Feche os olhos, tape seus ouvidos. Utilize suas mãos ou seus pés e sinta aquilo que a natureza te proporciona de melhor. Sinta os cheiros, a consistência da terra molhada e aprecie o vento batendo em seu rosto, refrescando o calor intenso em um dia de sol. São nessas condições que os alunos atendidos pelo Centro Municipal de Apoio e Atendimento Especializado (Cemaae) passam algumas horas de seus dias.
Nos fundos da escola, uma grande área começa a se modificar. O espaço, até então ocioso, dá lugar a terra e novas plantas. É um grande quintal, onde árvores, verduras e até mesmo pequenas flores, decoram e alegram o ambiente, como no fundo das casas que costumamos ver no interior.
Ao descer pela rampa de acesso, há um jardim não só para ser visto, mas sim, sentido. Trata-se do jardim sensorial que visa estimular os sentidos das crianças e dos jovens atendidos. Um caminho com pedras, areia, pedaços de bambus, dentre outros, fazem a festa da criançada, que não liga em percorrer pelo mesmo trajeto mais de uma vez.
“Comecei aqui como diretora em maio e já tinha a ideia de desenvolver esse projeto. O jardim sensorial é ideal para crianças que têm dificuldades. Acalma, porque estimula todos os sentidos”, resumiu a diretora do Cemaae, Nair Dovigo. No entanto, o jardim ainda não está totalmente pronto. “Queremos colocar uma fonte d’água para fazer barulho e algo para simular vento”, revelou.
À frente do jardim, o verde já dá o colorido da horta. Alfaces que são cuidadosamente plantadas e aguadas pelas mãos das crianças. “Aprendemos a plantar salada, colocando o composto orgânico, e fazendo um buraco na terra para colocar a muda”, explicou Thales Poletini, de 19 anos. As mudas foram plantadas antes dos alunos saírem de férias.
Além das lições ecológicas, a idéia é introduzir os jovens, que muitas vezes não têm oportunidades de emprego, na comercialização dos produtos. “Estamos fazendo pra comercializar e consumir na escola também. Acredito que isso vai estimular eles a comer, porque quando eles plantam, eles querem colher e experimentar”, revelou a diretora.
Com a montagem de kits, será possível vender as verduras, que não possuem agrotóxico nenhum, para os professores da escola, para a vizinhança e para as próprias famílias dos alunos. “Vamos trabalhar com a matemática também”, acrescentou Nair. O dinheiro arrecadado poderá ser utilizado em passeios com as crianças.
Toda a equipe, alunos e professores, que colocam a mão na terra, trabalham também em um novo experimento para a economia de água. É o canteiro econômico. “Colocamos a terra, depois a lona e uma garrafa cheia de furos”, resume Diego Tagliaferro Ricci, de 16 anos. “Economiza 50% de água, porque a garrafa tem um cano que mantém a água e a planta absorve”, completou o aluno.
Mas o “Raízes de Luz”, nome dado ao projeto, não para por aí. Árvores foram plantadas em um pomar que, quando os frutos forem colhidos, serão comercializados na Feira do Produtor, às quartas-feiras, pelos alunos do Educação de Jovens e Adultos (EJA). A expectativa é que neste mês o trabalho social comece e dure pelo menos seis meses, como uma experiência.
O QUE É O CEMAAE?
O Centro Municipal de Apoio e Atendimento Especializado Rachel Ramazzini Mariotoni (Cemaae) atende crianças e jovens com deficiência auditiva, visual, intelectual e física, que frequentam o ensino regular. São aproximadamente 80 alunos atendidos atualmente. No contraturno escolar eles recebem estímulos específicos para a aprendizagem de acordo com a deficiência de cada um. O centro, que também possui Educação de Jovens e Adultos (EJA), está em funcionamento desde o final de julho do ano passado.