De volta ao Boteco, o ex-profissional Fred recorda momentos na Tunísia, onde defendeu o Monastir, conta porque voltou e descreve a aventura na rota de retorno ao Brasil.
Boteco – Fale mais sobre o dia a dia na Tunísia?
Fred – No hotel, tinha umas festinhas. A gente ia meio escondido, porque era meio chato, o cara do hotel podia falar pro presidente do time. Pegava a latinha de Coca, punha cerveja. Essa estratégia é bem típica brasileira. E tinha o animador da piscina, Zico. Era argentino e os caras apelidaram de Zico.
Boteco – Você esperava um estrangeiro sair para jogar?
Fred – Fiquei treinando, achei que ia sair um estrangeiro, que iam negociar um nigeriano, mas não negociaram.
Boteco – Você decidiu voltar ao ver que não ele não sairia?
Fred – Eu fiquei esperando quatro meses, falei: está parada minha vida, não estou sendo remunerado. Os caras vão começar a me pagar quando? Mas hotel e alimentação eu não gastava nada. Eu tinha 20 anos, impulsivo, vim embora. Aí peguei um carro, uma nevada e tinha um bêbado do meu lado com uma flor cantando em árabe. Eram duas horas até Tunis, onde ia pegar o vôo. Era uma van, ele estava me enchendo, nunca tinha visto árabe bêbado. Pensei: esse cara é clandestino, mais que clandestino. E ele cantando. Ele estava sem cinto e o motorista tocando pau. No meio da pista estava parada uma van. O cara não viu e bateu na van parada. Esse árabe voou lá para frente. Hoje eu dou risada, na hora eu quase chorei. E eu com 50 quilos de mala, trouxe um monte de coisas para minha mãe, uns camelinhos, sabe? Aí criou um p… de um trânsito na rodovia. Eu desci com a mala. Faltavam umas três horas pro voo. Começou a sair um monte de gente de uns lugares, todos vendo o acidente e eu no meio daquela loucura sem saber falar francês nem árabe.
Boteco – Como você foi embora?
Fred – Chegou do nada um táxi: “Onde você vai?”. Eu falei: “aeroporto, quanto você cobra?”. O cara: “100 dólares”. Eu paguei. Era tipo uma corrida de 30 dólares, mas o cara viu que eu estava f… ali, árabe ainda. Daí cheguei no aeroporto e sentei sozinho. Veio um agente federal da Tunísia, começou a me interrogar em árabe, eu sem entender nada. Virei, peguei uma camisa do Brasil na mala, do Ronaldo e dei pro cara. “Toma uma camisa do Ronaldo”. Aí o cara: “Ronaldo, Ronaldo, oh”. E parou de me encher o saco. O cara ficou super contente. Experiência f…
Boteco – Depois, você foi para qual time?
Fred – Voltei, treinei um pouco no Botafogo, de Ribeirão. Fui para Chapecoense, acabei me profissionalizando lá. Esse ano foi o último time que eu joguei, um dos que fui melhor. Fiz 12 gols no Catarinense na segunda, esse time que está na primeira agora, torcida f…
Boteco – Logo depois do Mogi Mirim, você foi para onde?
Fred – ABC, de Natal, juniores e treinava no profissional.
Boteco – Fora de campo foi melhor do que em campo?
Fred – Não, eu não curti muito a noite, tinha receio de sair, imagina você sozinho em Natal. Só fui num showzinho da Ivete Sangalo, lá, Carnatal (risos). Aí voltei, apareceu oportunidade de jogar no Goiânia.
Boteco – Fred volta para contar histórias curiosas nos aspirantes do Sapo e o dia em que decidiu um jogo com dois gols contra o Palmeiras, do craque Alex.