Com mais de 50 anos de experiência no Direito, o hoje aposentado Gastão Dellafina de Oliveira, de 82 anos, marcou seu nome na advocacia de Mogi Mirim e região, onde exerceu por dois mandatos a presidência da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e lecionou em diversas faculdades. Com o Dia do Advogado comemorado ontem, O POPULAR foi até a residência de Gastão para conhecer um pouco de sua história, moldada ao lado de uma família de advogados.
Nascido em São Paulo, Gastão veio com a família a Mogi na década de 40 em função da transferência do pai, o funcionário público Gastão Pinho de Oliveira, que trabalhava na Secretaria do Estado da Agricultura. Em 1952, foi transferido novamente a São Paulo, mas em 1955 voltou a Mogi, onde se aposentou.
O sonho de Pinho era ver Gastão se tornar médico, o que não encantava o filho. Porém, para atender o desejo do pai foi a Niterói-RJ prestar Medicina. Gastão não passou, mas na época uma faculdade de Direito, ramo que já o atraia, foi inaugurada pelo governo federal, ele decidiu prestar vestibular e passou.
Para sustentar os estudos, Gastão foi vendedor de máquinas de escrever Olivetti. Mesmo com as dificuldades da poliomielite, que atingiu suas pernas, ia de porta em porta vender. Após formado, voltou a Mogi e teve as portas abertas no escritório do advogado Geraldo Philomeno, onde ficou por seis anos, iniciando uma expressiva carreira jurídica.

Escritório envolve família: valores ainda preservados
Formada por advogados, a família Dellafina de Oliveira se consolidou como um nome forte da advocacia em Mogi Mirim e atravessou gerações, com o escritório inaugurado na década de 60 preservando as raízes de uma tradição iniciada por Gastão.
O escritório foi inaugurado por Gastão em 1969, em conjunto do irmão Luiz Antônio, já falecido, que havia acabado de se formar.
Outro irmão, José Marcos, o Marcão, de 71 anos, se formou em 1976 e passou a integrar o escritório, que tinha o nome de Advocacia Dellafina e hoje é Dellafina de Oliveira Advogados Associados. Em 2006, Luís faleceu e Gastão parou de advogar pouco depois. Então, Marcão liderou o escritório sozinho. Em 2013, Gastão passou sua parte na sociedade a Marcelo Maretti Delafina de Oliveira, filho de Marcão, que hoje atua no escritório, onde trabalham mais 3 advogados. Formado em 2000, Marcelo já atuava com o pai desde 1998, como estagiário. Desde 1977, Gastão sempre teve estagiários ao seu lado, proporcionando a eles valioso aprendizado.
Nos primórdios, o escritório abrangia todas as áreas, como criminal, trabalhista, cível e tributária. O júri era uma das paixões de Gastão. Foi ele o advogado no primeiro júri da Comarca de Mogi Guaçu, defendendo um funcionário do cinema de Mogi, acusado de assassinar a namorada e escondê-la no forro.
Sem gostar de injustiças, defendia até de forma gratuita quando necessário. “Se ele visse uma injustiça, não cobrava nada e brigava por todos”, lembra Marcão, recordando como Gastão era gratificado. “Quantas leitoas, abóboras, saco de laranja ele recebia, agradeciam dessa forma. Ele falava para nós, a melhor propaganda é o cliente”, conta.
Quando chegou em Mogi, Gastão lembra que havia apenas cerca de seis advogados. Hoje, o número chegaria a aproximadamente 500.
Um dos pontos priorizados pelo escritório é a ética, mantendo a tradição cultivada por Gastão. Um trunfo é ter um arquivo imenso de processos desde 1962, o que contribui para novas ações semelhantes, servindo como base para jurisprudência.

Família
Além dos irmãos e sobrinho de Gastão, a ligação da família com o Direito parece infinita. A esposa de Marcos é a advogada Maria Eliza Maretti Delafina de Oliveira. A filha de Luiz, Mariana Smith Delafina prestou Direito, mas não atua na área. O sogro de Gastão, pai de Vilma de Mattos Dellafina de Oliveira, foi um dos primeiros advogados de Mogi, Benedito Macário de Mattos. Pedro Franco de Campos, ex-secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo, é sobrinho de Vilma. Quando a família se reúne, o papo principal é Direito.
Entre os filhos de Gastão, Gastão Filho, hoje aos 52, fez Agronomia. Vilma, de 55, se formou em Direito, mas não atua na área, e Valéria, de 50, é professora. Gastão tem sete netos.
Atuações como provedor, professor e comunicador
Entre as inúmeras experiências de Gastão Dellafina também estão a de professor, radialista e provedor da Santa Casa. No período em que morou no Rio de Janeiro, foi radialista da Rádio Nacional, onde comandou um programa, entrevistando artistas como Emilinha Borba, Marlene e Aracy de Almeida. Em São Paulo, trabalhou na Rádio Record. Em Mogi Mirim, na Rádio Cultura e SECTV, onde chegou a ser sócio-proprietário.
Gastão foi professor de Direito Tributário das faculdades de São João da Boa Vista e Espírito Santo do Pinhal, além de ter feito parte da banca examinadora da OAB de São Paulo junto a estas duas faculdades. Ainda foi professor da Santa Lúcia.
Foi duas vezes presidente da OAB em Mogi Mirim e três vezes conselheiro da Ordem em São Paulo. Na época de presidente realizou um trabalho junto ao deputado Blota Júnior para trazer a Vara de Justiça do Trabalho a Mogi, então Junta de Conciliação e Julgamento. Depois, atuou para a construção do prédio de uma nova sede para a Vara do Trabalho. Gastão ainda foi duas vezes provedor da Santa Casa na década de 60 e chegou a ser cotado para candidatura a prefeito, mas nunca se lançou. Seu irmão, Marcos Dellafina foi vereador e presidente da Câmara Municipal pelo MDB na década de 70. Marcão também participou da diretoria do Mogi Mirim na gestão Barros e trabalhou na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae). Já Marcelo Dellafina foi diretor social do Clube Mogiano na época em foram lançadas o Baile do Havaí e Festa à Fantasia. “Os Dellafina têm um dedinho em tudo quanto é lugar”, brinca Marcão.
Paixões: Tricolor, cigarro de palha, leitura…
São Paulo Futebol Clube, leitura de jornais, o cigarro de palha e assistir filmes estão entre as paixões de Gastão Dellafina de Oliveira. Assim como a família, é torcedor do São Paulo. O futebol integra sua vida. Quando não estava trabalhando, gostava de levar o filho Gastão Filho jogar bola com amigos. “O pessoal tinha 15, 16 anos, não trabalhava, então ficava até de madrugada, bebia. Então tive a ideia de fazer com eles um time, aí cansava, naturalmente iam dormir mais cedo”, conta.
Gastão aprendeu com o ex-presidente do São Paulo, Carlos Miguel Aidar, que conheceu na época em que atuou na OAB de São Paulo, a entregar um cartão alusivo ao clube. Até hoje entrega a quem conversa um cartão com seu nome, o símbolo do São Paulo e a escrita “são-paulino por mercê de Deus”.

Hoje aposentado, Gastão gosta de assistir televisão, especialmente futebol e séries policiais, como Lei e Ordem e CSI: Miami. Adora leitura a ponto de assinar cinco jornais, O Estado de São Paulo, Folha de São Paulo, Agora, A Comarca e O POPULAR, além da revista Veja. Outra paixão é o cigarro de palha. Antes, fumava quatro maços de cigarro por dia, hábito abandonado. Hoje prepara o próprio cigarro de palha, conhecido por picadão, fumando quatro unidades por noite.