No último capítulo de seu bate-papo no Boteco, Ivan Albano conta como trocou o skate pelo triatlo e fala do tratamento dado aos triatletas brasileiros no exterior.
Boteco – Você praticou outros esportes como futebol?
Ivan – Joguei quando era moleque, bem até, podia até ter seguido carreira, ponta-direita, tinha um domínio legal de bola, corria bastante. Fui skatista também, com o Bob, Sandro Dias, era da mesma equipe. O Half de Mogi eu fui o primeiro a descer, com o braço quebrado. Fui um dos pioneiros do skate, a gente que fez o abaixo-assinado para construir a pista do Half, a pista do Recanto. Eu nem imaginava fazer triatlo.
Boteco – Como você começou no triatlo?
Ivan – Eu fui de skate assistir uma prova no Tio Jordão, em 1990, falei: “Como esses caras fazem esse negócio de louco: nada, pedala e corre de uma vez só?”. Aí eu falei pro meu amigo: “vamos fazer um negócio desse aí, um revezamento”. Natação foi na São Marcelo, pedalaram na estrada, entraram pela pista, a transição era no Tio Jordão, corria na Padre Roque, ia até um pouco no Zerão e terminava no Tio Jordão. Eu gostei. Falei pro cara: “vamos fazer um revezamento”. Eu pedalo, não sabia nadar, tinha medo, aprendi a nadar tarde.
Boteco – Com que idade?
Ivan – 15, 16 anos, bem tarde, mas pelo que eu nado hoje… mas foi na insistência, não na técnica.
Boteco – O triatleta evolui com o tempo ou a idade pesa?
Ivan – Não vai querer entrar numa prova de explosão, olímpica, que a idade já pesa, mas para esse tipo de prova tipo Iron Man, Ultraman (de mais resistência), a idade ajuda. Tem até um senhor de 60 anos conhecido no meio, é um senhor que corre descalço, é lenda no triatlo.
Boteco – Você pretende competir até que idade?
Ivan – Até 100 anos se der, pretendo seguir esse senhor aí.
Boteco – Algum acontecimento inusitado em treinos?
Ivan – Cinco meses antes de disputar o Ultraman (em 2014), eu estava dando aula na Adib Chaib, veio um cara, me deu um chute e me derrubou na bicicleta, quebrei a cabeça do úmero (osso do braço), coloquei uma placa.
Boteco – Do nada?
Ivan – Do nada, não sei se ele queria me roubar ou se estava drogado. O doutor falou: “vai ser difícil você voltar a nadar agora, vai demorar uns nove meses”. Foi uma fratura cinco meses antes da competição. Aí minha força de vontade foi maior. Em dois meses, eu estava nadando, pedalando e correndo. Cheguei na clínica, ele falou: “não acredito”. Foi superação.
Boteco – Como o triatleta brasileiro é tratado no exterior?
Ivan – Você é valorizado muito mais do que aqui. Aqui às vezes o cara te vê correndo na hora do almoço e fala: por que o cara está fazendo isso? Manda trabalhar. Mas esse é o meu trabalho. E pra explicar? A cultura nossa é totalmente errada para esse tipo de esporte. Tanto é que ganhei uma prova nos Estados Unidos, já ganhei bolsa de estudos… E quando eu viajava, ficava sempre em casa de família. Viajei para Nova Zelândia, África do Sul, Chile, Argentina. É legal a festa que fazem, os almoços após o resultado. Nos Estados Unidos, quando fui quinto colocado, eles fizeram um final de semana inteiro de festa, me senti da família.
Boteco – Valeu, Ivan!