sexta-feira, novembro 22, 2024
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Leilão de Indústrias é tema da coluna de Nelson Patelli

Mogi Mirim tem sido alvo de especulações de indústrias que, para se instalar no município, fazem exigências absurdas. Se não forem aceitas, elas ameaçam instalar-se em cidades vizinhas. Um verdadeiro leilão em que ganha a cidade que fizer oferta maior. Mas nossos administradores aprenderam com casos ocorridos no passado que não se deve aceitar exigências descabidas e comprometedoras.

Existe um exemplo datado de um século, ano de 1910, quando eram raras as indústrias em nossa cidade. Em 30 de maio daquele ano, a Câmara Municipal de Mogi Mirim recebeu um ofício da empresa Quesiti & Piagentini, propondo a instalação de uma fábrica de tecidos de algodão e outras fibras têxteis em nossa terra. Desse ofício, anotei os seguintes trechos:

“Desnecessário é enumerar os beneficiários que o estabelecimento de uma indústria nesta localidade trará a Mogi Mirim, pois é claro o novo alento que tomará a cidade”.

E os proprietários da futura indústria lembraram as condições vigentes em Mogi Mirim há um século:

“Basta lembrar que a sua decadência de alguns anos está sendo substituída por um novo e pujante renascimento, que o espírito observador vai associar à implantação das nascentes indústrias do lugar. E não longe estará o dia em que Mogy-Mirim se torne um centro populacional próspero e rico, ao abrir os braços para os homens de boa vontade e espírito empreendedor. E na fonte dessa prosperidade estará a convergência de interesses entre indústria e município, propiciando bem-estar aos habitantes”.

Continua o ofício e agora elogiando Mogi Mirim e seu futuro promissor:

“Somente as indústrias poderão elevar esta cidade ao grau de importância de que é digna, pela amenidade de seu clima, pela facilidade de sua vida, pelo seu povo hospitaleiro, pela beleza de sua topografia e excepcional colocação que dela fará quando a linha Mogyana for diretamente até a cidade de Santos, entreposto comercial obrigatório de diversas zonas”.

A empresa, nesse trecho, fez alusão aos estudos que tinham como objetivo a construção de um ramal da Companhia Mogiana e que ligaria Mogi Mirim diretamente com Santos. Esse assunto abordaremos em um próximo artigo.

A empresa destacou a importância da futura indústria:

“A tecelagem dará ocupação imediata à grande soma de operários, com 300 teares, dando trabalho a mais de 500 pessoas, inclusive mulheres e menores. Será fonte de recursos para a cidade, comércio, povo e construção civil. Lucrará o erário municipal com a afluência de novos impostos”.

Em contrapartida, a direção da futura fábrica de tecidos impôs condições:

1 – Concessão de um terreno de 10 alqueires ao lado da ferrovia.

2 – Fornecimento gratuito, por 10 anos, de energia elétrica.

3 – Isenção por 20 anos, de impostos, e de 10 anos das taxas de águas e esgoto.

4 – Autorização para construir poços e tanques para alimentar a fábrica.

5 – Concessão de prazo de dois anos para construção da fábrica.

6 – Autorização para poder transferir essas condições para futuras empresas.

Em reunião datada de 11 de julho de 1910, a Câmara decidiu aprovar parcialmente as pretensões. Mas cortou e não aprovou outras, como isenção de taxas de água e esgoto, doação de 10 alqueires, fazer concessões a terceiros interessados. Determinou ainda marcar prazo definitivo para instalação total dos 300 teares prometidos e estabelecer regras e cláusulas bem definidas e que garantissem os direitos municipais. Sobre a doação de área, informou para a empresa que a Prefeitura não dispunha de 10 alqueires, mas tinha área bem menor. Caso não interessasse, a empresa deveria adquirir por conta própria outra área.

Uma semana depois, a direção da pretendida fábrica de tecelagens oficiou à Câmara de Mogi Mirim:

“De posse do parecer da comissão dessa ilustra Câmara, a respeito de nosso requerimento de 30 de maio p.p., informamos ter estudado seu ofício e com pesar concluímos ser inteiramente impossível aceitarmos, visto cortarem-nos os elementos principais de nossa proposta”.

E concluíram dizendo que haviam recebido uma proposta melhor da Prefeitura de Pinhal para instalar naquela cidade a fábrica de tecidos.

Túnel do Tempo – 12 de outubro de 1906 – É inaugurada a “Fábrica de Cerveja e Gelo Mogi Mirim”, propriedade do major Carlos Pinho. Iria produzir cervejas pretas e brancas, chopps e refrigerantes.

Preceitos Bíblicos – “Livrai-me, meu Deus, das mãos do ímpio, das mãos do homem injusto e cruel. Confio em ti, pois tu és a minha esperança, és a minha confiança desde a minha mocidade.” (Salmo 71)

Legenda da foto – Foto de 1908 da Cervejaria do Major Carlos Pinho, localizada à Avenida Jorge Tibiriçá em Mogi Mirim. O major Pinho foi o fundador da Cervejaria Rio Claro e que produzia a famosa Caracu.

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