Poderia dizer que estou descobrindo um outro lado da maternidade. Aprender com os filhos acontece desde a descoberta da gravidez. A novidade agora é que, pouco a pouco, eles estão ganhando posições antes ocupadas por mim. Condiciono isso ao fato de estarem crescendo e ficando autônomos e também ao meu amadurecimento que ensina a delegar, seja por confiança no caminho traçado até aqui ou por sobrevivência.
O fato é que tem sido uma experiência leve e enriquecedora. Além de, aos poucos, ir ganhando mais espaço para minhas escolhas individuais, colho cada vez mais admiração por eles. Eu que adoro as experiências humanas, vibro em apenas “estar” enquanto as coisas acontecem. Sabe quando surge aquela vontade de comer um bolo e, quando chega em casa, ele está pronto? É tipo isso.
Usando um comparativo bem bobinho, é como se eles fossem atores e eu pudesse os ver em vários papéis, cada novela um formato diferente. Além de filho e amigo, tenho podido conhecê-los como namorado, apoiador de ação social, organizador de viagem, churrasqueiro, confeiteira, entre tantos outros. E como aprendo com eles!
Dia desses pedi para o Neto limpar uma gaveta. Coisa de dona de casa, sabe? Cheguei com as compras do supermercado e quis aproveitar que ela estava praticamente vazia para dar aquela passadinha de pano antes de colocar as coisas novas no lugar. Fiz desta forma a vida inteira: paninho quase seco e depois um seco.
Eis que Alex saca o aspirador de mão, coloca uma ponteira e manda ver: problema resolvido em segundos. Juro, nunca mais fiz de outra forma porque, além de mais rápido, é bem mais eficiente. E mais, abrangi o processo para outras áreas da casa.
Pensando de forma mais profunda, fica evidente que isso tudo faz parte dessa coisa orquestrada chamada vida. Porque, no fundo, é isso. Cuidamos por um tempo, construímos alicerce, intimidade, dividimos momentos. Aí, quando menos nos damos conta, começamos a envelhecer e, naturalmente, os papéis começam a ser trocados. Mudamos para o banco do passageiro. Passamos a ser visita na casa deles e, num passo à frente, são eles que nos levam ao médico quando bate aquela febre. O que nos resta sempre é cultivar o caminho para que possamos colher afeto quando não houver mais utilidade.