sábado, novembro 23, 2024
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Floresça onde a vida te plantar!

Esta vai ser minha última coluna do ano, embora ainda tenhamos mais 15 dias até que ele acabe. Vou usar essas linhas para dividir parte do que esse coraçãozinho aqui viveu com a única pretensão que grave aí dentro de você que “tudo passa”, seja os seus melhores ou os piores dias.

Comecei 2022 com a orfandade pela morte da minha Cidinha. Foram dias sem alma, sem cor, sem sabor, sem sentindo. Enquanto eu tateava ao meu redor para reconhecer o que havia sobrado, Gabi decidiu que precisava voar e o fez sem que eu estivesse preparada. Eu, que pelos últimos 18 anos não havia feito outra coisa que não facilitar seu caminho, agora tive apenas que “aceitar” e me acostumar, num piscar de olhos, que seria tudo além de mim.

Em seu livro “As coisas que você só vê quando desacelera”, o zen-budista Haemin Sunim afirma que tudo o que vemos é contaminado por nossas emoções. Ou seja, quanto mais longe da racionalidade e mais perto dos sentimentos potencializados estivermos, mais chances de que nossas feridas tomem conta da situação.

Vejam bem, nada disso tem relação com minha vó ou com a Gabi, tem a ver comigo. Tudo o que vemos e sentimos é nosso. Eu e você podemos estar diante da mesma cena, ainda assim cada um a descreverá de uma forma e em cada um será despertada uma emoção.

Quando a pandemia chegou faltava apenas 15 dias para eu disputar uma meia-maratona. Estava treinando muito, fazendo tudo que precisava ser feito, na melhor forma física que já tive. Também estava na fase dos amigos festeiros, sempre tinha um “quilinho fardinho” no final de semana ou uma viagem para assistir as crianças jogarem. De repente, não tinha mais nada.

Depois de alguns dias, salvo a preocupação com o futuro da humanidade, adorei ficar em casa, mas não foi natural desacelerar. Eu gostava da vida que vivia, das escolhas que fazia e, de repente, não podia mais. Foi o que senti novamente desta vez: tinha orgulho de ainda ter vó com 40 anos e adorava a configuração da minha casa como ela era. Eu só queria continuar ali.

Só que foi mais difícil, bem mais difícil. Vocês já viram a cena de como um tsunami começa? Antes de chegar à superfície ele está lá no fundo do mar, revirando cada grãozinho de areia. Foi assim comigo. Não fazia mais sentido escrever aqui. Revirou meu casamento, tirou meu vigor físico e, quando achei que tinha acabado, descobrimos que minha mãe – que nunca bebeu e nem fumou – está com câncer.

A moral desta história é que o único pouco controle que temos é sobre nós mesmos. Pouco, porque de fato nunca sabemos o que serão grandes acontecimentos para nós. A segunda questão é que não importa que você se dedique em fazer as coisas certas, por vezes isso não é garantia de bons resultados. Forçar controle só leva à exaustão e não muda desfecho.

Em relação à Cidinha, saudades eternas. Sobre a Gabi, muita admiração pelo amadurecimento que teve e pela mulher que desabrochou. Minha mãe segue vibrando saúde, como ela mesmo diz “uma pessoa saudável que está tratando um câncer”. Eu? Achei que não daria conta, mas hoje vejo que se não fosse por tudo isso, não teria mudado a rota, ainda estaria escondida atrás daquele monte de medo que damos o nome de “falta de tempo”, “precisam de mim”, “se não sou eu”…

E é isso que eu desejo a vocês: paz e coragem para “florescer onde quer que a vida te plantar”.

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