Lá em casa acontece o que eu chamo de gestão compartilhada. Todo mundo é responsável por tudo. A roupa no varal não tem um único dono, nem a louça na pia, nem o cachorro, nem a lista do supermercado. Claro que eu sou o “rejunte”, com a destreza de equilibrar pratos e sentimentos na divisão dos afazeres domésticos.
Fui criada na casa da minha avó até os 13 anos. Me lembro nitidamente dela diariamente esperando todo mundo chegar com a mesa posta e a comida pronta. Não foi nem uma nem duas vezes que via alguém abrindo a panela e torcendo o nariz. Cada vez que lembro, fico furiosa. Acho injusto alguém gastar a própria vida exclusivamente servindo ao outro, fazendo o trabalho braçal que quase ninguém gosta de fazer. E, se sozinha uma pessoa gasta uma hora para executar uma tarefa, em quatro cada um gasta 15 minutos e todo mundo escolhe o que quer fazer nos outros 45.
Novamente reforço que a vida é um processo e uma pessoa que foi criada por outra que executava tudo sozinha, servindo a casa em tempo integral, precisa vencer muitas barreiras para compartilhar algo que acredita ser o “medidor” do seu valor.
As meias, por exemplo, já foram um problema para mim, me incomodava muito vê-los pela casa andando só com elas. A questão é que se não esfregar, não limpa e não queria perder vida no tanque. Coloquei cada um para cuidar da sua até que tive uma ideia bem melhor: hoje só temos meias pretas.
Essa gestão é boa para mim, mas é ótima para eles. Permite conhecer o que se tem, distinguir qual importância dar a cada coisa. Além disso, contribui para nossa formação humana sermos organizados, limpos e também em compreender que tudo na vida é processo e demanda energia de ação.
Mas é claro que hoje eles não reconhecem isso e que dificilmente a contribuição vem de forma espontânea. Mas é um processo… lembra?