Em companhia do técnico de handebol feminino do Clube Mogiano, Bruno Camargo, o corredor Junio Souza encarou uma caminhada de sete dias de Águas da Prata a Aparecida do Norte, em percurso de 350 quilômetros. A viagem foi em fevereiro, na época do Carnaval. As curiosidades, com sofrimento, medo e diversão são contadas no Boteco.
Boteco – Como foi a ideia de ir a pé até Aparecida?
Junio – O pessoal sempre ia, mas com carro de apoio, eu queria do modo mais difícil. Aí o Bruno fez a promessa que se fosse campeão do handebol, iria a pé, mas não arrumou ninguém para ir com ele. Eu topei. Mas na minha cabeça era linha reta, não tinha noção das serras. Montamos uma mochila, a minha tinha 22 quilos. Fomos em três, o Leandro Bordignon desistiu no primeiro dia.
Boteco – Pensou em parar alguma vez?
Junio – Não. Porque quando eu saí, muita gente duvidou. Minha mãe duvidou. Porque sem apoio quase ninguém consegue. Aí eu falei: “nem que eu tenha que chegar lá com fratura exposta, sem perna, mas que eu vou chegar, eu vou”.
Boteco – Muitas histórias engraçadas?
Junio – No terceiro dia deu uma bolha no dedinho do meu pé. Cheguei na pousada, tomei um banho, passei um esparadrapo. De manhã, passei outro mais apertado. Meti o tênis, a meia, caminhamos 78 quilômetros. Aí a gente chegou, eu fui tirar o esparadrapo, falei: “vou dar um puxão”. Saiu unha, carne, arrebentou meu dedinho. Falei: “fiquei aleijado”. Aí o Bruno falou: “vai ter que parar”. Eu falei: “eu vou nem que tiver com a perna quebrada”. Doía, no dia seguinte deu febre e uma íngua na perna. Parecia uma laranja. A gente andou até umas 14h. Tomei Dipirona para baixar a febre.
Boteco – E quando se tem febre, se recomenda repouso…
Junio – É, então, tomei chuva no dia seguinte ainda. E o pior que o Bruno chorava de rir, nós pegamos um trajeto de quase 12 quilômetros de linha de trem. Você andava no dormente, entrando para Campos do Jordão, a linha não é igual aqui que tem a pedrinha pequena, são pedras grandes. E a gente estava caminhando, às vezes eu errava o passo e chutava a pedra, sempre no dedinho machucado (risos). Aí eu saía gritando, né?
Boteco – Outras histórias curiosas?
Junio – Outro fato engraçado é que saindo de Campos para Pindamonhangaba, a gente passou no meio de uma mata de pinheiro, estrada fechada. Eu estava extenuado, com fome, sede, o Bruno também. Vi um senhorzinho vindo, bem barbudo, com uma foice na mão. E três cachorros bem magros atrás. Eu pensei: será que estou delirando? Olhei para trás, o Bruno não fazia um olhar em direção ao senhor e eu estava um pouco à frente, eu passei, pensei comigo, será que é a morte? Deve ser a morte. Aí eu passei, fiquei olhando para trás, o velhinho olhou pra mim.
Boteco – Você ainda estava com febre nessa hora?
Junio – Tinha passado. Aí o Bruno olhou pra ele, eu pensei: “não é visão minha”. Aí fiquei olhando para ver se ele não ia para cima do Bruno, que estava com o bastão de caminhar. Ele ficou olhando feio, não sei se era guardião da mata…
Boteco – Alguma curiosidade em relação ao Carnaval?
Junio – Um dia fomos parar em Togos do Mogi. Chegamos lá, um palco na praça, em frente da pousada. A mulher foi mostrar o quarto, o pessoal começou a passar o som, parece que a banda estava no quarto. Falei pro Bruno: “vamos tocar o pau, andar à noite, porque aqui não vai dar pra dormir”. A gente tinha andado 50 quilômetros. Mas não era caminhada normal, você sobe uma serra parece que tá indo para o céu.
Boteco – Junio volta para relembrar episódios cômicos vivenciados em pousadas.