Encontro na Internet a seguinte descrição do que foi o governo de sete meses de Jânio Quadros: “…buscou afastar-se das tradicionais forças políticas do país. Acreditava que assim teria mais liberdade para governar, pois não teria compromissos com partidos políticos. Desta forma, as negociações com o Congresso Nacional ficaram difíceis e, muitas vezes, conflituosas”.
Jânio foi levado à renúncia, o que não é imaginável para o atual quadro político nacional. Mas, as relações da presidente Dilma Rousseff com o Congresso têm sido as piores possíveis.
Ao contrário de Jânio, entretanto, Dilma não procurou se afastar “das tradicionais forças políticas do pais”. Seu ministério atual, semelhante ao anterior, bem o demonstra.
Jânio não enfrentou, que eu me lembre, manifestações populares em praça pública, o que agora faz parte do cotidiano da presidente petista. Na verdade, Jânio tentou ganhar as ruas com a renúncia, ao justificar que entregava o cargo em face de “forças terríveis”. As ruas lhe faltaram, todavia, e ele não voltou ao Planalto nos braços do povo, como planejara.
Entre um e outra há, porém, um traço de semelhança: as “forças terríveis”. Sim, há forças terríveis se opondo ao segundo governo de Dilma. Mas, estas não são as que estão nas ruas, personificadas na elite branca, nos coxinhas, nos neoliberais e coisas do gênero.
As forças terríveis que operam contra Dilma Rousseff estão no Congresso Nacional, onde Jânio acusava estarem as que se opunham a ele. As de agora, todavia, têm CPF, RG e Título Eleitoral perfeitamente identificados.
As forças terríveis de agora têm nomes: Renan Calheiros e Eduardo Cunha. Dupla pesadíssima. Poderosa. Impiedosa. Com certas nuances de raivosidade e odiosidade. O que ameaça, pois, o terceiro governo do PT no Planalto não é o povo nas ruas, mas o alagoano e o carioca no Congresso.
Eles construíram um extraordinário poder de retaliação. Neste caso, pode-se dizer haverem “razões ocultas”, uma vez que não parece ser apenas por vindita que se opõem ferozmente à chefe do Governo. Há algo de podre por baixo, o que necessariamente não é uma surpresa, considerando tudo de que se tem conhecimento acerca da política nacional.
Muito embora a distância em relação aos fatos não me autorize e certas conjecturas e premonições, mas até onde a vista alcança estamos vivendo um raro período na história, em que o governo é refém não de um poder, mas de duas pessoas. Dilma está sendo garrotada por Renan e Eduardo.
Esta semana, um articulista assentado em Brasília notou o fato de que os presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados roubaram a cena da oposição. O PSDB, teoricamente o mais oposicionista de todas as siglas com nádegas no Congresso, está mudo. Ou, em hipótese um pouco benevolente, está ao menos rouco. O discurso é de Renan e Eduardo.
Eles são, em resumo, as modernas “forças terríveis”. Com nome, fotografia e tudo mais. No que isso vai dar é imprevisível. É costume dizer que de boas intenções o inferno está cheio. No caso presente, não há o menor sinal de boa intenção em Cunha e Calheiros. Eles parecem desejar que o governo pegue fogo e os bombeiros estejam passeando em Nova Iorque.
Valter Abrucez é jornalista autodidata. Ocupa, atualmente, o cargo de Secretário de Comunicação Social na Prefeitura de Mogi Guaçu e escreve aos sábados em O POPULAR