algo muito passageiro ainda. Mas, eu espero conseguir transformar isso de alguma forma pra ajudar o esporte a expandir.
O quanto a pandemia de Covid-19 influenciou este ciclo paralímpico e, para você, qual será o peso, positivo ou negativo, dos jogos ocorrerem em 2021 e não em 2020?
Eu acho que a pandemia influenciou de forma negativa pra todo mundo, até pela questão mental, de que todos atletas e pessoas de qualquer outra área todo mundo vivenciou. Eu acredito que é difícil encontrar alguma pessoa que fala assim, eu passei pela pandemia tranquilo, sem momentos de tristeza, sem momentos de angústia. Pra mim esses momentos às vezes foram até longos demais, tive dificuldade em algum momento de lidar com isso, até por estar parado, não poder estar treinando e eu sinto muita falta dessa rotina de treinamento. E assim, tentando ver um lado positivo das coisas, não sei nem se isso é positivo, acredito que muita gente teve dificuldade pra treinar. Eu sou um atleta que eu venho pra paralimpíada correndo por fora, eu sempre faço questão de frisar que minha chance de medalhas são pequenas e eu venho buscando o desempenho. Não sei se eu vou ganhar um jogo, se eu vou ganhar dois jogos, se eu não vou ganhar nenhum, não sei o que vai acontecer, mas eu quero, a partir do momento que eu tiver na mesa, conseguir desempenhar bem, fazer aquilo que eu estou, que eu vou me propor a fazer. Espero que isso aconteça, mas como eu sou alguém que tá correndo por fora, pensar que os favoritos não puderam treinar tanto talvez me ajude um pouco. Talvez me dê uma chance a mais, porque a lembrança que eu tenho na Rio 2016 é que esses jogos são campeonatos em que nivela um pouco mais por baixo a pressão. Está difícil você ver um atleta jogando muito solto, a não ser que ele tenha uma cabeça muito bem preparada. E eu, como corro por fora, tento usar isso ao meu favor. É ver se vai dar certo ou não. Qual que vai ser o resultado disso, eu não sei, mas eu quero sair daqui sabendo que eu fiz tudo o que eu podia, que desempenhei bem.
Crédito das fotos: Rodolfo Vilela/ rededoesporte.gov.br