Em 93 anos, os sorvetes produzidos pela família Botelho agradaram e ainda agradavam o paladar de muitas pessoas que, se não levassem as delícias para a casa, acabavam por saborear a guloseima ali mesmo ou logo em frente, na Praça Rui Barbosa, embaixo das árvores, enquanto acompanhava o movimento do Centro da cidade. Mas este capítulo da história mogimiriana ficará registrado na memória de quem vivenciou o período, nas páginas de jornais e artigos sobre a cidade, pois na quarta-feira, dia 25, após mais de nove décadas, a Sorveteria do Genário será desativada e as últimas casquinhas serão servidas. Pelo menos por enquanto.
De acordo com o proprietário do estabelecimento, Carlos Botelho, os motivos para o fechamento da sorveteria são inúmeros, mas especialmente a crise econômica que assola o País. “A ideia da desativação não é de hoje, é de pelo menos cinco anos. É uma decisão difícil, mas é necessária. São muitos motivos, mas a gota d’água foi a crise. Os produtos não param de subir desde o ano passado e fica difícil para repassar. Mas também tem outros motivos de ordem particular. Chega uma hora que você tem que parar e viver a sua vida”, disse Carlos.
O atual proprietário é neto do fundador da sorveteria, José Botelho. Na época de seu avô e também até aproximadamente 1950, a sorveteria funcionava ao lado da Matriz São José. Desde a época em que a sorveteria foi fundada e até o início de 1990 o nome do local era Sorveteria São José e, só depois, com Carlos Botelho na direção do estabelecimento é que passou a se chamar Sorveteria do Genário, nome de seu pai.
“O nome tem 24 anos. As pessoas não diziam que iam à Sorveteria São José, mas tomar sorvete no Genário, por isso primeira coisa que fiz foi mudar o nome da sorveteria”, explicou Carlos.
Nelson Patelli Filho, memorialista, que escreve a coluna Memorial do jornal O POPULAR, foi mais uma entre tantas pessoas que aproveitaram os tempos da Sorveteria São José, posterior Sorveteria do Genário. Ele conta que praticamente toda a população da cidade, inclusive, os estudantes tinham o costume de frequentar o local após as aulas. “Tinha até um grupo chamado Turminha do Sorvete, que era um grupo de moças e rapazes que se reuniam na sorveteria para um bate-papo. Isso nos anos 1950 e 1960”, recordou.
Não somente a população da cidade é que aproveitava para se deliciar com os sorvetes como também pessoas que passavam por aqui. “Posso acrescentar que presenciei pessoas que passavam por Mogi Mirim com destino a São Paulo e a Poços de Caldas. Inclusive, para mim algumas pessoas que passavam de carro chegaram a perguntar onde ficava a sorveteria. Isso era constante porque era muito famosa. É uma pena saber disso. É mais um patrimônio histórico que vai desaparecer”, finalizou Nelson Patelli Filho.
Sabores e a uvaia
Entre tantos sabores, o sorvete mais querido pelas pessoas no auge do estabelecimento era o sabor de nata, em segundo lugar, o de ameixa. Nata, de acordo com Carlos, continua na liderança.
Nelson Patelli Filho também relata que havia um sabor que era muito difícil ser produzido, mas que era sucesso quando feito: o de uvaia. “Inclusive, a Nice (esposa do Genário, que produziu os sorvetes por muitos anos) sempre encomendava 20, 30 litros, pois eu tinha e ainda tenho os pés em casa, e em troca ela me dava alguns quilos de sorvete”, recordou.
Até breve
Carlos Botelho fez questão de frisar que a Sorveteria do Genário será desativada, mas pode voltar a funcionar um dia. A marca Genário, inclusive, foi patenteada pelos filhos de Carlos para que, quem sabe num futuro próximo, seja utilizada novamente. “Há quase um ano meus filhos patentearam a marca da sorveteria porque temos que preservar o nome e a receita do sorvete. Afinal, são quase cem anos. Quem sabe mais para frente eles possam reabrir”, finalizou.
Enquanto isso, o prédio será alugado.