A mudança no regulamento do Campeonato Brasileiro, no que se refere aos cartões amarelos tem gerado polêmica. Agora, cada cartão recebido por um jogador custa ao clube R$ 50,00 e ele não cumpre mais suspensão de um jogo, após o terceiro amarelo. Somos terminantemente contra a medida, pois ela pode favorecer o jogador violento em detrimento do jogador técnico. Pode também estimular a violência e o aumento do número de faltas nos jogos, ou ocasionar distorções na aplicação dos cartões e das expulsões, como vem ocorrendo nos últimos jogos.
Este é apenas mais um exemplo dos absurdos que se cometem em nível de direção deste esporte, por falta de maior participação de clubes e jogadores nas decisões da CBF. Relembrando as Copas do Mundo, perdemos a de 1950 em pleno Maracanã. Em 1982 e 1962, assombramos o mundo com nosso futebol-arte, alegre, criativo, evidência clara de nossa capacidade técnica. Em 1966, fracassamos por falta de organização, e uma geração de ouro do futebol brasileiro nos deu o tricampeonato em 1970.
De lá pra cá, a desorganização do nosso futebol o tem colocado ao sabor de fatores aleatórios: alternam-se momentos de brilhantismo e de decepção, com gerações brilhantes de craques, que não ganharam títulos por falta de coerência e competência da CBF.
As necessidades e o cotidiano dos clubes acabam sendo desconsiderados pela CBF. Acreditamos que nela e nas demais federações, ex-esportistas deveriam atuar, ajudando na determinação das leis, normas e regras, considerando a realidade do futebol e não apenas interesses econômicos e político-administrativos.
É preciso criar uma consciência profissional no jogador. Na maioria das vezes ele é um funcionário e não um profissional. Falta-lhe consciência de que o futebol não é apenas um ganha-pão, mas uma profissão. Nesta postura, muitos dons de berço acabam desperdiçados.
A consciência profissional permite que os caminhos da descoberta e do aperfeiçoamento técnico possam ser trilhados com maior eficiência. Esta consciência tem que vir também dos próprios dirigentes. Para colhermos os frutos de nossa supremacia técnica, nosso futebol deve se tornar empresa como acontece no México, Itália e Espanha. Exemplo marcante do que isso pode representar para os espetáculos dentro do gramado nos dá o Japão, que desponta com um enorme potencial a ser conferido no futuro.
O futebol empresa daria aos clubes a força necessária para se impor à CBF, e ele deixaria de se curvar a ela, como vem ocorrendo no Brasil. A conquista do tetracampeonato pela consideração da realidade objetiva do futebol é outra evidência que aponta para a necessidade de organização no esporte.
O futebol brasileiro precisa de organização para ser aproveitado, respeitado, estimulado, reinventado. É necessário abrir as janelas, deixar que o ar e o sol entrem em todas as federações e organizações. Para o bem de todos e a felicidade geral do futebol.
* Texto publicado há 20 anos, em 1995, no jornal O Impacto, quando Stort era gerente de futebol do Mogi Mirim, e agora reproduzido pela curiosidade da atualidade de seu contexto diante do atual momento do futebol brasileiro
Henrique Peres Stort, ex-jogador e ex-dirigente do Mogi Mirim