De volta ao Boteco, o ex-gerente de futebol do Mogi Mirim, Henrique Stort, aborda histórias de viagens e cerveja.
Boteco – Para observação de jogadores, você já chegou a viajar para lugares muito distantes?
Surur – Eu tive uma viagem para ver um lateral do Campos, do Rio de Janeiro, que eu fiquei abalado. Eu fui assistir um jogo no Maracanã domingo, cheguei sábado à tarde no Rio de Janeiro e estava tendo um Simpósio Odontológico Mundial, fiquei literalmente sem alojamento, fiquei apavorado, não sabia onde eu ia, não conseguia descobrir um lugar pra ficar à noite, acabei ficando numa pocilga, um barulho à noite e a porta sem fechadura, foi uma situação que eu vivi, o Wilson ligava, eu falava que estava tudo bem, acabei vendo o lateral do Campos, acabei não trazendo. Fiquei nesse lugar, no dia seguinte, sem café da manhã, fui tomar café na padaria, foi uma situação que eu passei a noite acordado. Era bom jogador, mas não dava pra trazer. Fiquei sem dormir porque a porta não tinha fechadura. Essa pra mim também foi hilariante. Mas eu viajava muito com Wilson, a gente ia pra Brasília, inclusive o Mirinho também pode comprovar que a gente ia muito junto. Com o João Feijó a gente ia muito pra Alagoas fazer peneira. Mas um dia o Wilson me mandou pro Paraguai, fiquei uma semana no Paraguai, e também não conseguia ver muito jogador e liguei pro Paulo Cesar Carpegiani que era treinador da seleção paraguaia, até foi uma amizade que depois não cresceu, porque não nos falamos mais, mas ele me indicou vários jogadores, também falou que estava difícil no Paraguai se descobrir jogadores naquela época, mas fiquei uma semana no Paraguai e voltei sem descobrir nada. A vantagem do Paraguai foi que eu fiquei num belo hotel, lá foi bom.
Boteco – Já flagrou situação de jogador beber cerveja em concentração?
Stort – Eles sabiam que eu era rigoroso demais, um jogador uma vez chegou sem um agasalho pra viajar, ele falou que lavou, esqueceu, não deixei viajar, eu era radical, o Wilson respeitava demais as decisões minhas. Um dia nós jogamos contra o Santos e eu percebi que tinha dois jogadores carregando uma malinha diferente, cada em uma alça. Diferente da nossa que era vermelha. E o jogador não entrou com essa mala na concentração e tava entrando no ônibus na volta. Falei: “o que você tem na mala?”. Ele: “nada”. Eu quis ver, a malinha estava cheia de cerveja. Eu peguei, guardei no porta-malas do ônibus pro futuro churrasco. O Wilson fazia churrasco a cada 15 dias. Nessa parte, é bom frisar, não tinha e duvido que tinha um presidente mais agregador que o Wilson, o Wilson fazia questão no Barros Auto Peças, lógico que era por conta do Mogi, de fazer churrascos maravilhosos com jogadores e comissão pra unir mais o grupo, eram churrascos memoráveis.
Boteco – Tinha casos de jogadores que estavam com problemas um com outro e no churrasco acertava?
Stort – Tinha, até porque era liberado um pouco de cerveja, nós tínhamos uma cota, um limite, era mais Guaraná. O Mogi teve vários plantéis de uma união muito forte, talvez tenha presidente que é cego nisso. Que faz contenção em cima de churrascos, era um dos fatores preponderantes, lógico que tinha jogador que não era unido, isso faz parte da personalidade, do ego, que é inerente a cada atleta. Mas a maioria era muito unido graças ao presidente e à comissão técnica, mas o Wilson era um coração, uma perspicácia em ver isso, fabuloso.
Boteco – Stort volta no último capítulo de suas histórias para abordar gestão de vestiário e contar como convenceu Vadão a se tornar treinador.