No último capítulo das histórias rumo à Aparecida do Norte, em companhia do amigo Bruno Camargo, Junio Souza lembra a conclusão da missão e aborda o futuro.
Boteco – Como foi a chegada a Aparecida?
Junio – Tenso. A gente saiu de Pindamonhangaba. O dono da pousada falou: “vocês vão até uma pousada na entrada de Roseira, 47 quilômetros”. Aí saímos 5h30, na pauleira. Chegamos até esses 47 quilômetros às 15h, extenuados. Vi a placa Roseira/Aparecida. Falei: “vamos dar um gás. É o último dia”. Na entrada, vi Aparecida do Norte, uma flecha indicando reto. Passei por baixo do pontilhão, andei quatro quilômetros no caminho errado, voltei. Perguntei: “quantos quilômetros tem daqui até a Basílica?”. Falaram: “três”. Comecei a andar, encontrei uma senhora: “está muito longe a Basílica?”. E ela: “daqui uns seis quilômetros”. Eu pensei: “não é possível, o cara lá atrás falou três”. Aí passou uns oito e nada. Então, cheguei na Basílica, o vigilante não queria me deixar entrar, tinha que ser por outro lado. Eu falei: “estou vendo o pessoal sair por aqui, vou entrar por aqui”. Aí ele falou: “então faz o seguinte, você é mal educado, então entra por aí mesmo, entra por onde você quiser, você não tem educação”. Aí o Bruno na hora que chegou, começou a lacrimejar, emocionado. Eu achei engraçado esse parâmetro: o Bruno emocionado e eu irritado.
Boteco – Muitas curiosidades?
Junio – Chegamos em Consolação. Com sede, com fome. No final da cidadezinha, a gente ia saindo para pegar a serra, a próxima cidade era Paraisópolis, mas antes tinha que andar uns 17 quilômetros só de subida. Aí fomos numa padaria. “Tem como fazer dois lanches, com mortadela e queijo?”. O cara fez o primeiro e levei pro Bruno. Aí, acabou de fazer o meu, entrou um senhorzinho com três crianças. Um ficou olhando: “moço, você não me dá esse pão?”. Eu morrendo de fome, dei o pão pro moleque, felizinho da vida. Cheguei no senhor do bar: “faz outro lanche”. E ele: “rapaz, eram os últimos dois pães”. O Bruno foi tirando sarro. “Vai dar o pão, agora morre de fome”.
Boteco – Como foi a volta a Mogi?
Junio – O Bruno alugou uma van com as meninas do handebol e elas foram buscar a gente. Minha mulher foi junto. Cheguei na Basílica para pegar o certificado. “Que dia vocês saíram?”. Ela (atendente) falou: “mas vocês fizeram em sete dias? Espera um pouco então”. Aí ela trouxe um livro, marcou meu nome e do Bruno e falou que poucos fazem em sete, que o normal de Águas da Prata à Basílica era de dez a 15. Deu menos, porque chegamos às 16h, deu seis dias e meio. Outro fato, a gente chegava na pousada e encontrava alguns ciclistas. Aí ficava amigo. “Até uma próxima, qualquer dia a gente se vê”. Pegava telefone, Face. Aí a gente chegava na próxima pousada e encontrava o mesmo pessoalzinho. Aí eles falavam: “o louco, vocês vieram de carro, de cavalo?”. Eles falavam que a gente fazia quilometragem de bicicleta. “Vocês são loucos, vocês vão quebrar desse jeito”.
Boteco – Vocês querem fazer em menos tempo ainda?
Junio – A gente quer em cinco a próxima. Tem um triatleta que quer bater o recorde, fazer em quatro. Eu ainda pretendo fazer em quatro, 100 quilômetros por dia, nem que tenha que começar às 4 da manhã e terminar às 10 da noite.
Boteco – Valeu, Junio!