Dirceu e Genoino autodenominam-se presos políticos. Não são presos políticos. São políticos presos. Mesmo porque são políticos que infringiram a lei. No entanto, o julgamento foi político. Não resta a menor dúvida: o julgamento e condenação do mensalão foi uma manobra política. Essa afirmação surge da pergunta: por que membros corruptos de outros partidos nunca foram condenados anteriormente e contaram com a benevolência das autoridades?
A resposta (ou justificativa): sempre tem de haver um começo, e a consequente declaração de que se trata de um divisor de águas entre a tradicional impunidade brasileira e os novos tempos. Mas, sem condenar a condenação, essa condenação soa tendenciosa. Por que anteriormente peças como Maluf ou Sarney, entre tantos outros, não foram sentenciados? Porque não havia interesse, por parte das elites, que eles fossem condenados.
As elites, para proteger seus interesses, sempre varrem a sujeira debaixo do tapete ou, como se costuma dizer, encerram o assunto com pizza, para que os privilégios dessa classe não sejam afetados. Logo, as falcatruas e corrupção dos tucanos do PSDB, por exemplo, foram e serão tacitamente esquecidas.
Na realidade, as elites, ainda assombradas pelo fantasma do socialismo, nunca perdoaram a ascensão e o governo do PT. Isso é um fato. Exatamente como essas mesmas elites não perdoam Chávez, Maduro, Correa ou Morales e fazem tudo o que podem para desestabilizar os governos da Venezuela, do Equador e da Bolívia, o que também aconteceu no Chile de Allende. Não perdoam porque essas classes dominantes não querem perder os privilégios naturalmente ilegais que detém há séculos.
Daí a campanha da mídia – que pertence às elites – para solapar esses governos, no fundo timidamente sociais e não propriamente socialistas. É significativo que essa mídia – tipo Globo no Brasil, absolutamente fascista – invoca tendenciosamente a liberdade de expressão. É de se perguntar se impingir a uma nação uma visão única e distorcida da realidade é uma forma de liberdade, ou de democracia, ou se trata de um velado totalitarismo mediático.
Em verdade, não se trata de defender o PT. Mas apenas de ser objetivo e honesto. O PT, que se revelou uma decepção para milhões de brasileiros justamente pela falta de transparência e pelas tramoias idênticas às dos outros partidos (que só visam ao poder), acabou muito bem encaixado no sistema neoliberal. E o cidadão consciente não pode admitir que um sistema criminoso torne a economia déspota, totalitária e autocrata. A famigerada economia onipresente que rege a vida do cidadão como se ele fosse um fantoche.
Que soca consumo no indivíduo goela abaixo como se faz (ou se fazia) com os gansos para estufar o fígado para a fabricação do foie gras. E, curiosamente, a religião, que supostamente deveria defender a ética e os valores humanos, é conivente com esse sistema onde a economia foi consagrada Deus todo-poderoso ou Santa Meretriz que rege nossa sociedade, ou seja, a vida das pessoas.
A ponto de elas abandonarem os idosos nos asilos, porque essas pessoas só têm tempo para trabalhar e ganhar dinheiro e para consumir como porcos e competir como máquinas. Ou largar os bebês em mãos estranhas, porque essas pessoas só têm tempo para trabalhar e ganhar dinheiro para consumir como porcos e competir como máquinas. Ou não fazer filhos, porque os filhos requerem tempo e despesas e o tempo deve ser dedicado a ganhar dinheiro para consumir como porcos e competir como máquinas.
Em suma, a economia virou um pesadelo na vida dos seres humanos. Mas eles estão tão narcotizados pela perversidade do sistema que eles nem percebem. Que é justamente o que o sistema econômico neoliberal quer. Isso sem contar que o neoliberalismo fomenta a miséria e, portanto, a violência. A miséria é um atentado aos direitos humanos.
E quanto mais desigualdade social, mais miséria, logo, mais violência. Quanto à cultura de massa gerada pelo neoliberalismo, trata-se de lixo endereçado a débeis mentais e causa náusea ao cidadão de bom gosto. Que belo mundo de safados e de imbecis que dizem amém…
Mas, retornando ao início deste texto, resta esperar, neste nosso País onde as mudanças são exasperadamente lentas, frouxas e tímidas, que o julgamento do mensalão do PT seja de fato o início de uma nova era realmente democrática na Justiça.
R.Roldan-Roldan é escritor – www.davidhaize.wordpress.com