No dia 14 de julho de 2015 o Mogi Mirim disputou a última partida antes da “Era Luiz Henrique de Oliveira”. Naquela terça-feira à noite, o torcedor que foi ao Estádio Vail Chaves assistiu a um espetáculo. Rivaldo e Rivaldinho ganharam as manchetes do planeta todo. Eles marcaram os gols da vitória de 3 a 1 do Sapão sobre o Macaé (dois do filho, um do pai), em um feito raro no futebol profissional.
Era a 13ª rodada da Série B do Brasileirão e o Alvirrubro, mesmo na zona de rebaixamento, mostrava condições de brigar para não cair. Não foi o que aconteceu. O que veio a seguir, nos 2.362 dias seguintes foi a pior fase em 40.815 dias de história. Do dia 14 de outubro de 1903, quando foi registrada a ata de fundação do primitivo Mogy-mirim Sport Club, até 31 de dezembro de 2021, último dia da “Era LHO”, nenhuma fase foi mais desastrosa à agremiação do que esta.
Luiz Henrique de Oliveira assumiu a presidência do clube, formalmente, pela primeira vez, em 15 de julho de 2015. A crise não começou ali. Rivaldo já havia deixado o clube em uma situação delicada, com uma gestão de bons resultados desportivos, mas que foi incapaz de gerar autossuficiência financeira. Com o próprio Rivaldo, presidente da diretoria executiva entre outubro de 2008 e julho de 2015, foi firmado um acordo para o pagamento de uma dívida de R$ 10,5 milhões.
Ao menos nas contas do dirigente, que também assumiu para si dois centros de treinamento para quitar outra parte da dívida que ele entendia que o clube tinha com ele: R$ 6,8 milhões. As transferências são contestadas na Justiça, mas o rombo aconteceu. Rivaldo tentou passar a gestão para frente e foi encontrar em LHO, à época apadrinhado pelo empresário português Victor Manuel Simões, a solução para deixar a cidade.
O rombo, porém, só aumentou. A última diretoria se afastou do clube em dezembro, após a Justiça suspender a eleição convocada por ela, em novembro e decretar, em janeiro, intervenção judicial. Desde então há uma vacância no poder. E, em entrevista ao jornal A Comarca, o cartola disse que não pretende mais assumir a cadeira, mesmo que consiga reavê-la, colocando, ao menos na promessa, um ponto final em sua passagem pelo MMEC.
A questão é que o legado de Luiz vai durar por muito tempo em Mogi. E não é dos melhores. Sob a sua gestão o Mogi acumulou dívidas trabalhistas (mais de R$ 7 milhões – levando à penhora do Estádio Vail Chaves) e com fornecedores. Apenas com o Saae (Serviço Autônomo de Água e Esgotos) a conta passa dos R$ 400 mil. Cortes de energia elétrica também se tornaram praxe.
Derrotas
Porém, nesta reportagem, vamos focar no ponto principal do MMEC: o futebol. Nos 2.362 dias da “Era Luiz Henrique de Oliveira”, o Mogi jogou, profissionalmente, 130 vezes. Foram 25 partidas em 2015, 33 em 2016, 37 em 2017, 25 em 2018 e 10 em 2021. Entre 2019 e 2020 o clube não registrou jogos profissionais, fato que se repetirá em 2022.
O Mogi fez 63 partidas no Campeonato Paulista, sendo 15 na Série A1, 19 na Série A2, 19 na Série A3 e 10 na Segunda Divisão. Em nível nacional, mais 67 jogos, sendo 25 na Série B, 36 na Série C e seis na Série D. O período nebuloso é evidenciado pelos números. No total, com LHO na presidência, foram 130 jogos, com 78 derrotas, 30 empates e apenas 22 vitórias. Ou seja, o time perdeu três vezes mais do que ganhou! O ataque pouco funcionou, com 118 gols a favor, mas a defesa foi arrombada com frequência: 227 gols sofridos. Em nível estadual, 40 derrotas, 12 empates e 11 vitórias. Já em competições nacionais, 11 vitórias, 18 empates e 38 derrotas.
Degolas
O aproveitamento pífio de 23,58% dos pontos não poderia culminar em outra situação. Com LHO o Mogi disputou oito competições profissionais e foi rebaixado em cinco delas. Caiu na Série B e na Série C do Brasileiro e registrou uma inédita tríplice queda, nas séries A1, A2 e A3, entre 2016 e 2018.
O único torneio em que o rebaixamento era previsto o Sapo não caiu foi a Série C de 2016, em que foi o oitavo de sua chave e o nono (Portuguesa) e o décimo colocado (Guaratinguetá) caiam. Nas outras duas competições, não houve queda, porém, o regulamento também não previa descenso. Mesmo assim, campanhas vergonhosas. Na Série D de 2018, entre os 68 participantes, o Mogi teve o 61º pior desempenho, com uma vitória e cinco derrotas. Já no retorno profissional, em 2021, na “Bezinha” do Paulista – o quarto nível estadual, foi o terceiro pior time entre os 35 participantes.
Vexames
Além das marcas que renderiam facilmente o título de “Ibis dos presidentes de clubes” a LHO, foi no período com o cartola à frente do Sapo que outras marcas foram cravadas. Em 2016, na Série C, perdeu quatro pontos pela escalação irregular do jogador Henrique Motta, que estava suspenso e mesmo assim foi escalado diante do Macaé-RJ.
Na Série C de 2017 o Mogi perdeu por 8 a 1 para o Joinville, na última rodada, em uma das maiores goleadas já sofridas em 118 anos de história. E também teve duas derrotas por W.O. Na mesma Série C, diante do Ypiranga, devido a uma greve dos jogadores por falta de pagamentos dos salários e na Série A3 de 2018, quando o clube, já com o Vail Chaves interditado por falta de laudos e atuando em Itapira, conseguiu a proeza de não avisar a Federação Paulista, na 16ª rodada, em que local aconteceria o jogo com o EC São Bernardo. O jogo foi suspenso e o Sapo derrotado por W.O.
A agora ex-gestão pegou o Mogi Mirim na Série B do Brasileiro e na A1 do Paulista e, após 2.362 dias, entregou o clube, cheio de dívidas, sem divisão nacional e no último estágio estadual – isso quando consegue jogar. Após Wilson Fernandes de Barros alçar o clube das divisões inferiores à elite do futebol estadual – e beirar a elite nacional – em 9.622 dias na presidência (entre 1º de janeiro de 1982 e 6 de maio de 2008), LHO precisou de pouco mais de 1/4 deste período para que o clube regredisse a 1953, último ano antes do profissionalismo. Com uma ressalva, nos primeiros 50 anos de Mogi, nem se cogitava uma dívida tão grande como atual e os olhos não cresciam na penhora do Estádio Vail Chaves.