Mogi Mirim tem sido alvo de especulações de indústrias que, para se instalar no município, fazem exigências absurdas. Se não forem aceitas, elas ameaçam instalar-se em cidades vizinhas. Um verdadeiro leilão em que ganha a cidade que fizer oferta maior. Mas nossos administradores aprenderam com casos ocorridos no passado que não se deve aceitar exigências descabidas e comprometedoras.
Existe um exemplo datado de um século, ano de 1910, quando eram raras as indústrias em nossa cidade. Em 30 de maio daquele ano, a Câmara Municipal de Mogi Mirim recebeu um ofício da empresa Quesiti & Piagentini, propondo a instalação de uma fábrica de tecidos de algodão e outras fibras têxteis em nossa terra. Desse ofício, anotei os seguintes trechos:
“Desnecessário é enumerar os beneficiários que o estabelecimento de uma indústria nesta localidade trará a Mogi Mirim, pois é claro o novo alento que tomará a cidade”.
E os proprietários da futura indústria lembraram as condições vigentes em Mogi Mirim há um século:
“Basta lembrar que a sua decadência de alguns anos está sendo substituída por um novo e pujante renascimento, que o espírito observador vai associar à implantação das nascentes indústrias do lugar. E não longe estará o dia em que Mogy-Mirim se torne um centro populacional próspero e rico, ao abrir os braços para os homens de boa vontade e espírito empreendedor. E na fonte dessa prosperidade estará a convergência de interesses entre indústria e município, propiciando bem-estar aos habitantes”.
Continua o ofício e agora elogiando Mogi Mirim e seu futuro promissor:
“Somente as indústrias poderão elevar esta cidade ao grau de importância de que é digna, pela amenidade de seu clima, pela facilidade de sua vida, pelo seu povo hospitaleiro, pela beleza de sua topografia e excepcional colocação que dela fará quando a linha Mogyana for diretamente até a cidade de Santos, entreposto comercial obrigatório de diversas zonas”.
A empresa, nesse trecho, fez alusão aos estudos que tinham como objetivo a construção de um ramal da Companhia Mogiana e que ligaria Mogi Mirim diretamente com Santos. Esse assunto abordaremos em um próximo artigo.
A empresa destacou a importância da futura indústria:
“A tecelagem dará ocupação imediata à grande soma de operários, com 300 teares, dando trabalho a mais de 500 pessoas, inclusive mulheres e menores. Será fonte de recursos para a cidade, comércio, povo e construção civil. Lucrará o erário municipal com a afluência de novos impostos”.
Em contrapartida, a direção da futura fábrica de tecidos impôs condições:
1 – Concessão de um terreno de 10 alqueires ao lado da ferrovia.
2 – Fornecimento gratuito, por 10 anos, de energia elétrica.
3 – Isenção por 20 anos, de impostos, e de 10 anos das taxas de águas e esgoto.
4 – Autorização para construir poços e tanques para alimentar a fábrica.
5 – Concessão de prazo de dois anos para construção da fábrica.
6 – Autorização para poder transferir essas condições para futuras empresas.
Em reunião datada de 11 de julho de 1910, a Câmara decidiu aprovar parcialmente as pretensões. Mas cortou e não aprovou outras, como isenção de taxas de água e esgoto, doação de 10 alqueires, fazer concessões a terceiros interessados. Determinou ainda marcar prazo definitivo para instalação total dos 300 teares prometidos e estabelecer regras e cláusulas bem definidas e que garantissem os direitos municipais. Sobre a doação de área, informou para a empresa que a Prefeitura não dispunha de 10 alqueires, mas tinha área bem menor. Caso não interessasse, a empresa deveria adquirir por conta própria outra área.
Uma semana depois, a direção da pretendida fábrica de tecelagens oficiou à Câmara de Mogi Mirim:
“De posse do parecer da comissão dessa ilustra Câmara, a respeito de nosso requerimento de 30 de maio p.p., informamos ter estudado seu ofício e com pesar concluímos ser inteiramente impossível aceitarmos, visto cortarem-nos os elementos principais de nossa proposta”.
E concluíram dizendo que haviam recebido uma proposta melhor da Prefeitura de Pinhal para instalar naquela cidade a fábrica de tecidos.
Túnel do Tempo – 12 de outubro de 1906 – É inaugurada a “Fábrica de Cerveja e Gelo Mogi Mirim”, propriedade do major Carlos Pinho. Iria produzir cervejas pretas e brancas, chopps e refrigerantes.
Preceitos Bíblicos – “Livrai-me, meu Deus, das mãos do ímpio, das mãos do homem injusto e cruel. Confio em ti, pois tu és a minha esperança, és a minha confiança desde a minha mocidade.” (Salmo 71)
Legenda da foto – Foto de 1908 da Cervejaria do Major Carlos Pinho, localizada à Avenida Jorge Tibiriçá em Mogi Mirim. O major Pinho foi o fundador da Cervejaria Rio Claro e que produzia a famosa Caracu.