“Deviam ter pensado em posto, mercado, farmácia. Aqui não tem nada. Tem que melhorar (o bairro). A ainda querem colocar mais gente aqui?”. Esse é o questionamento preocupado da moradora do Residencial Floresta, Samara Aparecida de Oliveira. A apreensão tem motivo. São esperadas mais 900 famílias em novas casas que serão construídas pelo Minha Casa Minha Vida, programa do Governo Federal.
As 352 casas do residencial foram entregues em junho de 2012 e, ao redor, o que se vê são inúmeros problemas de infraestrutura básica com que os moradores são obrigados a conviver. “Pra comprar um remédio tem que buscar no Centro. Aqui, no único mercadinho que tem, pagamos um absurdo nas coisas. Não pega o celular e nem o orelhão funciona. Se alguém passar mal aqui, morre. Vai chamar o resgate ou a polícia como?”, questionou a dona de casa Adriana da Silva.
Para o arquiteto e urbanista Eduardo Lima, que possui 35 anos de experiência em urbanismo, um bairro novo deve ser integrado com todo o município. “Ao se fazer um novo bairro, tem que ser considerada a integração plena com a malha urbana, como por exemplo, o sistema viário, a energia elétrica e a segurança igual a que o município tem”, explicou.
O professor da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas) acrescenta que a área não pode ser apenas um recorte do município. “Tem que ter mínimas condições, como iluminação, água, esgoto, limpeza pública, área verde proporcional ao número de lotes e áreas institucionais, que são praças, creches e escolas”.
É aí que os problemas são claramente encontrados. O bairro, dois anos depois de sua criação, ainda está na iminência da construção de uma nova Unidade Básica de Saúde (UBS) que comporte a atual demanda e a criação de uma nova escola estadual. Além disso, no entorno, há apenas uma pequena praça de lazer com quadra esportiva, que permanece em péssimo estado de conservação.
“Tem que melhorar, né?… Seria bom ter lugares para as crianças brincarem e mais segurança para manter a ordem. Apesar dos problemas, não reclamo não, pagava aluguel antes, então esse é um pedacinho de terra que é nosso. O brasileiro acaba se adaptando”, disse conformado, o mecânico José Edvar Ferreira dos Santos.
Prejuízo é enorme, aponta assistente social
A falta de infraestrutura do bairro culmina em inestimáveis prejuízos para os moradores desses locais. É o que aponta a assistente social Mônica Clavico Alves, que acompanhou de perto os problemas de moradores de um residencial da Companhia de Habitação Popular (Cohab) em Campinas durante o período de um ano.
“A realidade desses programas habitacionais acaba sendo um desenho nacional. O Minha Casa Minha Vida foi feito para beneficiar somente as construtoras e não as famílias”, disparou. “São bairros construídos distantes do centro da cidade, porque são as construtoras que compram esses terrenos, que são mais baratos, para acabar lucrando mais”, completou.
O distanciamento com os antigos vizinhos, amigos e familiares acaba contribuindo para a perda da identidade das pessoas, segundo ela. “Toda a história de vida que essas pessoas construíram durante anos, se perde”. Ela aponta que os itens que eram para ser básicos, como saúde, educação e segurança, essas famílias acabam não tendo acesso.
“É muito comum o problema de criminalidade que esses bairros possuem, principalmente com crianças e adolescentes, porque são mais suscetíveis a entrar no tráfico quando elas não tem condições de comprar algo e quando essa criança não possui laços culturais”, afirmou.
Ao serem contempladas com a casa própria, as pessoas ficam cientes de que devem morar na casa pelo prazo mínimo de 10 anos. Caso aluguem ou tentem vender as residências, os beneficiados podem perder o imóvel e não ter direito a participação em outros programas habitacionais.
“Se querem sair, vender e ir morar em outro lugar, ainda são culpabilizadas por isso. São obrigadas a viver em uma condição ruim, imposta pelo poder público. Dignidade não é dar somente uma caixa de concreto. É responsabilidade do município dar condições a essas famílias”, finalizou.
Poder público promete melhorias
Investimentos são anunciados para a região. São previstas obras para a construção de uma nova Unidade Básica de Saúde (UBS), ampliação da escola do bairro, construção de campo de futebol e reforma da quadra da Praça Belmiro Finazzi.
A UBS atual não comporta a quantidade de atendimentos. O novo posto de saúde será edificado ao lado da atual UBS, onde era localizada a antiga Escola Municipal (Emeb) Prefeito Adib Chaib, no começo da Rua Sebastião Milano Sobrinho.
Será investido aproximadamente R$ 1 milhão e 200 mil na obra. Já a ampliação da escola do bairro se dará em duas fases, mas o serviço ainda depende da liberação de verbas provenientes de emendas parlamentares.
“Já temos R$ 500 mil de verbas parlamentares para construir um campo de futebol e a arquibancada e R$ 300 mil para revitalizar a praça”, revelou o secretário de Obras, Planejamento e Serviços, Wilson Rogério da Silva. Segundo ele, a praça receberá iluminação e dispositivos de água, para a diversão das crianças.
“Vamos fazer uma fonte interativa, daquelas que, quando a pessoa passa a mão, sai água, que tem em vários parques. É a opção para não construir uma piscina pública lá, porque o custo com a manutenção seria muito alto”, justificou. O bairro nas últimas semanas recebeu ainda placas dos logradouros, que até então não existiam.
Com relação à construção da escola estadual, a Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FDE) informou que a obra está em fase de orçamento para estimar o valor do investimento a ser destinado para a construção e dentro do cronograma previsto para a execução dos serviços.
O local contará com oito salas de aula, salas de múltiplo uso, de informática, de leitura, quadra poliesportiva coberta e dois laboratórios, para atender os alunos dos anos finais do Ensino Fundamental e das três séries do Ensino Médio. A expectativa é de que a nova unidade escolar atenda cerca de mil alunos da região.