Para muitos, é difícil compreender o fato de que o Mogi Mirim Esporte Clube não tem um proprietário. O fato de nas últimas mudanças de comando terem sido envolvidos altos valores gera erros de entendimento. A luta pelo poder entre o dirigente Luiz Oliveira e o investidor Victor Simões tem como ponto positivo ajudar a expor na prática como o Mogi nunca foi vendido.
Associação civil sem fins lucrativos, formada por associados, o Mogi, desde sua fundação teve uma série de presidentes. Wilson Barros acabou se perpetuando, com resultados de destaque e domínio do quadro associativo, e, após sua morte, na passagem de gestão a Rivaldo, o craque assumiu uma dívida de aproximadamente R$ 1,8 milhão referentes a empréstimos feitos pela família do empresário. Rivaldo pagou a dívida e passou a ter o comando. Na prática, pode até se entender que ele “comprou” o controle político, pois passou a poder colocar no quadro associativo figuras de sua confiança e iniciar uma nova era. Porém, o clube não foi comprado e não era dele.
O imbróglio entre Victor e Luiz ajuda a explicar o porque Rivaldo não era o dono. Na transferência de gestão, a dívida de R$ 10.900.000 com o craque foi assumida pelo português, eleito vice. Porém, o presidente eleito foi Luiz, seu então parceiro de 19 anos.
Com o surpreendente rompimento das relações de Luiz e Victor, o investidor perdeu poder. O Conselho Deliberativo, ligado a Victor, afastou Luiz, em decisão discutida na Justiça. A chapa de Victor não foi aceita, Luiz conseguiu maioria no quadro associativo e venceu as eleições, questionadas na Justiça. Caso não tenha feito nada de irregular, simplesmente Luiz terá conseguido afastar Victor do poder, provando que o clube não tem dono. Se fez algo de irregular, perdeu a chance de afastar Victor da direção por culpa dele próprio. No futuro nada impediria que um novo dissidente da nova ala de Luiz fizesse um movimento para ganhar as eleições e Oliveira correria o risco de sair do poder.
Um exemplo poderia ter ocorrido na Era Rivaldo. Como tinha a confiança de Rivaldo, Bonetti montou a diretoria e convidou ao quadro associativo pessoas de seu relacionamento. Se tivesse a intenção de ficar à frente do Mogi, não seria muito difícil para Bonetti se candidatar e derrotar Rivaldo. Bonetti passaria a ter o controle do Mogi, que ficaria devendo ao craque. O recurso financeiro não está necessariamente ligado ao comando. Isso porque se trata de uma associação.
O que gera a confusão é o fato de investidores colocarem verba em forma de empréstimos e exigirem o pagamento da dívida antes de sair. O que Rivaldo pode receber é a dívida e não o valor da venda. Passa-se a ideia de “venda”, mas nem sempre quem pensa que comprou é de fato dono. Um exemplo é a dúvida em relação a quem irá pagar Rivaldo se Victor sair de fato. Uma hipótese seria o clube seguir devendo a Rivaldo. O imbróglio serviu para deixar claro que o Mogi não tem um dono.