Todos os seguimentos da sociedade estão afetados fortemente pela situação sem precedentes que estamos vivendo. Os jovens podem até, na teoria, serem os menos afetados pelas complicações de saúde. Mas estão perdendo ou retardando etapas importantes do seu ciclo de vida.
Isso é mais notório na área da educação. Porém, como atividade relacionada, o esporte também vai sentir seus impactos a médio e longo prazo. Seja no esporte lúdico, praticado pelos atletas de fim de semana, no esporte amador, ou no alto rendimento profissional.
Estamos falando também de cultura esportiva. Quando criança e adolescente é que desenvolvemos o gosto pela prática esportiva. Vamos experimentando, conhecendo nosso corpo e aprendendo a identificar quais delas nos agradam mais e nos adaptamos melhor.
E aí se cria o hábito e se insere o esporte definitivamente como parte do seu cotidiano. Sem falar nas interações sociais saudáveis que ele sempre traz. São nas brincadeiras com a bola, com o skate, com os patins, entre outros casos, que as amizades surgem, ao lado dos primeiros conflitos a serem resolvidos. E não é exagero dizer que isso contribui na formação de caráter do indivíduo.
Já existem estudos apontando que o mundo pode sofrer uma queda significativa no número de praticantes do esporte devido às restrições impostas pela pandemia. Notadamente no nível profissional.
Os clubes e as escolas que, junto com a rua, ajudam a criar a nossa base de atletas que mais tarde chegarão ao topo da pirâmide, já trabalham com a possibilidade de que, entre 2024 e 2026, essa queda de fato ficará mais nítida.
Isso porque, mesmo com a volta da maioria dos campeonatos de elite, a base ainda está muito prejudicada e a garotada que hoje tem entre 12 e 15 anos está deixando de cumprir a etapa mais importante de aprimoramento.
É bom deixar claro que aqui não vai nenhuma crítica à interrupção dessas atividades, que se fez necessária. E que qualquer retomada deve ser avaliada pelos responsáveis competentes e autoridades de saúde. Mas é válido trazer esse tipo de questionamento para a nossa realidade. Por exemplo.
Com exceção dos times mais tradicionais, será possível garantir a volta de muitas das equipes do nosso futebol amador? Ou será que uma desmobilização forçada por tanto tempo vai causar uma diminuição no interesse? São perguntas que eu não me atrevo a responder ainda.
Claro, pode haver também o efeito contrário. Pessoas privadas durante tanto tempo daquilo que gostam de fazer, tão logo possível vão retomar intensamente essa rotina. Isso, todavia, deve se aplicar mais a outras faixas etárias. Então, será atribuição nossa, dos amantes dos esportes, recuperar essa geração e motivá-los a praticarem as modalidades e não deixarem de lado essa parte importante do desenvolvimento. É preciso atenção. O processo não é tão natural quanto pode parecer.