A palavra gratidão está muito na moda. Eu, por ignorância ou simplicidade, não sou muito adepta em trocar o milenar “obrigada”. Mas, quando se fala do sentimento, nossa, nessa frequência meu coração pulsa.
O filósofo Clóvis de Barros define que felicidade é quando você não quer que aquele momento acabe. Neste caso, penso que as duas coisas são a mesma e acho impossível traduzir em palavras. É quando você está tão, mas tão, mas tão feliz que só consegue pensar “obrigada, Deus”!
Eu sinto isso em algumas situações porque gosto demais de viver e de pessoas. Mas o meu preferido é quando estamos nós quatro à mesa, comendo e conversando. Tudo que eu queria era poder parar o relógio, congelar aquela cena e ficar ali até enjoar.
Existe a vida ideal e a vida possível e vou usar a alimentação para exemplificar. O ideal seria optar por alimentos orgânicos, sempre frescos, sem conservantes e com a melhor combinação de nutrientes. Mas e o possível? O meu, por exemplo, é comprar marmita todos os dias no horário de almoço.
Escolhi um restaurante caseiro e fico no trivial: arroz, feijão, legumes e carne. Se fizesse em casa a comida teria menos óleo? Pode ser que sim, mas comer uma linguicinha frita, às vezes, é o meu possível, para estar menos sobrecarregada e descontar em quem está do lado.
Talvez este seja o pulo do gato para sentir-se grato: fazer o melhor que se pode com as ferramentas que se tem. Isso vale para tudo. Queremos matricular as crianças no inglês, no ballet, na natação, no futebol. Tudo isso porque achamos que só assim serão completos e terão mais oportunidades do que tivemos.
Mas nos sentimos tão cansados que vira um fardo e a gente dirige querendo “matar o lerdo do carro da frente”. O que os filhos precisam, de fato, é de amor e rotina de cuidados, porque se as bases humanas forem sólidas, o resto é questão de técnica, só!
Em casa a Gabi odeia livros, mas é uma aluna que só tem 10 no boletim. O Neto não é bom com a lição de casa, mas me surpreende com o conhecimento de mundo. Está tudo bem!!! Os livros são ótimos, mas se pode aprender muito com os documentários, com o que se vê da vida, com a conversa com o pedreiro que está reformando a casa e usa uma mangueira para ver se a parede não está torta.
Esses dias tive um insight, coisa de gente doida: em que momento aceitamos as normatizações? Que o certo é escrever com a mão direita? Eu vou dizer, respeitando o coleguinha, a fórmula é pessoal. Pode ser que fazer o que todo mundo faz só traga frustação e você deixe de perceber os tesouros que o cercam. Sentir-se grato é sobre com que lente se escolhe ver o mundo.