Toda a confusão no Mogi Mirim Esporte Clube começou na segunda-feira, 11. Reconduzido à presidência por uma decisão da Justiça, Luiz Henrique de Oliveira usou a VV8 TV – o canal 8 da NET para Valinhos e Vinhedo, com exibição também pelo YouTube – para anunciar a rompimento de contrato com a WKM Solutions, empresa contratada no final de 2021 pelo clube para atuar na gestão do futebol. O anúncio foi feito durante o programa ‘Jornal 24 horas’.
O dirigente listou uma série de infrações que a WKM e o CEO Wilson Matos teriam cometido, como uso indevido do Instagram oficial do clube, ataques infundados e levianos ao Corpo de Bombeiros e viagem sem autorização da diretoria. Essas eventuais infrações também constam em um comunicado divulgado por LHO.
O vídeo, bem como o comunicado, repercutiu no meio esportivo da cidade. Wilson Matos fez questão de entrar em contato com a reportagem de O POPULAR para afirmar que o anúncio de Luiz Henrique foi uma armação feita pelo dirigente e seu filho Diego Oliveira. “Eles pagaram para dar essa declaração falsa, porque o contrato segue em vigência normalmente. Se tivesse pago a multa contratual, ele até teria direito de rescindir. Mas, ele não tem dinheiro para isso”, frisou.
Segundo Matos, a VV8 TV é ligada a uma pessoa a quem Luiz Henrique teria prometido repassar as categorias de base do clube. “A gota d´água foi quando eu anunciei que não terceirizaria a base e que abriria inscrições para avaliações. Ele quer de toda maneira me tirar daqui”, apontou Matos.
O imbróglio resultou numa ação praticada por seguranças contratados por Luiz Henrique. Na madrugada de terça-feira, por de 4h, eles entraram no Estádio Vail Chaves e obrigaram cerca de 30 pessoas, entre funcionários e atletas, a deixarem os alojamentos.
Jogadores relataram que pelo menos um dos seguranças estaria armado, mas que se escondeu com a chegada de viaturas da Guarda Civil Municipal. No final da tarde, o segurança foi preso pela Polícia Militar. Ele tinha um mandado de prisão por falta de pagamento de pensão alimentícia.
“Eles começaram a bater em todos os quartos e falar: desce, desce, desce. Tinha um que estava armado. Tem gente aqui da Bahia, do Rio de Janeiro. Todo mundo tendo que ir para a rua”, disse um dos atletas. “A gente foi meio que jogado para fora. Ficou todo mundo na rua, na calçada, sem poder voltar, sem explicação nenhuma. As coisas estão todas dentro dos quartos”, completou outro jogador.
Dos atletas expulsos do clube, haviam seis menores. Quatro deles vieram dos Estados Unidos para fazer um intercâmbio. O caso chegou ao conhecimento da embaixada norte-americana no Brasil. “Foi um trauma muito grande para os meninos. Eu os conheço há cinco anos, trabalham comigo em projetos sociais nos Estados Unidos, eles estão se formando atletas da MLS, nunca viveram algo parecido, foi algo aterrorizante, foi algo que vai ficar uma mancha grande”, lamentou Wilson.
O gestor passou o dia todo conversando com o consulado e a embaixada e já soube que os pais de dois garotos não querem que os filhos fiquem mais no Brasil. “A experiência foi muito traumática, vão embora para os EUA. Os outros dois vão avaliar, mas não querem ficar perto do Mogi Mirim. Para a segurança deles, também acho que não é o momento ideal de ficarem aqui”, apontou.
Por meio da WKM Solutions e do CEO Wilson Matos, o Mogi Mirim Esporte Clube usou seu perfil no Instagram para lamentar os episódios ocorridos na madrugada desta terça-feira. A nota de esclarecimento informa que bandidos armados, contratados por Luiz Henrique Oliveira, se identificaram como policiais e, na base da truculência e da violência, expulsaram os atletas alojados nas dependências do estádio com ameaças de morte.
Ressalta que todos os atletas possuem contrato de trabalho e são funcionários ativos do clube e que segue trabalhando em prol do renascimento do clube, não medindo esforços para buscar uma solução para este caso em todas as esferas possíveis.
Na Delegacia, os guardas municipais Constantino e Elias, responsáveis por apresentar a ocorrência, disseram ter ouvido de Luiz Henrique que teria feito uma notificação extrajudicial para que os alojamentos fossem desocupados e como os jogadores e funcionários não atenderam a notificação, teria efetuado o despejo forçado naquele momento.
No entanto, em suas declarações, o dirigente alegou que estava no estádio quando foi chamado a comparecer até o portão dos fundos onde havia uma viatura da PM. Chegando lá, encontrou vários atletas na calçada e que um irmão de Wilson estaria por lá, de carro, para retirar menores que estavam alojados no clube.
Segundo ele, um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) firmado entre a presidência do Mogi Mirim e a Promotoria da Infância e da Juventude impede o alojamento de menores no estádio. Luiz Henrique negou que tenha havido um despejo e que providenciou os seguranças para controlar o acesso ao interior do clube, alegando que a diretoria vem sofrendo ameaças.