Repórter com experiência em cobertura do Mogi Mirim por décadas e ex-assessor do clube, Geraldo Bertanha, o Gebê, recorda episódios curiosos da história do Sapão.
Boteco – Você conheceu muitos técnicos de hábitos curiosos?
Gebê – Vários. Filpo Nuñes tinha mania de xingar jogador. Falava nome feio: “seu filho da mãe, faz do jeito que eu tô mandando”. Um dia ele fez isso com o Chicão. Chicão falou do outro lado do campo. “Vai tomar naquele lugar e fica quieto”. Ele: “nós vamos conversar”. O Chicão: “então vamos conversar já”. E atravessou o campo. Ele falou: “não, a gente conversa depois, depois”. Afinou, né? Tinha um que não estreou que foi o cara lá do Rio de Janeiro, Delei, hoje deputado. Delei foi dar um coletivo, estreava domingo. O Wilson (Barros, então presidente) tinha dado uns palpites, jogadores que ele tinha contratado que queria ver estreando. E ele fez um negócio totalmente diferente. A gente assistia com o Wilson na arquibancada, na coberta. O Wilson levantou para ir embora e falou pra mim e pro Henrique (Stort, então dirigente): “não vou aguentar isso aqui, não estou gostando, isso não está me cheirando bem”. E foi embora. Aí eu fui fazer as entrevistas. Eu vi o Delei conversando com o Henrique. Fui conversar com o Delei, ele falou: “comigo, não”. “Por que não? Grava comigo, pra rádio”. E ele: “não sou mais técnico”. Foi demitido, Wilson telefonou pro Henrique e mandou mandar embora. Às vezes a gente tinha ido transmitir um jogo, acabava, ele não tinha ido, ele ligava pra mim. “Tudo isso que vocês falaram na rádio, é verdade?”. Nós fomos jogar um jogo em Santos contra a Portuguesa Santista e estava ganhando de 3 a 0, perdemos de 4 a 3. Mas culpa do treinador, Paulo Bonamigo, mexeu errado. E não tinha como falar o contrário. Acabou o jogo, eu estava me preparando para as entrevistas, o Wilson ligou. “E aí, Gebê”. “Ah, presidente, foi difícil”. “Mas tudo que vocês falaram no rádio aconteceu mesmo?”. “Claro que aconteceu”. “Tá bom, então fala pro Henrique atender o telefone”. Aí eu falei: “o homem quer falar com você”. Depois, o Henrique veio e falou para nós da imprensa. “Vocês viram o que vocês fizeram? Derrubaram o treinador”. O Wilson por telefone mandou o Bonamigo embora.
Boteco – Aí vocês já deram a notícia?
Gebê -. Aí demos. Tem gente que fala hoje: “o cara foi demitido por telefone”. Isso é coisa antiga, em Mogi aconteceu bastante. Como aconteceu bastante também, tem gente que não gosta de falar, arranjo de jogo. Eu perdi aquele elã pelo futebol, como torcedor não consigo mais assistir um jogo da arquibancada, por saber muitas coisas que aconteceram. Teve um jogo que nós fomos fazer, Carlos Batista (narrador) e o Waldemir Gomes (comentarista), que hoje trabalham na Band, trabalhavam comigo na Cultura. Tivemos um jogo em Novo Horizonte, 600 quilômetros daqui lá, longe. Na véspera, o Henrique tinha uma loja de esportes, eu fui lá. Ele: “vocês vão fazer o jogo amanhã?”. “Lógico”. “Mas não critiquem o time não”. O time estava bem. “Mas por que criticar?”. Ele: “são dois times amigos”. Eu: “o que você está querendo dizer: vai entregar o jogo?”. “Não…”. E o Novorizontino precisava da vitória. E eu não era só repórter, eu gostava do time. “Pô, tudo bem, mas 1 a 0, né Henrique?”. “Isso é circunstância do jogo”. Perdemos de 3 a 1. Na viagem, eu falava: “se o time for mal, não vamos meter o pau, não. O jogo é longe”. Acabou o jogo, o narrador e o comentarista vieram perguntar se eu sabia de alguma coisa. Lógico que eu não sabia, naquele dia eu não sabia mesmo. Mas era um jogo combinado.
Boteco – Gebê retorna para contar outros episódios de arranjos de jogo na história do Mogi Mirim.