Esses dias estava viajando de moto com o Alisson e comecei a pensar se gostava mais daquilo ou de carro, como se fosse uma obrigação escolher. Fiquei ponderando entre um e outro até que percebi o quanto somos ensinados que precisamos ter sempre um preferido, como se uma coisa necessariamente excluísse a outra. E não é!
Continuando com o exemplo da viagem, para mim elas acontecem de duas formas completamente diferentes. De carro, normalmente sou mãe, estamos todos mais os bichos, indo explorar dias em família. Vamos conversando, trocando ideias sobre coisas da vida e fazendo planos para o que virá, seguimos nos reconhecendo em nossa constante mudança.
Já quando estou de moto, tomo mais o papel de namorada, de adolescente, aquele descompromisso com a vida, com os horários. Observo o caminho à volta, respiro o vento da liberdade e se fosse possível escrever, certamente sairia um livro de tanto que filosofo com meus botões.
As duas são riquíssimas para mim, emocionam e são combustíveis para meus dias. Uma completa a outra, e não o contrário. A leveza de viajar em casal só existe porque sei que para onde vou voltar quando a aventura terminar e isso me traz segurança.
O mesmo acontece quando falamos sobre pessoas. Ninguém é só bem ou mal, há os dois ali. E o mais impressionante é que não dá para definir que “fulano é ruim” ou “sicrano é bom” porque as relações são pessoais e de troca. O que podemos dizer então é “ele fez muito bem a mim”, enquanto pode ter sido um vilão para o coleguinha.
Eu desenvolvi um exercício para isso: toda vez que um ser pisa muito feio na bola, fico lembrando que ele faz parte da alegria de viver de alguém. Já aconteceu com um vizinho, cada vez que me trazia um desgosto, pensava em como as filhas o amavam e o quanto elas seriam mais tristes se ele deixasse de existir.
Em casa nós tentamos deixar que a Gabi e o Neto percebam as pessoas por eles próprios. Dificilmente dizemos como avaliamos, só em casos que extrapolem e os coloquem em risco ou nos coloque num lugar em que não queremos estar. Isso porque valorizamos que construam as próprias relações.
O mesmo vale para livros, profissão e até paladar. Cada um tem uma história que foi sendo construída individualmente. Então, em primeiro lugar, precisamos ter claro que as opiniões são individuais, baseadas em experiências.
Depois disto, precisamos deixar de lado esta ideia de que para gostar de uma coisa, precisamos desgostar de outra porque muitas vezes decidir sobre isso traz sofrimento e angústias desnecessárias. Queimamos neurônios por algo que não faz diferença alguma. Somar é bem mais leve! Eu posso gostar de frutas e também de chocolate, de ler e também de dormir e para sermos bons, os outros não precisam ser maus.