Um dia de transtorno para os usuários do transporte público de Mogi Mirim. A quinta-feira, dia marcado pelo início da integração de linhas em toda a cidade, projeto alardeado pela Prefeitura nos últimos anos e que finalmente saiu do papel, registrou uma série de empecilhos aos usuários dos ônibus. Falta de informação, número das linhas e rotas alteradas, mudanças em pontos de ônibus, placas instaladas em cima da hora e até cobrança dupla, indo na contramão do objetivo principal da integração, realizada pela Prefeitura em parceria com a Viação Fênix.
O resultado não poderia ser outro: um festival de desinformação, passageiros perdidos e um misto de revolta com inconformismo. Nesta segunda-feira, a passagem do ônibus passou a custar R$ 4,20, R$ 0,70 a mais do que o valor atual. O último reajuste da tarifa ocorreu em 2015.
O POPULAR esteve no ponto oficial da integração de linhas, na Rua Coronel João Leite, em frente à Escola Estadual Coronel Venâncio, no Centro, e na Praça Floriano Peixoto, o Jardim Velho, reduto de maior concentração de passageiros no município, e responsável por receber centenas de pessoas todos os dias. Logo que a câmera disparou seu primeiro flash, a caneta e o gravador entraram em ação, as queixas surgiram em questão de segundos.

“Uma bagunça, ao invés de fazer uma linha de cada vez, para dar tempo do pessoal se acostumar, fizeram tudo de uma vez só. Faltou comunicação, aviso. Estou esperando o ônibus há duas horas. E cadê?”, questionou Antônio Germano, morador da Vila Dias, e que aguardava no Jardim Velho para retornar à zona Leste.
Moradora do Mogi Mirim II, Maria Alves Valto procurava tomar seu rumo com um folheto distribuído por funcionários e motoristas da Viação Fênix. Aliás, muitas das placas instaladas nos pontos de ônibus, informando o número das linhas foram fixadas na manhã de quinta-feira.
“Está muito confuso, peguei ele (o ônibus) em frente a minha casa lá no Mogi Mirim II, depois ele foi até o UPA (Unidade de Pronto Atendimento), deu uma volta, passou pelo local onde peguei , desceu, passou debaixo do túnel e veio para cá. Não entendi”, ressaltou.
Onde me informo?
A falta de informação se tornou outro problema. “Pelo menos antes de ontem ou ontem (terça e quarta-feira), deveriam ter informado. Agora ficou tudo amontoado, pessoal está atrapalhado”, disse.
O aposentado Everaldo Rodrigues da Silva, um dos beneficiados com passagem gratuita, mostrou reticência com o fato de o passageiro ter a necessidade de fazer uma baldeação na região central até chegar ao seu destino.

“Acho errado não ter mais bairro a bairro, quem precisa pegar o ônibus é difícil. Pra mim é bom (tomar dois ônibus) porque não pago, mas quem paga é muito difícil”, observou.
O tempo estimado de 1 hora para que o passageiro saia de seu destino, desembarque no Centro e pegue outra condução pode ser insuficiente em sua visão.
“Acho uma grande desvantagem, principalmente para quem trabalha. Não vai ser suficiente uma hora, os próprios ônibus atrasam, deveria ter pelo menos um mês para todos se adaptarem. Pegou todo mundo de surpresa”, cobrou.
“De uma maneira geral ficou ruim porque prejudica em relação ao horário. Muitos vão perder horário no emprego ou talvez até perder o emprego por causa disso”, completou o aposentado Osvaldo Benedito.
Cobrança feita duas vezes e consulta 1 hora atrasada
Roseli de Fátima, moradora do Jardim Planalto, reclamava da mudança do ponto e da falta de informação. Ela viu o ponto em que tomava o ônibus, antes em frente de sua casa, ser transferido para uma área 200 metros à frente, sem nenhum tipo de aviso pela Fênix. Vendedora de tapetes artesanais no Jardim Velho, não entendeu a mudança.
“A gente acordou sem ter ponto certo para pegar o ônibus, tivemos que adivinhar aonde iria passar. No folheto só está marcado o horário e não que mudou os pontos. Está uma bagunça”, desabafou.
Situação crítica viveu Priscila Cristina, que mora no Mogi Mirim II. No ponto em que habitualmente esperava o ônibus, mais de uma hora e meia de espera. Lá chegou às 8h e só ingressou no veículo às 9h37. Detalhe: sua filha tinha uma consulta na região central às 9h. Foi preciso poder de convencimento à secretária e ao médico para que a criança não fosse prejudicada.

“Fui ao ponto de ônibus antes das 8h da manhã e não passou. Faltou informação, já deveriam ter colocado as placas antes de mudar para saber aonde pegar o ônibus, avisar um mês antes. Para voltar dizem que é a linha 20, mas estou confusa. No ponto que peguei, várias pessoas perderam o horário do serviço para esperar o ônibus”, afirmou.
Helem Dayane, moradora do Linda Chaib, viu seu ônibus atrasar. “Entrei no primeiro ônibus, passou e cobrou (a passagem). No segundo também, e não desci no ponto desejado”, queixou.
“Não sabemos nem os trajetos e nem as linhas. Simplesmente paramos, perguntamos para o motorista. Eles param em ponto em que não sabemos nem aonde desce”, condenou.
Outra moradora do Jardim Planalto, Vilma Zacarias, pontuou ter vivido um dia de alienada. “Sai de casa 6h30 para pegar o ônibus 7h10, e não sabia que ônibus que vinha”, reclamou.
Para ela, a estrutura oferecida aos passageiros no Jardim Velho é aquém de ideal. “Não temos um terminal, não temos um banheiro, não tem um bebedouro, mas pagamos nossos impostos. Porque essa falta de respeito com nós?”, cobrou.