Nos gramados do Amador de Mogi Mirim, nos últimos anos, um filho da vizinha Mogi Guaçu desfilava as suas chuteiras. Hoje, as travas estão fincadas em campos de maior relevância para o futebol nacional. Da última participação aqui, na Série B da Copa de Futebol Amador para sua atual batalha, na Série B do Campeonato Brasileiro.
Um salto daqueles na vida de Guilherme Campana. Aos 25 anos, o guaçuano atinge o ponto mais alto da carreira. O meia-atacante já passou por Atlético Guaçuano (2012 a 2014), Mogi Mirim (2015) e Amparo Athletico (2016 e 2017). Ficou quase três anos parado, período em que as atuações no futebol se restringiram ao amador.
Em 2018 defendeu o Ipiranga, na 1ª Divisão do Amador de Mogi Guaçu, competição em que, em 2019, disputou pelo Brais. Já entre 2017 e 2019 vestiu a camisa da Vila Dias, uma das agremiações mais tradicionais do Amador mogimiriano. Foi campeão da Série C em 2018 e vice da Série B, em 2019.
Chegou a flertar com o retorno ao profissionalismo, algo que ocorreu apenas em 2020, quando foi para o Rio Branco-AC. Daí em diante, escaladas. Em 2021, já defendeu o Castanhal-PA, quando fez boa campanha e ajudou a levar o time ao quarto lugar. Chamou a atenção do Sampaio Corrêa-MA, atual campeão maranhense e que disputa a Série B do Brasileirão.
Na Bolívia Querida, vai ganhando cada vez mais espaço. Vestindo a camisa 11 do time, Gui Campanha já fez três partidas, sendo titular em duas, com média de 74 minutos por jogo em campo. Aparece com uma boa média pelo Sofascore, um dos principais sites do país em análise de desempenho, com nota de 6,70.
Passo a passo, o mogimiriano vai realizando seus sonhos. Abaixo a entrevista exclusiva com o jogador do Sampaio Corrêa.
O POPULAR: Como começou sua relação com o futebol?
Gui Campana: Olha, preciso voltar no tempo. Por volta dos seis, sete anos de idade, meu pai via que eu tinha interesse por bola, né? E pai, pra incentivar o filho e tal, me colocou nas escolinhas de futebol, pra eu ir pegando interesse mesmo. E foi aí que começou. Comecei a jogar na Chuteirinha de Ouro e no São Caetano, que é o Azulão. Em seguida fui pro time da cidade, em Mogi Guaçu. E na época, era o Índio que tomava conta lá, treinava a gente. Foi onde eu disputei vários campeonatos pra fora da cidade, disputei mundial e foi quando a coisa começou a ficar mais séria, fui pegando mais interesse e entrei pra jogar nas categorias de base do Guaçuano. Aí era vitrine né? A gente pegava Guarani, Ponte Preta… O tempo foi passando, minha idade foi chegando e por volta dos 18, 19 anos, acabei me alistando para o Tiro de Guerra, servi um ano lá. Assim que terminei o Tiro de Guerra fui para um centro de treinamento e foi onde eu conheci meu empresário de hoje. Não só meu empresário, como vários treinadores também e eles me arrumaram uma avaliação pelo Mogi Mirim, em que eu acabei passando. Disputei o campeonato pelo Mogi Mirim, na época que o Rivaldo estava lá, em 2015. Assim que eu saí de Mogi Mirim, em 2016, me profissionalizei e disputei campeonato pelo Amparo. Em 2017 eu voltei de novo para o Amparo, disputar novamente o campeonato, e foi onde tudo começou. Aquilo que eu te falei, que a mãe do meu filho engravidou na época, assim que estava pra acabar o campeonato, eu recebi uma proposta pra ir jogar no Icasa, mas as condições que eu ia pra lá eram muito precárias. Os caras não iriam acabar ajudando a gente, seria só uma ajuda de custo, não sabia nem o valor e eu ia ser pai, né?
O POPULAR: Você chegou recentemente ao Sampaio Corrêa. Como tem sido estes primeiros momentos aí, o clube, os companheiros, a torcida (mesmo que distante)…
Gui Campana: Primeiramente estou muito feliz por tudo o que vem acontecendo na minha vida. O que comecei a plantar lá atrás, hoje já estou começando a ver os resultados. Nada foi por acaso, só eu sei o que lutei e luto todos os dias para estar buscando sempre minha evolução profissional e como pessoa. Hoje, pelo trabalho que venho mostrando, defendo esse clube gigante, que é o Sampaio Corrêa, é uma honra vestir essa camisa. Junto com meus companheiros vamos em busca dos objetivos do clube. Cheguei, fui muito bem recebido pelo clube, meus companheiros de equipe e torcedores. É muito gratificante ver que meu trabalho vem sendo notado, reconhecido. É sinal de que estou no caminho certo. Como nos outros clubes que atuei, cheguei pra somar, em prol do Sampaio e vou defendê-lo com muita honra e profissionalismo e sempre fazer meu melhor.
O POPULAR: Cara, no período entre 2017 e 2020, quando jogou apenas no Amador, chegou a surgir algum convite para jogar no profissional?
Gui Campana: Sim, no ICASA-CE. Assim que saí do Amparo, eu ia ser pai e estava perto de nascer meu filho e o salário ia ser uma ajuda de custo. Aí, resolvi não ir e fiquei parado. E não podia levá-los junto comigo também.
O POPULAR: Como que começou essa relação com os empresários?
Gui Campana: Eu conheço o Rodrigo Luczensky desde antes de ir para o Amparo. Mas, é o seguinte. Na época que joguei pelo Mogi Mirim, que ainda o Rivaldo era presidente, a gente já tinha uma amizade e ele sempre me ajudava como podia. Aí, o tempo foi passando, joguei dois anos pelo Amparo e parei por conta daquela situação que falei, era pra mim ter ido pro Icasa e o Rodrigo sempre me acompanhou e sabia da minha situação. Aí eles arrumaram pra mim ir pro XV de Jaú. Fiquei lá um tempo, mas não deu certo. Fui pro Desportivo Brasil, fiquei mais um tempo lá e não deu certo. Aí parei de jogar e fui trabalhar. Porque teria um filho e tinha que seguir minha vida com responsabilidade. Fiquei trabalhando dois anos. Comecei como auxiliar de motorista no Palácio das Balanças e cheguei a virar técnico de manutenção e sempre me cuidando. Apesar de eu estar levando essa rotina de trabalho, de oito horas por dia, ter que dar atenção pra família, eu sempre me dedicava nos treinos e nunca perdia um dia. E sempre divulgava nas redes sociais, eu jogando e me cuidando. O Rodrigo sempre me acompanhava, mas, como ele sabia que estava com uma família, então tinha que arrumar alguma coisa que seria boa pra mim. E durante esses dois anos que fiquei trabalhando, foi que surgiu. Lembro até hoje, foi em 2019 e eu tinha acabado de chegar do treino à noite, por volta das 23h, mais ou menos e aí ele (Rodrigo) me deu a notícia, se eu queria voltar a jogar. Aí, foi a melhor notícia que pude receber e foi quando tudo começou novamente na minha carreira.
O POPULAR: Consegue dar mais detalhes deste momento?
Gui Campana: Cheguei em casa, depois de eu ter treinado, por volta de umas 23h, 23h30, e recebo uma mensagem dele (Rodrigo), com o convite. Ele me explicou que ele vinha me acompanhando, que sabia da minha situação, que eu era pai de família, que eu tinha filho e isso e aquilo. E que só não tinha arrumado nada pra mim, porque não era coisa boa no momento e naquela hora surgiu uma coisa que era concreta, uma coisa boa. E foi quando tudo começou. Aí fui para o Acre, no Rio Branco, mas veio a pandemia e acabei sofrendo lá. Com tudo isso, tive que deixar a mãe do meu filho e meu filho em casa e eu lá sozinho. Mas, por um lado, foi bom, porque tudo que eu enfrentei lá, se eu tivesse com eles lá, eu não ia ter conseguido. Enfim, acabei disputando o campeonato estadual lá e a Série D Brasileiro. Fui destaque e pude fazer uma boa temporada. Ali surgiu muita coisa, abriu muitas grandes portas, bastante oportunidades apareceram e foi quando eu acertei pra ir pro Castanhal, no Pará e também fiz um bom trabalho. Acabei me destacando, tive muitas oportunidades, que surgiram e graças a Deus hoje eu estou vestindo a camiseta do Sampaio e podendo disputar uma Série B. Tudo que eu plantei lá atrás, que eu me dediquei, que eu corri, as coisas vem acontecendo pra mim. E aqui eu vou fazer a mesma coisa que eu venho fazendo nos outros clubes. Vou procurar me esforçar para que as coisas aconteçam. E, se as coisas vêm acontecendo, é porque a gente está no caminho certo. Na minha vida, nada foi por acaso, nada foi sorte, só eu sei o que eu passei pra chegar onde eu estou hoje. E, se Deus quiser, eu vou chegar muito mais longe. E eu tenho só agradecer. Aos meus pais, principalmente o meu pai, e o Rodrigo, né? E a Deus, por tudo que está acontecendo.
O POPULAR: Você teve muito apoio da sua família?
Gui Campana: Meu pai foi uma pessoa que eu o tiro o chapéu pra ele. Porque tudo, tudo, tudo que está acontecendo foi por ele hoje. Porque ele sempre me incentivou, sempre me apoiou, sempre me ajudou no que foi preciso e aí comecei a ter outras responsabilidades, né? Pai de família, tive que pagar aluguel, essas coisas e que nem eu te falei, sempre correndo atrás, sempre me cuidando.
O POPULAR: Mas teve alguma fase em que pensou em desistir?
Gui Campana: O tempo que eu tinha era pra sair com a família. Eu ia jogar amador, me cuidava, mas foi muita superação pra mim, sabe? Foi muita superação. E, em tudo isso que eu passei, eu nunca desisti. Teve um momento, assim, que a gente acaba pensando em abrir mão de tudo, mas eu sempre acreditava no meu potencial e no que eu fazia. De jogar bola, de me cuidar, eu postava nas redes sociais e eu tinha o meu empresário, ele sempre vinha me acompanhando, assim como o pessoal, os treinadores e eles sabiam da minha situação.
O POPULAR: E aí você acabou ficando mais voltado aqui na região, no Amador. De que forma este período jogando só no Amador aqui, seja em Mogi ou no Guaçu, te ajudou a se manter firme no futebol?
Gui Campana: Então, depois que fiquei afastado de partidas oficiais, comecei a me cuidar do jeito que eu conseguia, para não ficar parado, porque sempre acreditei que ia surgir algo. Aí foi quando comecei a treinar todos os dias e jogava amador em finais de semana, como aí em Mogi Mirim e no Guaçu. Isso me ajudou muito. E foi quando comecei a me destacar no Amador e meu empresário começou a me acompanhar. Assim surgiu a oportunidade de eu tá voltando ao profissional e atuando partidas oficiais. Hoje sou muito grato pelo meu empresário Rodrigo Luczensky e o Max Viana, que acompanharam minha trajetória desde quando eu comecei e me ajudaram e ajudam até hoje.
O POPULAR: Qual o seu sentimento em relação aos clubes aqui de Mogi e do Guaçu?
Gui Campana: Eu tenho total carinho, respeito por esses times que acabei atuando aí no Amador da cidade. Tanto de Mogi Mirim como Mogi Guaçu. E o pessoal me fez sentir à vontade. E são dois grandes times aí, a Vila Dias de Mogi Mirim e Brais, lá em Mogi Guaçu. Duas equipes que têm torcida, que têm um projeto bacana, que te faz sentir como se fosse profissional mesmo. Então são duas equipes ali que eu tenho total respeito e total carinho, além de que, todas as pessoas ali me ajudaram, me apoiam e torcem por mim
O POPULAR: Em 2019 você estava no Brais e na Vila e, em 2021, jogando a Série B do Brasileiro por um clube de massa como é o Sampaio. Qual o sentimento, o que passa pela cabeça?
Gui Campana: Felicidade e gratidão por tudo o que vem acontecendo na minha vida. Dois anos atrás eu jogava o futebol amador e hoje a Série B do Brasileiro, uma competição de alto nível. Então é muito gratificante ver que a persistência, a dedicação, o trabalho e a humildade sempre estão fazendo eu conquistar meus objetivos.
O POPULAR: E quais os seus sonhos no futebol? O que espera realizar daqui em diante?
Gui Campana: Sonho com coisas grandes na minha carreira profissional e vou em busca. Vou continuar trabalhando forte, com humildade. Assim, tenho certeza que já estou no caminho certo e vou chegar em lugares ainda mais distantes.