sábado, novembro 23, 2024
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Junio: histórias cômicas em pousadas rumo à Aparecida

De volta ao Boteco, o corredor Junio Souza recorda momentos curiosos vividos em pousadas durante a aventura a pé rumo à Aparecida do Norte, ao lado do amigo Bruno Camargo.

Boteco – Muitas histórias curiosas em pousadas?

Junio – Na primeira pousada era muito simples, da Dona Natalina, a gente chegou cansado. Ela fez um café da manhã, eu com fome. Aí eu peguei o canecão de leite, pus no copo, o Bruno me chamou num canto, tinha um casal de peregrinos na mesa: “não bebe esse leite, não”. Eu louco de vontade. “Eu levantei cedo pra ir ao banheiro, o gato tava com a boca inteira dentro desse canecão, tava até com o bigode branco”. Aí nem bebi. Aí a gente falou: “a gente fala ou não pro casal?”. “Vamos falar, né? É sacanagem não falar”. Aí avisamos, o cara falou: “Não tô nem aí”. E bebeu.

Boteco – E as outras pousadas?

Junio – Fomos na Pousada da Tonha, pensei: pelo nome não deve ser coisa boa. O quarto não tinha banheiro, a gente conseguiu um banheiro sem porta e sem janela. E o quarto tinha uma beliche sem colchão. A moça conseguiu um colchão, colocou pro Bruno na parte de cima e eu forrei o chão. As janelas só tinham o desenho, não tinha vidro, veneziana nada, era aberta. Começou a chuviscar em mim. O Bruno acho que teve um pesadelo, sonhou, pulou de cima da beliche, caiu por cima da cadeira (risos). Em outra, desci uma escada longa, caminhei uns 400 metros na mata, achei o negócio meio esquisito. Entrei no quarto de assoalho de madeira, tudo madeira. Aí tinha um quadro grande de um pescador na parede e uma manchinha vermelhinha embaixo. Eu puxei o quadro, era uma manchona. Falei: “isso é sangue”. Aí eu fui tirar os travesseiros da cama, tinha três aranhas enormes debaixo, pretas. Desmanchei a cama inteira e montei de novo. Eu não ia dormir com a aranha, matei, joguei fora. Falei: “agora vou tomar um banho”. Tava frio, a água não esquentava, na hora que eu consegui, acabou a força. Aí, acertando a mala, escutei: “Junio”. Achei que era a mulher chamando para jantar. Abri, não tinha ninguém. Olhei para mata, nada. E eu não respondia, porque minha mãe fala que quando a morte chama, não pode responder, senão você vai.

Junio passou por situações curiosas em hospedagens no caminho de Aparecida do Norte. (Foto: Fernando Surur)
Junio passou por situações curiosas em hospedagens no caminho para Aparecida do Norte. (Foto: Fernando Surur)

Boteco – Como vocês achavam os bares para comprar água?

Junio – Outro fato engraçado. Não achava água em lugar nenhum, pessoal fala que tem mina, tem nada. Tem que comprar. A gente comprava garrafas de um litro e meio e eu carregava que nem criança, na mochila. A gente caminhou antes do almoço, 25 quilômetros. Aí comemos numa padaria pão com mortadela e Coca-Cola. Compramos duas garrafas de um litro e meio cada um e fomos. E minha água acabando. Só tinha uma na metade. O Bruno era mais inteligente, deixava uma reserva. E eu bebo água direto. A gente chegou numa serra, tinha uma placa “água potável” e uma mangueirinha. Cortesia do fulano, proprietário da terra. Eu vi aquilo, eu tava morrendo de sede, peguei a garrafa e matei. Olha a idiotice! Tinha uns 20 quilômetros pela frente, um sol quente, sem lugar para comprar. Pus a garrafa na torneira e abri, saiu uma água preta cheia de larva. O Bruno começou a dar risada. Aquilo abalou meu psicológico. Não tinha perna para andar reto e tinha que subir.

Boteco – E essa curiosidade de ir em pleno Carnaval?

Junio – Eu gosto de cerveja, não sou viciado, mas gosto de uma cervejinha às vezes. Mas fui daqui lá sem beber, pensei em parar em algum lugar e tomar uma cerveja para relaxar. Mas o Bruno deu uma dura: “a gente tá indo para Aparecida, dá uma segurada”.

Boteco – Junio volta para o último capítulo de suas histórias, desta vez para relembrar a saga na reta final da aventura e a tensão na chegada à Basílica.

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